Nascimento de Vênus
Da espuma do mar, fecundada pelo sangue de Urano nasceu uma jovem levada em primeiro lugar para a ilha de Cítera e em seguida a
Chipre. Deusa encantadora, não tardou percorrer a costa, e as flores nasciam
sob os seus pés delicados. Chama-se Afrodite (Vênus), ou Citeréia, do nome da
ilha a que aportou, ou ainda Cipris, do nome da ilha em que é honrada. Pelo
menos, é essa a tradição mais difundida, pois algumas lendas diferentes vieram
confundir-se em Vênus que, às vezes, surge como filha de Júpiter e de Dionéia.
É também a que devemos adotar, pois os artistas que representaram o nascimento
de Vênus mostram sempre a deusa no momento em que sai das vagas.
Nas pinturas antigas, Vênus é freqüentemente representada
deitada sobre uma simples concha; nas moedas, vemo-la num carro puxado pelos
Tritões e pelas Tritônidas. Finalmente, numerosos baixos-relevos no-la
apresentam seguida de hipocampos ou centauros marinhos. No século dezoito, os
pintores franceses, e notadamente Boucher, viram no nascimento de Vênus um tema
infinitamente gracioso e útil à decoração. Uma multidão de pequenos cupidos
paira nos ares ou escolta a deusa. Aliás, os pintores franceses seguiram, nesse
ponto, as tradições bebidas da Itália.
Conformando-se à narração dos poetas, Albane colocou a deusa
num carro puxado por cavalos marinhos. Assim é que ela vai ter a Cítera, onde a
aguarda Peitho (a Persuasão), que, na margem, estende os braços à jovem
viajante. Cupido está sentado perto do mar; as Nereidas e os Amores montados em
delfins formam o cortejo da deusa. Alegres Amores festejam a chegada de Vênus,
e outros esvoaçam no ar semeando flores na passagem.
Num quadro dotado de grande frescor e brilho, que faz parte
do museu de Viena, Rubens pintou a festa de Vênus em Cítera. Ninfas, sátiros e
faunos dançam em torno da sua estátua, enquanto os Amores entrelaçam guirlandas
de flores e enchem os ares de alegres cadências. Ao fundo, mostrou o pintor o
templo da deusa.
O atavio de Vênus é um tema que a arte e a poesia fixaram
bem. Enquanto as Horas estavam incumbidas da educação da deusa, as Graças
presidiam aos cuidados do seu atavio. Uma multidão de quadros reproduziu tão
encantadora cena, e os pintores não deixaram de acrescentar todos os pormenores
que lhes sugeriu a imaginação. Quando Boucher faleceu, tinha sobre o cavalete
um quadro representando o atavio de Vênus. Prudhon pintou Vênus estendida num
leito antigo e servida pelos Amores que lhe perfumam os cabelos, lhe estendem
um espelho, queimam perfumes em torno da deusa, trazem-lhe jóias e lhe
entrelaçam guirlandas de flores. Rubens também faz intervir Cupido que segura
um espelho no qual a mãe se fita; infelizmente, é uma velha que lhe arranja os
cabelos. A velhice lenta e enrugada jamais deve aproximar-se de Vênus.
Albane, que está longe de ser artista de primeira ordem, é,
no entanto, o que mais lembra, pela natureza de suas composições, as graciosas
ficções da antigüidade sobre Vênus. O Atavio de Vênus, quadro que infelizmente
escureceu, é talvez, a sua obra-prima como concepção mitológica. Num terraço, à
beira-mar, Vênus contempla-se num espelho que o Cupido lhe apresenta, enquanto
as Graças lhe perfumam a linda cabeleira, e lhe arranjam os atavios. Diante
dela está uma fonte onde o Amor faz que matem a sede duas pombas. Um palácio aéreo,
como convém a Vênus, aparece no fundo de um tanque, ao passo que, nas nuvens,
Amores alados atrelam cisnes brancos ao carro de ouro que vai conduzir o
passeio a deusa, e enchem os ares dos seus melodiosos concertos.
Tipo e Atributos de Vênus
"O culto sírio de Astarte, diz Ottfried Mueller,
parece, encontrando na Grécia alguns inícios indígenas, ter dado nascimento ao
culto célebre e difundido por toda parte de Vênus Afrodite. A idéia fundamental
da grande deusa Natureza, sobre a qual ela repousava, nunca se perdeu
inteiramente; o elemento úmido que formava no Oriente o império reservado a
essa divindade continuou a ser submetido ao poder de Vênus Afrodite nas costas
e nos portos em que era venerada; sobretudo o mar, o mar tranqüilo e calmo,
refletindo o céu no espelho úmido das suas ondas, parecia, aos olhos dos
gregos, uma expressão de sua divinal natureza. Quando a arte, no ciclo de
Afrodite, deixou para trás as pedras grosseiras e os ídolos informes do culto
primitivo, a idéia de uma deusa cujo poder se estende por toda parte e à qual
ninguém pode resistir, animou as suas criações; gostava-se de representá-la
sentada num trono, segurando nas mãos os sinais simbólicos de uma natureza
repleta de mocidade e esplendor, de uma luxuriante abundância; a deusa estava
inteiramente envolta nas dobras das suas vestes (a túnica mal lhe deixava à
mostra uma parte do seio esquerdo) que se distinguiam pela elegância, pois
precisamente nas imagens de Vênus, a graça rebuscada das vestes e dos
movimentos parecia pertencer ao caráter da deusa. Nas obras saídas da escola de
Fídias, ou produzidas sob a influência dessa escola, a arte representa em
Afrodite o princípio feminino e a união dos sexos em toda a sua santidade e
grandeza. Vê-se ali, antes, uma união durável formada com o fito do bem geral,
e não uma aproximação efêmera que deve terminar com os prazeres sensuais que
ele proporciona. A nova arte ática foi a primeira que tratou do tema de
Afrodite com um entusiasmo puramente sensual, e que divinizou, nas representações
figuradas da deusa, já não mais apenas um poder ao qual o mundo inteiro
obedecia, mas antes a individualidade da beleza feminina."
Vênus dá leis ao céu, à terra, às ondas e a todas as
criaturas vivas. "Foi ela que deu o germe das plantas e das árvores, foi
ela que reuniu nos laços da sociedade os primeiros homens, espíritos ferozes e
bárbaros, foi ela que ensinou a cada ser a unir-se a uma companheira. Foi ela
que nos proporcionou as inúmeras espécies de aves e a multiplicação dos
rebanhos. O carneiro furioso luta, às chifradas, com o carneiro. Mas teme ferir
a ovelha. O touro cujos longos mugidos faziam ecoar os vales e os bosques
abandona a ferocidade, quando vê a novilha. O mesmo poder sustenta tudo quanto
vive sob os amplos mares e povoa as águas de peixes sem conta. Vênus foi a
primeira em despojar os homens do aspecto feroz que lhes era peculiar. Dela foi
que nos vieram o atavio e o cuidado do próprio corpo." (Ovídio).
Vênus Celeste e Vênus Vulgar
Pausânias, na sua descrição de Tebas, assinala várias
estátuas de Vênus, da mais alta antigüidade, pois haviam sido feitas com o
lenho dos navios de Cadmo e consagradas pela própria Harmonia. "A
primeira, diz ele, é Vênus celeste, a segunda Vênus vulgar, e a terceira é
chamada preservadora. Foi a própria Harmonia que lhes impôs tais nomes para
distinguir essas três espécies de Amores: um celeste, ou seja, casto, outro
vulgar, ou seja, preso ao corpo, o terceiro desordenado, que leva os homens às
uniões incestuosas e detestáveis. Era à Vênus preservadora que se dirigiam as
preces para a preservação dos desejos culposos." (Pausânias).
Temos interessante exemplo desse último aspecto de Vênus,
numa decisão do senado romano, o qual, segundo os livros sibilinos consultados
pelos decênviros, ordenara a dedicação de uma estátua de Vênus vesticordia
(convertedora), como meio de reconduzir as moças devassas ao pudor do sexo.
(Valério Máximo).
A tartaruga, emblema da castidade das mulheres, era
consagrada a Vênus celeste, e o bode, símbolo contrário, consagrado à Vênus
vulgar. As imagens da deusa, que se encontravam em todas as casas, eram, além
de tudo, acompanhadas de inscrições que indicavam o seu caráter. Eis aqui uma
que chegou até nós: "Esta Vênus não é a Vênus popular, é a Vênus urânia. A
casta Crisógona colocou-a na casa de Amphicles, a quem deu vários filhos,
comoventes penhores da sua ternura e fidelidade. Todos os anos, o primeiro
cuidado desses felizes esposos é de vos invocar, poderosa deusa, e em prêmio da
sua piedade, todos os anos lhes aumentais a ventura. Prosperam sempre os
mortais que honram os deuses." (Teócrito).
Vênus celeste está caracterizada pela veste estrelada.
Vemo-la figurada numa pintura de Pompéia onde está representada de pé com um
diadema na cabeça e um cetro na mão. O famoso escultor Scopas fizera para a
cidade de Élis uma Vênus vulgar que pusera sentada sobre um bode; figura
análoga se encontra em outra pedra gravada antiga. No século XIX, o pintor
Gleyre compôs um belíssimo quadro sobre o mesmo tema. Essa Vênus era sobretudo
honrada em Corinto, cidade marítima que sempre se celebrizou pelas cortesãs.
Ali é que vivia a famosa Laís, em torno da qual se lê a seguinte epigrama na
Antologia: "Eu, altiva Laís, de quem a Grécia era joguete, eu que tinha à
porta um enxame de jovens amantes, consagro a Vênus este espelho, pois não
desejo ver-me tal qual sou, e já não posso ver-me tal qual era."
Encontra-se na mesma coletânea outro trecho ainda mais
interessante: "Minarete, que há pouco estendia os fios da trama e sem
cessar fazia ressoar a lançadeira de Minerva, acaba de consagrar a Vênus o seu
cesto de trabalho, as suas lãs e os seus fusos, todos os instrumentos seus de
labor, queimando-os no altar: "Desaparecerei, exclamou, instrumentos que
deixais morrer de fome as pobres mulheres e murchais a beleza das jovens!”Depois,
pegou coroas, um alaúde e pôs-se a levar vida alegre nas festas e nos
banquetes. "Ó Vênus, diz ela à deusa, hei de trazer-te o dízimo dos meus
benefícios; proporciona-me trabalho no teu interesse e no meu."
(Antologia).
Pigmaleão e a sua Estátua
A ilha de Chipre era particularmente renomada pelas
cortesãs. O escultor Pigmaleão que ali vivia sentiu-se de tal modo
impressionado com a desfaçatez das mulheres do país, que resolver viver no
celibato. Mas como a sua imaginação sonhasse constantemente com uma formosura
de caráter diferente, esculpiu uma estátua de marfim, representando uma mulher
que à castidade de expressão unia a pureza das formas. A imagem lhe agradou
tanto, que por ela se apaixonou; infelizmente faltava a vida àquela pudica
beleza, e quando Pigmaleão contemplava as mulheres vivas via nelas a beleza mas
nunca o pudor. Ao chegar o dia da festa de Vênus, dia que com tamanha
magnificência se celebra na ilha de Chipre, Pigmaleão dirigiu-se ao templo da
deusa, que encontrou perfumado com incenso, e rodeado de novilhas brancas,
cujas pontas haviam sido douradas e que seriam imoladas. "Grande deusa,
exclamou abraçando o altar, faze com que me torne marido de mulher perfeita como
a estátua que esculpi!"
Parece que não estava em poder da deusa descobrir em Chipre
mulher provida da casta beleza sonhada pelo artista, pois Vênus, para lhe ser
agradável, preferiu recorrer ao milagre. Com efeito, quando o escultor voltou,
foi abraçar a estátua, e viu-lhe as faces corar: o marfim amoleceu-se e a
estátua animou-se. Pigmaleão, encantado, agradeceu à deusa, que desejou
pessoalmente assistir ao himeneu.
A história de Pigmaleão constitui o tema do último quadro
pintado por Girondet, e que figurou no salão de 1819. Não se imagina a
quantidade de brochuras aparecidas desde então para louvar ou criticar o
pintor. O mais interessante foi que os médicos houveram por bem mesclar-se à
discussão, e examinar, com ridícula seriedade, a questão de saber se o artista
tivera razão em animar, primeiramente, a cabeça da estátua, cujas pernas
continuam ainda de marfim, e se teria sido mais conveniente fazer recomeçar a
vida pelo peito, que encerra o coração e os pulmões.
A estátua animada por Pigmaleão deu-lhe um filho que foi
fundador de Pafos, cidade de Chipre, célebre pelo culto ali prestado a Vênus.
Vênus de Cnido
Na origem, não se tinha o hábito de representar Vênus, no
instante em que sai da espuma do mar, ou seja, inteiramente nua. Assim, foi a
obra de Praxíteles considerada novidade, e a própria deusa testemunha, pela
boca de um antigo autor, o espanto por se ver assim desprovida de vestes.
"Mostrei-me a Páris, Anquises e Adônis é verdade; mas onde foi que
Praxíteles me viu?" (Antologia).
Narra Plínio que Praxíteles, a quem os habitantes de Cos
haviam encomendado uma Vênus, lhes deu a escolher entre duas estátuas, uma das
quais estava vestida, ao passo que a outra estava nua. Preferiram-nos a
primeira, e Praxíteles vendeu a segunda aos habitantes de Cnido que se
congratularam com a compra, pois ela granjeou reputação e fortuna ao país. A
Vênus de Cnido parece ter sido o tipo da maioria das estátuas da deusa, quando
se representava no momento do nascimento. O Júpiter de Fídias e a Vênus de
Cnido por Praxíteles eram considerados, nos diferentes gêneros, dois produtos
dos mais perfeitos da escultura. Dizia Plínio: "De todas as partes da
terra, navega-se em direção a Cnido, para contemplar a estátua de Vênus."
O rei Nicomedes ofereceu aos cnidianos, em troca da estátua, a totalidade das
dívidas deles, que eram importantes. Recusaram a oferta, e com razão,
acrescenta Plínio, pois a obra-prima constitui o esplendor da cidade. Uma
multidão de escritores da antigüidade nos legou sinais da admiração que lhes inspirava
a obra-prima para a qual se fizera a seguinte inscrição: "Ao verem a Vênus
de Cnido, Minerva e Juno disseram uma à outra: Não acusemos mais Páris."
Entre as numerosíssimas estátuas que podem prender-se à
mesma série, a mais famosa é a Vênus de Médicis, situada na tribuna da Galeria
de Florença. Eis a descrição que dela fazia o catálogo do Louvre, onde figurou
durante quinze anos: "A deusa dos Amores acaba de sair da espuma do mar,
onde nasceu; a beleza virginal aparece, na margem encantada de Cítera, sem
outro véu que a atitude de pudor. Se a cabeleira lhe não flutua sobre os
divinos ombros, é por que as Horas, com as suas mãos celestiais, acabam de lha
arranjar (Hino homérico). Um delfim e uma concha estão aos seus pés: são os
símbolos do mar, elemento natal de Vênus. Os dois Amores que o encimam não são
os filhos da deusa. Um deles é o Amor primitivo (Eros) que desemaranhou o Caos;
o outro é o Desejo (Himeros) que aparecera no mundo ao mesmo tempo em que o
primeiro ser sensível. Ambos a viram nascer e jamais se lhe afastaram dos
passos (teogonia de Hesíodo). A Vênus de Médicis tem as orelhas furadas, como
já se observou em outras estátuas da mesma deusa; sem dúvida pendiam delas
esplêndidos brincos. O braço esquerdo conserva no alto o sinal evidente do
bracelete chamado spinther, representado em escultura em várias das suas
imagens. Uma inscrição colocada sobre o plinto nos diz que o autor da Vênus de
Médicis é Cleômenes, ateniense, filho de Apolodoro."
Vênus nem sempre está de pé quando sai das águas, e uma
numerosa série de estátuas, ordinariamente designadas com o nome de Vênus
agachadas, apresenta-nos a deusa apoiando um dos joelhos ao chão para tornar a
erguer-se. O nome da Vênus no banho também lhe é atribuído. Quando a deusa
aperta a cabeleira úmida, chamam-lhe de Vênus anadiomene. Apeles fizera uma
Vênus anadiomene da qual os antigos elogiavam bastante a beleza. Os habitantes
de Cos exigiram outra Vênus semelhante, do mesmo artista, mas ele morreu
deixando a obra incompleta.
A Vênus de Apeles foi celebrada várias vezes na Antologia:
"Esta Vênus, que sai do seio materno das águas, é obra do pincel de
Apeles. Vê como, pegando com a mão a cabeleira molhada, espreme a água! Agora
as próprias Juno e Minerva dirão: "Não queremos mais disputar-lhe o prêmio
da beleza." (Antologia).
Vênus Genitrix
Considerada como geradora do gênero humano, Vênus está
sempre vestida. Nas estátuas, as dobras da sua veste indicam freqüentemente que
está molhada, e às vezes traz um dos seios descobertos, por ser a nutris
universal. As medalhas a mostram vestida e com os dois seios cobertos, mas ela
está freqüentemente acompanhada de um menino: a deusa, nesse caso, recebe o
nome de Vênus genitrix. Temos no Louvre uma bela estátua de Vênus genitrix com
um seio descoberto; de resto, o mesmo tipo se encontra quase idêntico em vários
museus.
Vênus Vitoriosa
Dá-se este nome a Vênus quando ela usa as armas de Marte.
Com efeito, vemos, em várias pedras gravadas, uma figura de Vênus segurando na
mão um capacete. Às vezes está ainda acompanhada de um escudo ou de troféus de
armas. Outras, segura numa das mãos o capacete, e na outra uma palma. Essas
figuras nos mostram sempre Vênus triunfante contra Marte, como conseqüência da
mesma idéia que deu nascimento à lenda de Hércules fiando aos pés de Onfales. É
sempre a beleza a dominar a força.
A associação de Marte e Vênus está igualmente fixada em duas
pinturas de Herculanum, onde se nos deparam Amores preparando o trono das duas
divindades. Um capacete está representado no trono de Marte e uma pomba no de
Vênus. A pomba é, com efeito, o atributo especial de Vênus, como o capacete é o
atributo de Marte.
Colocam-se, igualmente, entre as Vênus vitoriosas uma série
de estátuas que só têm vestes para cobrir os membros inferiores, e que têm por
caráter determinante a colocação de um dos pés sobre uma pequena elevação. Tal
postura implica a idéia da dominação sobre Marte, quando é um capacete que
suporta o pé, e sobre o mundo, quando ele se apóia simplesmente num rochedo.
Neste caráter, não tem a deusa a graça que se lhe dá como Vênus nascente; pelo
contrário, assume as atitudes de heroína. As formas do corpo estão repletas de
vigor e força, e as feições possuem uma expressão de brutalidade desdenhosa
muito distante do sorriso. A Vênus de Milo é considerada o tipo mais completo
dessa classe de estátuas. A beleza grave e sem afetação de tal figura nada tem
do agradável coquetismo que a maioria dos artistas dos últimos séculos
considera apanágio essencial da mulher. Foi no mês de fevereiro de 1820 que um
pobre camponês grego a descobriu, remexendo as terras do seu jardim. A estátua,
feita de mármore de Paros, está constituída por dois blocos cuja união se
oculta mediante as dobras da túnica
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