Informação e cursos preparatórios para professores são necessários para evitar problemas de intolerância
O possível caso de bullying envolvendo um aluno de 15 anos
da Escola Estadual Antônio Caputo, em São Bernardo, levanta a discussão sobre a
forma como deve ser tratada a questão da religião dentro das instituições de
ensino.
O estudante afirma que a professora de História Roseli Tadeu
Tavares de Santana utilizava vinte minutos da aula para falar sobre a sua
religião e fazer pregações. Como o adolescente era contra e praticante de
Candomblé começou a sofrer discriminação religiosa.
As escolas estaduais não são orientadas por nenhuma religião
e o proselitismo religioso nas unidades é vetado, de acordo com a Secretaria de
Estado da Educação. Se a escola é laica, mas há divergências entre o que a
instituição de ensino propõe e a prática de professores, a solução então, é
alertar e formar melhor os profissionais.
“A sala de aula é um local para reflexão, não para culto.
Muitas vezes, ao ensinar história, esbarramos na questão da história de algumas
religiões, mas o que devemos fazer é convidar os alunos para refletirem e
discutirem a religião com base na ciência e não na fé. Temos que tomar muito
cuidado, principalmente nos dias de hoje, com a enorme pluralidade de crenças
dos alunos”, defendeu o coordenador do curso de História da Fundação Santo
André, José Amilton de Souza.
Para o professor Jung Mo Sung, diretor da Faculdade de
Humanidades e Direito da Universidade Metodista de São Paulo, em alguns casos
até existe boa vontade dos professores de compartilhar sua orientação
religiosa, mas os problemas acontecem quando se esquecem que a sala de aula não
é local para isso.
“O que acho que existe é uma confusão sobre o que é espaço
público. A escola, principalmente a pública, não é lugar para fazer culto. Não
se pode obrigar os alunos a participarem de cultos a não ser que faça parte da
orientação pedagógica da grade curricular, por exemplo, pedir para que
participem de várias celebrações de algumas religiões para que se discuta
determinados aspectos em sala de aula”, explicou.
Informação contra condutas impróprias nas salas de aula
Para ajudar as instituições de ensino a combaterem os
problemas causados pelo bullying, a AESP-ABC (Associação das Escolas
Particulares do Grande ABC) faz seminários e cursos sobre prevenção. “Sabemos
que os jovens são cruéis e que é da idade começarem com brincadeiras de todo o
tipo, inclusive de cunho religioso. É preciso, no entanto, instruir os
professores sobre o que é tolerável e o que não. A conduta profissional também
é importante porque se a escola é laica, deve-se seguir esta regra”, afirmou a
presidente da entidade, Oswana Fameli.
O Colégio Metodista, de São Bernardo, orienta professores e
alunos sobre intolerância religiosa e outras questões individuais para evitar
bullying e preconceitos.
Mesmo com orientação religiosa assumida, a instituição faz
questão de tratar de religião apenas na disciplina específica. “Não somos
obrigados a seguir os parâmetros curriculares nacionais para montar nossas
aulas de religião porque somos uma instituição com orientação. No entanto,
mesmo assim os seguimos e proporcionamos aulas nas quais são abordadas as
histórias de inúmeras religiões e crenças. O que passamos para os alunos de
modo geral são valores universais”, disse o reverendo Luiz Eduardo Prates, coordenador
da Pastoral Universitária e Escolar.
Ainda de acordo com o porta-voz da instituição, todos os
professores quando são contratados passam por orientação na qual é mostrada a
importância do “amplo respeito à diversidade de escolhas”. “Temos inúmeros professores
que não possuem religião e outros que possuem orientações religiosas diferentes
da nossa. Estimulamos o diálogo entre alunos e professores para que não haja
problemas.”
Fonte: Diário de São Paulo, por Derla Cardoso
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