03 novembro, 2006

O Deus Cornífero

O Deus Cornífero possui inúmeros nomes. Ele é chamado de Consorte da Deusa, Doador de Vida, Senhor da Morte e Ressurreição, Deus das Sementes, Flores e Frutas, Antigo Deus da Fertilidade, o Senhor da Dança.
Ele é conhecido por Cernunnos, Herne, Pan, Osíris, e outros incontáveis nomes.
O Deus é adorado sob muitas formas e nomes, mas o aspecto predominante venerado por nossos antepassados foi o Deus Cornífero. O homem do período Paleolítico de 12 mil anos atrás retratou inúmeras vezes nas paredes das cavernas o Deus Cornífero da Caça, um ser meio homem meio animal.
O Deus Cornífero teve uma força dominante, mesmo depois do aparecimento de novos Deuses. Esse poderoso arquétipo continuou existindo durante 10 mil anos, depois de aparecer primeiramente em pinturas rupestres nas paredes das cavernas.

Chifres sempre foram sinais de algo Divino. Na Babilônia, o grau de importância dos Deuses era identificado pelo número de chifres atribuídos a Ele. Um exemplo principal é Ishtar, uma antiga Deusa, detentora de sete chifres.
Alexandre, o Grande, se declarou um Deus depois de tomar o trono do Egito e, para demonstrar o seu poder, encomendou uma pintura sua ornada de chifres de carneiro. O Alcorão chama Alexandre de “Iskander Dh’l Karnain”, que quer dizer “Alexandra dos dois chifres”. Uma alusão ao seu nome é preservada até hoje em Tradição Alexandrina, na qual o Deus é chamado de Karnayana.

O Deus Cornífero simboliza a força masculina da Natureza. Ele é a “contraparte” da Deusa. Nós, Wiccanos, vemos o Deus representado pelo Sol. Desde tempos imemoráveis, as mudanças das estações foram percebidas como padrões diferentes de calor do Sol ou, então, do Deus. Nós, Bruxos, celebramos as mudanças das estações com rituais especiais, chamados de Sabbats, que ocorrem oito vezes por ano. Embora o Sol e o Deus ainda sejam vistos como originadores dessas mudanças, a Deusa também é venerada nessas ocasiões, pois é através Dela (a Terra) e Dele (a semente fertilizada e o Sol fertilizador) que todos seremos nutridos.
O Deus Cornífero é representado por um homem com cabeça de humano e pernas e chifres de cabra ou cervo. Nos tempos antigos Ele era invocado antes de o homem sair para caçar, para abençoar o caçador com sucesso e fartura. O Deus Cornífero não é só o Caçador, mas também é considerado a própria caça. Ele era visto como um animal sacrifical, imolado para que o Clã pudesse sobreviver durante os sucessivos meses de inverno. Ele é o Sol durante o dia, mas também é o Sol da meia-noite. Ele é o Senhor da Luz, mas também da Escuridão da noite, das Sombras, das profundidades da floresta, das profundezas do submundo.

Ele era reverenciado e invocado antes das sementes serem plantadas e novamente quando eram colhidas. Ele se mostra na terra vivente, na grama, nas árvores e na vinha. Esse aspecto é o Deus da Morte, que é enterrado como semente e que ressurge novamente verde e jovem na Primavera, renascido do Útero da Grande Mãe. Ele se mostra também nas colinas estéreis e frias, nos ventos indomáveis e nas planícies de Inverno.
O Deus Cornudo é o espírito de vegetação, das coisas verdes e crescentes, da floresta e do campo. Dionísio, Adonis e muitos outros Deuses da vegetação e colheita eram freqüentemente descritos como cornudos e eventualmente usavam chifres de touro, cabra, carneiro ou veado.

Muitos Wiccanos chamam o Deus de Cernunnos, que é a versão Céltica e Galo-romano do Deus Cornífero. Um altar para Cernunnos foi descoberto debaixo do que é agora a Catedral de Notre-Dame, em Paris, França. Herne, o Caçador, também é usado freqüentemente para designar o Deus. Muitas variações dos nomes do Deus aparecem como nomes de alguns lugares na Inglaterra. Cerne Abbas, na Inglaterra meridional, é um exemplo.
O Deus Cornífero foi transformado no “Diabo” cristão por aqueles que foram tentar difundir sua fé na Europa Antiga. Muito antes de o cristianismo emigrar dos desertos de Jerusalém, o Deus Cornífero era tido como o símbolo da vida, da sexualidade, do êxtase, da liberdade e da indomabilidade.
Muitas deidades Pagãs foram absorvidas pelo cristianismo. Porém, o Deus Cornífero transpareceu num semblante ameaçador os primeiros cristãos. Ele era um Deus animalesco e sexual. Uma Divindade da noite e da floresta. Considerando que o Cristianismo era uma religião praticada durante o dia, em templos, ele não teve lugar e teve que ser excluído. O Cristianismo viu a sexualidade como a escuridão e o mal, e o Deus Cornífero foi identificado como o princípio do mal, chamado por eles de Diabo. Ainda assim, o Deus Cornífero sobreviveu por séculos de supressão e difamação.

Consideremos os muitos modos nos quais o Deus Cornudo sobreviveu. O folclore o retratou como Robin Goodfellow e Puck. Puck é o personagem principal em Sonho de uma Noite de Verão, peça na qual Shakespeare desenvolveu em um dia de Sabbat (Solstício de Verão-Litha) a trama da história. O Homem Verde (Green Man) ainda é venerado em celebrações e é um símbolo comum achado nas paredes das tavernas na Inglaterra.

Ele é forte e poderoso, mas não deve ser temido. O corpo dele é de um homem, mas os seus pés são patas, e os chifres capturam os poderes dos céus, do Sol e das estrelas. Ele é Deus do constante renovar, do movimento eterno, e é considerado a própria força crescente de vida. O Deus Cornífero é o caçador, o guerreiro, o gerador, o Rei da terra, e representa ao mesmo tempo as mudanças e verdades.
É o Deus visto com características duais. Ele é o Deus do Verão e do Inverno. Ele é o Rei do Sol, o Rei do Milho e o Homem Verde, honrados no Verão. Ele é o Senhor do Submundo, o Caçador, o Pastor e o Curandeiro, na sua face do Inverno. Ele é o Sol renascido no Solstício de Inverno que traz vida e alegria, mas também o Senhor da Luz e da Morte.


Entrando em Contato com as Faces do Deus


Sou o brilhante Deus, Senhor do Sol, Mestre de tudo aquilo que é Selvagem e livre, Pai das mulheres e homens, Amante da Deusa Lua.
Sou o som que você desconhece, mas que te chama.
Sou quem, no sono profundo, reacende os mistérios noturnos.
Resido dentro de você.
Venha, adentre em meu mundo e conhecerá a ti mesmo.


Entrar em contato com a energia do Deus é um processo vital para a recuperação de nossos dons perdidos ou esquecidos.
O Deus Conífero é o Senhor da fauna, flora e animais e nos coloca em contato com o nosso lado mais animalesco e primitivo, capaz de nos conduzir ao centro de nossos mais puros instintos e vitalidade plena.
O Deus, assim como a Deusa, possui também três aspectos: o Cornífero, o Homem Verde e o Ancião.
Cada uma das faces do Deus está associada a um período da evolução humana e de nossa própria vida.
Meditar com o Deus nos traz a possibilidade de contatarmos o nosso Eu mais profundo. Isso traz um processo de integração total com a Natureza e os seus ciclos, além de possibilitar uma maior interação com a vida e a humanidade como um todo.
O Cornífero
É a face do Deus que exerce domínio sobre as florestas. Ele é a representação da Natureza intocada e de tudo o que é livre. Nesse aspecto o Deus assume a face de Caçador e representa a renovação, virilidade, força, fertilidade e vitalidade. O Cornífero exerce domínio sobre os animais selvagens e ferozes. Esteve em contato direto com a humanidade principalmente nos períodos Neolítico e Paleolítico, onde os homens subsistiam principalmente da caça.


Os exemplos associados à face de Cornífero do Deus:


Cernunnos: Deus celta, portador de chifres é regente dos animais selvagens e bosques. Está associado à fertilidade e fartura.
Pan: Deus grego dos campos e bosques. Está associado à vegetação, ao êxtase e ao vigor sexual.
Dionísio: Deus grego que assumia a forma de touro ou bode, ambos símbolos da fertilidade. Está associado à fertilidade e tinha a capacidade de morrer e renascer.


Esus: Deus celta associado ao touro, que era acompanhado freqüentemente por três pássaros. Posteriormente, foi identificado como Cernunnos. Está associado ao Submundo e muitas vezes era representado brandindo um machado contra uma árvore.
Odin: Deus germânico associado à magia, à guerra e ao êxtase. Muitas vezes é representado portando um capacete de chifres e acompanhado por um cervo.
Temas de rituais que usam o aspecto de Cornífero do Deus:


• Resgatar energia e proteção.


• Atrair coragem, garra e vigor.


• Começar um novo trabalho ou qualquer outro empreendimento.


• Trazer fertilidade e gravidez.


• Requerer o senso de comunidade ou família.


• Livrar-se de estresse.


• Invocar os poderes da fartura e prosperidade.


• Atrair o vigor sexual.


• Aumentar a percepção, os sentidos e instintos.


• Centralizar.


• Estabilizar situações.


• Resolver problemas difíceis.


• Neutralizar a inércia em uma dada situação.


• Atrair a prosperidade e riqueza.


• Trazer o poder da razão.


Meditando com o Cornífero


Material necessário:
• Uma vela marrom;


• Um tambor;


• Bastão.


Procedimento: Acenda a vela sobre o seu Altar. Trace o Círculo e invoque o Deus com o seu Bastão, dizendo:


Chamo por Aquele que domina os campos, as montanhas, os vales e as charnecas, o Deus Cornífero, Senhor da alegria e fertilidade para que esteja comigo.
Senhor dos sete galhos sagrados,
Venha a mim
Senhor dos animais,
Venha a mim.
Caçador de chifres da meia-noite,
Venha a mim.
Condutor da Eterna Dança,
Venha a mim.
Touro negro do anoitecer,
Venha a mim.
Astado Divino, Doador da vida,
Venha a mim!


Olhe fixamente para a chama da vela e comece a tocar o tambor. Deixe sua consciência divagar por onde quiser, indo rumo a um bosque. Sinta as batidas do tambor e deixe que elas o levem até esse bosque.
Siga as batidas do instrumento e cada vez bata mais forte, sentindo o coração da Terra pulsar através das batidas do tambor, e caminhe através da sua mente ao bosque.
Ao chegar, peça mentalmente que o Deus se apresente a você na sua face de Cornífero. Continue tocando o tambor, mas preste atenção ao bosque até que o Deus decida se aproximar de você.
Quando ele se aproximar, converse com Ele, peça-lhe instruções e diga por que você foi ao encontro Dele. Seja sincero.
O Deus conversará com você e o instruirá sobre como agir em relação à solicitação feita por você.
Peça que Ele doe um pouco de seu poder e vitalidade a você. O Deus então lhe estende a mão e quando a abre você vê um objeto, um símbolo, ou algo semelhante. O Deus entrega para você. Esse é o portal de acesso pelo qual você poderá invocar a energia do Deus quando necessário. Guarde-o, e, se possível, reproduza esse objeto ou símbolo em madeira, pedra ou metal e tenha-o sempre junto de você.
Continue tocando o tambor. Aos poucos o Deus se afasta. Agradeça a Ele pela presteza com que atendeu ao seu chamado e deixe-o seguir.
Continue tocando o tambor e deixe que suas batidas o tragam de volta à sua consciência normal. Bata cada vez mais rápido e intensamente e sinta-se voltando a ela.


Quando se sentir centrado, abra os olhos e agradeça mentalmente mais uma vez ao Deus.
Deixe a vela queimar até o fim em homenagem ao Cornífero.


O Homem Verde
O segundo aspecto do Deus é o Homem Verde (Green Man), Ele é o Senhor da Colheita e de toda a Natureza cultivada. Está relacionado aos grãos e ao desenvolvimento da agricultura. Exerce domínio sobre a vida e o crescimento das plantas. É ele que nos traz a alegria, a felicidade. Está associado aos excessos e ao êxtase provocado pelo vinho, tão sagrado para as culturas primitivas. Nessa face Ele assume vários papéis, principalmente o de Filho e Amante da Deusa.
Os exemplos associados à face do Homem Verde do Deus são:


Green Man: Uma Divindade que aparece em várias representações como um homem coberto de folhas. Está associado às florestas, à alegria, à descontração. Sua face com múltiplas folhas aparece em construções de antigas tabernas, espalhadas por toda a Europa, representando a sua ligação com a embriaguez através do vinho. É o portador de alegria.
Baco: Deus romano da fertilidade e do vinho. Suas cerimônias sagradas, as bacanais, eram marcadas por excessos de todos os tipos, principalmente os alcoólicos.


Dionísio: Aparece muitas vezes como o Deus da embriaguez. Segundo as crenças gregas, ele era o criador do vinho e suas Sacerdotisas, as Mênades, corriam e dançavam nuas pelos bosques, atordoadas pelo efeito do vinho (tido como o próprio Deus), agitando tochas e bastões de tirso nas mãos, em homenagem ao Deus.


Sileno: O tutor de Dionísio e o líder dos Sátiros. Muitas vezes representado como um Deus careca e barrigudo. Está relacionado à fertilidade e ao êxtase, em todas as suas manifestações.


Temas de rituais que usam a face de Homem Verde do Deus:


• Invocar a mudança da essência de espírito.


• Invocar a energia de descontração.


• Atrair felicidade.


• Estabelecer transformações necessárias.


• Atrair o otimismo e a alegria.


• Invocar as energias de expansão e prosperidade.


• Aumentar a sensualidade, o erotismo e a espontaneidade.


• Libertar-se dos grilhões impostos pela sociedade.


• Abrir os caminhos para atrair oportunidades na vida.


• Atrair a jovialidade e o entusiasmo.


Meditando com o Homem de Verde

Material necessário:


• Uma vela verde;
• Cálice com vinho;
• Folhas verdes.

Procedimento: Coloque a vela sobre o Altar. Trace o Círculo Mágico e então a acenda. Espalhe as folhas sobre o Altar enquanto invoca o Deus com as seguintes palavras:

Invoco a ti, Homem Verde dos bosques e das vinhas.
Invoco-o para que venha do seu mundo para compartilhar sua alegria e felicidade comigo.
Venha, Deus da face de folhas,
Deus que caminha entre as folhagens,
Quem semeia e faz brotar!
Invoco-o, Senhor.
Venha, compartilhe sua satisfação comigo.


Feche os olhos, respire profundamente por três vezes.
Imagine-se indo a direção a uma mata virgem. Sinta a energia mágica e comungue com os Espíritos da Natureza que residem nesse lugar.
Sinta o cheiro das folhas, das árvores e da terra.
Coloque a sua mão esquerda no tronco de alguma árvore frondosa que você encontrar no caminho e leve a mão direita em direção ao seu peito. Sinta o poder que ela tem de revigorar as energias e renovar. Absorva o poder da Natureza. Aos poucos você percebe que a sua mão não toca mais em um tronco, mas sim a mão de um homem todo vestido de folhas, com o rosto coberto por elas, aparecendo só os olhos dele. Ele é o Homem Verde, o Green Man, o Senhor das folhas verdes e das florestas. Ele sorri para você e lhe transmite todo seu poder de alegria e vida através do seu toque.
Ele veio dos reinos escondidos abençoá-lo com a sua magia.
Permaneça algum momento sentindo a energia do Deus através de seu toque. Dialogue mentalmente com Ele. Peça-lhe conselhos deixe que Ele o instrua.
Continue absorvendo a energia e deixe-se levar pelas lembranças de quando era criança, feliz e inocente. Como a sua infância se reflete na sua vida atual? Você vive a sua criança interior em todas as suas potencialidades? Reflita. Busque respostas junto ao Homem Verde para os seus problemas e as soluções para resolvê-los. Deixe Ele aconselhá-lo.
Quando tiver conversado tudo o que for necessário, agradeça ao Deus. Muitas brumas começam a se formar ao seu redor até que você consiga mais ver nada, mas você continua segurando a mão do Deus Verde. Aos poucos as brumas vão se dispersando e você percebe que não está mais segurando a mão do Deus, mas, sim, tocando o tronco forte da árvore novamente.
Agradeça aos Espíritos da Natureza e retorne pelo mesmo caminho que você trilhou para chegar lá.
Respire profundamente três vezes e abra os olhos.


O Ancião
O Ancião é a terceira face do Deus e representa o conhecimento acumulado e a sabedoria. Exerce domínio sobre os conhecimentos ocultos e sobre a Magia. Ele é o Deus das Sombras, aquele que conduz as almas dos homens ao Outro Mundo. Está relacionado ao início das civilizações.

Os exemplos associados à face de Ancião do Deus são:
Dagda: O bom Deus dos celtas irlandeses. É o Deus que ocupa lugar preponderante entre os Tuatha de Dannan. Seu título “Ollathir” significa “Pai de todos”.
Cronos: Deus grego do tempo e do destino dos homens. Ele castrou seu pai, Urano, e assumiu o domínio do mundo. Para não perder seu trono engoliu todos os seus filhos, menos Zeus, que mais tarde o suplantou e tornou-se o grande pai dos Deuses.
Teutates: O mais poderoso dos aspectos do Deus, entre os celtas, Teutates está associado às guerras, mas aparece muitas vezes como um Deus da fertilidade e abundância. Era considerado o Rei do Mundo.

Plutos: Deus grego das riquezas. Em uma de suas lendas ele aparece como um velho cego que distribui riquezas e presentes de maneira aleatória e injusta.

Temas de rituais que usam de Ancião do Deus:

• Atrair conhecimento de todas as ordens.

• Entrar em contato com a sabedoria ancestral

• Aumentar o poder de magia inerente a cada um de nós.

• Encontrar soluções para os problemas.

• Transmutar energias.

• Transformar situações

• Banir energias maléficas.

• Afastar inimigos e pessoas indesejadas.

• Afastar o azar.

• Revelar segredos.

• Estabelecer ligação com o inconsciente.

• Necessitar de proteção.

Meditando com o Ancião

Material necessário:

• Uma vela preta;
• Um cajado;
• Uma túnica preta com capuz.

Procedimento: Coloque a sua túnica, trace o Círculo Mágico e acenda a vela preta. Bata três vezes no solo com o cajado, chamando o Deus Ancião:

Senhor que caminha nos reinos ocultos,
Eu chamo você.
Sombras, voz que me chama,
Deus que revela o seu mundo,
Venha a mim.
Você, que no sono profundo reacende os mistérios da noite.
Venha!
Senhor da magia e do conhecimento oculto,
Grande transformador e sábio,
Venha a mim.

Cubra a cabeça com o capuz e continue batendo no solo com o cajado. Feche os olhos e siga a batida, indo em direção a uma caverna. Você chega à entrada e pede licença aos seres daquele lugar para entrar.
A caverna é escura, mas à sua frente, lá no fundo, você pode ver um pequeno foco de luz. Siga em direção à luz.

Lentamente você se aproxima da luz e percebe que ela provém de uma pequena fogueira que está em uma ampla área, onde se encontra um Ancião, sentado em um trono. Ele carrega em uma das mãos um cajado com muitos símbolos. Convida-o para sentar, apontando um banquinho ao lado de Seu trono. Você senta e então Ele o abençoa com o cajado, tocando-o em seu chacra do terceiro olho. Ao fazer isso, uma forte luz se espalha por toda a caverna. Esta luz é forte e de poder regenerador, capaz de lhe dar acesso aos conhecimentos mais sagrados do Universo, que só o Ancião pode lhe proporcionar.
Deixe-se ser invadido pela luz e pela força que o Ancião lhe transmite.

Ele lhe dá um dos símbolos que se encontra pendurado no seu cajado, dizendo que é um presente dele para você. Guarde o símbolo e agradeça ao Ancião. Despeça-se, fazendo uma inclinação de reverência com a cabeça e siga em direção à saída da caverna.
Nesse estágio da meditação, comece a bater novamente o seu cajado e deixe o som trazê-lo de volta à realidade. Acalme a sua mente, centre-se e abra os olhos.

Mistérios Masculinos
Para os primitivos povos caçadores, os animais selvagens eram manifestações do desconhecido. A fonte de perigo e sobrevivência foi associada psicologicamente à tarefa de compartilhar o mundo silvestre com esses seres. Ocorreu uma identificação inconsciente, que se manifestou nos míticos totens meio humanos, meio animais das antigas tribos. Os animais tornaram-se tutores da humanidade. Através de imitações, as naturezas separadas de humanos e animais foram derrubados e criou-se a União. O mesmo é verdade acerca das posteriores comunidades agrícolas, as quais viram os ciclos de vida e morte dos humanos refletidos nos ciclos das colheitas.
Joseph Campbell, Primitive Mythology

Os Mistérios Masculinos surgiram do culto matrifocal do período neolítico. Baseiam-se na formação de cultos de caçadores e guerreiros necessários à sobrevivência do clã como um todo. Esses subcultos não sofreram influência das mulheres do clã, que permaneciam nas aldeias enquanto os homens estavam longe, caçando ou lutando contra inimigos. Eram períodos nos quais os homens estavam as sós e juntos, longe das responsabilidades da comunidade familiar ou da aldeia. Assim, livres das restrições da estrutura social estabelecida pelas mulheres, os homens desenvolveram uma subcultura própria, refletindo seus desejos e necessidades exclusivamente masculinos.

A Tradição Misteriosa Masculina pode ser dividida em até quatro categorias: o Caçador-Guerreiro, o Sátiro, o Rei Divino-Deus Sacrificado e o Herói. Esses mistérios associados aos homens resumem bem os aspectos da mentalidade e do comportamento masculinos. Assim, podemos separar a maioria dos homens em uma ou mais das categorias acima. Como ocorre com todas as generalizações (e estereótipos), esse aspecto comportamental ou de mentalidade não se aplicam a todos os indivíduos.

Iniciações envolvendo teste de bravura, força física, resistência ou tolerância à dor eram aspectos de iniciação nos antigos cultos masculinos. Eram traços essenciais para a sociedade masculina. Principalmente em razão do fato de que a caça de animais era perigosa, os inimigos eram comuns, as lutas inevitáveis e os ferimentos físicos esperados. Assim, no início da puberdade, quando os hormônios magicamente transformam garotos em homens, tinha início os primeiros ritos de masculinidade.

O primeiro passo nessa iniciação transformativa era encontrar-se com o Monstro (o que quer que isso represente a uma certa comunidade). Há uma antiga lenda que envolve um clã cuja aldeia estava sujeita aos horríveis sons de um monstro habitando nos bosques ao redor. Somente os guerreiros/caçadores abandonavam a segurança da aldeia, e mesmo assim armados até os dentes. Os restantes ouviam amedrontados os sons da incrível criatura. Os homens geralmente voltavam trazendo descrições apavorantes desse perigoso monstro.

Quando um garoto atingia a puberdade, ele devia seguir os homens pelos bosques e encarar a criatura. Durante a jornada, os homens gradualmente desapareciam entre as árvores sem serem percebidos, até que o garoto ficasse na companhia de apenas deles, seu iniciador. Quando se aproximavam do local de onde emanavam os sons, o garoto recebia uma lança; a seguir o homem apanhava-o pelo braço e, bradando um grito de guerra, corria impelindo o garoto rumo à clareira para atacar a criatura. No centro da clareira, um homem soprava um enorme chifre de onde emanavam os horríveis urros do monstro. O garoto havia então matado o monstro de sua infância e se tornara um homem.

Era prático dos Mistérios Masculinos criar histórias de bosques assombrados e monstros terríveis. Serviam não só no exemplo acima, mas também para assegurar locais rituais privativos. Isso foi particularmente importante durante a inquisição. O aldeão comum não desejava ingressar em bosques onde forças sobrenaturais estivessem em ação.

O Caçador-Guerreiro
Os primeiros clãs humanos sobreviveram graças, em grande parte, aos caçadores e guerreiros da tribo. Caçava-se o gamo, que fornecia alimento, agasalho e instrumentos confeccionados com cifres e cascos. O alce se tornou um símbolo de provisões, e na sua natureza de líder e protetor da manada, os caçadores primitivos identificaram algo do próprio clã. A rivalidade entre os alces pelas fêmeas era, em muitos aspectos, simbólica das paixões com que os próprios homens lutavam. Entre os gamos, o homem primitivo vislumbrou seus próprios instintos sexuais e de liderança unidos no fervor da caçada (atualmente, diversos esportes suprem essa importante função social nos homens). Ao observar os alces afastando os predadores com golpes de suas galhadas, o homem aprendeu como utilizar a lança. Da íntima relação entre o caçador e a caça, surgiu uma certa reverência e identidade espiritual. Os homens foram provavelmente os primeiros a sigilar conceitos, o rastro de um animal passou a simbolizar esse animal; ver esse símbolo significava a possibilidade de ver o próprio animal (o protótipo da evocação). Ao reverter o processo, cria-se o símbolo e, portanto, cria-se a possibilidade de ver o animal a ele associado. Dessa associação primitiva surgiu o pensamento mágico, e vemos que os antigos entalhes e pinturas rupestres visavam evocar a presença de vários animais de caça.

Em tempos remotos, o membro mais valente e mais forte do clã assumia uma posição elevada no culto do caçador-guerreiro, assim como o grande alce entre seu harém de fêmeas. Esses eram os atributos mais importantes para assegurar sucesso na caça e na luta. Trajando peles e os chifres de sua presa, o poder primitivo passava e seu espírito e ele se tornavam o Mestre dos Animais, Senhor da Floresta. Um dos mais interessantes aspectos dos Mistérios do Caçador-Guerreiro concerne aos códigos de conduta formada numa sociedade basicamente violenta. À medida que o homem se tornava menos bárbaro, estabelecia várias regras, principalmente relacionadas às lutas. Incluem-se aqui regras acerca do tratamento dispensado aos prisioneiros, quando um inimigo desarmado podia ou não ser morto, e assim por diante. Tal código de honra pessoal tornou-se a pedra fundamental das sociedades masculinas.

Um homem que fosse respeitado por sua capacidade física e suas habilidades em combate perderia rapidamente o respeito dos demais se demonstrasse falta de honra. Isso assinalou um período no qual o homem interior era mias importante do que o exterior. Um exemplo moderno seria o herói do esporte que demonstra pouco espírito esportivo em campo. A verdadeira força de um homem não está em sua força física, mas em seu controle pessoal. Saber quando não empregar seus atributos físicos (direta ou indiretamente) é a marca de um homem de honra. Exemplos disso são a violência física e psicológica a crianças e mulheres.
Atualmente é comum ver os homens como um patriarcado maligno que nada mais fez além de erradicar os antigos cultos da Deusa, e que continua a subjugar conscientemente as mulheres. Contudo, isso não reflete a duradoura tradição dos Mistérios Masculinos, e os homens geralmente demonstram um sacrifício impessoal por outros, especialmente os oprimidos e todos aqueles que não são capazes de se defender. O melhor exemplo é o código de cavalheirismo assumido por um cavaleiro. Apesar da opinião moderna de certos grupos políticos, o verdadeiro homem não oprime ou abusa das mulheres. É, no entanto, natural aos homens competir e manter papéis de liderança social, um fruto dos antigos impulsos que originaram os primeiros cultos ao Caçador-Guerreiro.

O combate é uma experiência que, apesar não ser exclusiva ao homem, é vivida por uma porcentagem muito maior de homens do que de mulheres. Na sociedade moderna, é um período no qual os homens podem chorar e se abraçar sem a desaprovação social. No combate, os homens voluntariamente sacrificam suas vidas pela de um amigo, na defesa de usa nação ou de seus princípios e crenças. Essa é a verdadeira nobreza do homem, surgida de seu eu interior em meio ao caos e o medo. Entretanto, também é verdade que na guerra são cometidas atrocidades, e também isso tem origem na natureza humana. É importante compreender que não se trata de comportamento instintivo; é a manifestação de ódio, preconceito, frustração e vingança. Deve ser cuidada e cultivada, ao contrário dos traços nobres que são inerentes a nossas almas.
Há uma certa especulação sobre os sentimentos de raiva e ressentimento com relação às mulheres, que teriam surgido nas sociedades patriarcais durante a transição de caçador-coletor para agrícola. Foram às mulheres que estabeleceram o mito do Deus Sacrificado envolvendo os homens. As antigas formas divinas do Mestre dos Animais e Senhor da Floresta deram lugar aos deuses com pés de bode e Senhores da Colheita. As mulheres mantiveram as estruturas religiosas, organizando e dirigindo a vida doméstica das pessoas da aldeia, e os homens começaram a trabalhar nos campos. Onde antes o homem era o grande caçador, agora ele caminhava por entre canteiros, plantando sementes. Onde antes ele arremessava sua lança contra a presa, agora rasgava a terra com seu cajado.

Alguns historiadores e arqueólogos crêem que bandos de guerreiros nômades saíram em cruzada contra os cultos matrifocais, numa tentativa de destruí-los (uma teoria amplamente refletida na obra de Marija Gimbutas). É mais provável que as tribos patriarcais simplesmente tenham se expandido em regiões mantidas por sociedades matrifocais como conseqüência de alterações climáticas, crises de fome e/ou falta de caça. Seria o caso dos indo-europeus, conhecidos como belicosos, e que simplesmente apanhavam aquilo que desejavam e necessitavam, dominando toda e qualquer resistência por meio da espada. É pouco provável que as sociedades matrifocais não possuíssem armas ou a habilidade de utilizá-las quando necessário, mas no fim elas acabaram por não ser páreo para os exércitos invasores, e sua cultura foi absorvida pelos conquistadores. Os conceitos e ícones religiosos dos vencidos foram substituídos pelos dos vencedores, pois, segundo uma antiga lógica, os deuses que propiciam a vitória devem ser mais poderosos do que os que permitem a derrota.

O Sátiro
As antigas imagens do sátiro e do centauro simbolizam a divisão no interior do homem entre sua natureza mais elevada e a mais baixa. A metade inferior do corpo, animalística, representava a natureza sexual e o desejo de ser indomável ou sem restrições. A parte superior da figura representava seu intelecto e sua natureza espiritual, buscando equilibrar e governar seus instintos e desejos básicos. Para muitos homens modernos, esse ainda é o dilema em que se encontram. Os homens lutam contra o que os psicólogos chamam de libido ou Id. Esse desejo básico está ligado aos três instintos fundamentais: autopreservação (instinto de sobrevivência), reprodução (instinto sexual) e companhia (instinto de grupo). Ao contrário dos outros animais, a humanidade aparentemente fundiu esses três instintos num quarto, o instinto religioso. É por intermédio da religião que os humanos vêm desenvolvendo maneiras de lidar com seus medos e desejos naturais.

Na sociedade moderna, os instintos masculinos foram canalizados em esportes e outras formas de competição. Em tempos remotos, estavam incorporados a rituais que fortaleciam a terra e a comunidade. Esses ritos, assim como os impulsos sexuais dos homens, eram controlados e dirigidos pelas mulheres. Muitas mulheres atualmente ainda tentam controlar os instintos sexuais dos homens ao protestar contra as revistas e vídeos masculinos. Os homens são inerentemente visuais quanto ao estímulo sexual. Caminhos mentais se formaram há muito tempo nessa área, derivando da exposição natural dos órgãos genitais femininos antes que o homem fosse uma criatura ereta. Os genitais emitiam sinais sexuais, alguns deles associados ao sangramento menstrual. A posição de coito normal era a entrada por trás, a qual necessitava de concentração visual. A fêmea, face voltada para longe da atividade, formava trilhas menta onde precisava mais da imaginação do que da visualização real para se estimular sexualmente. Atualmente, os homens sentem atraídos por seios fartos e lábios vermelhos, reminiscências das nádegas e da vagina expostas quando vistas por trás.

Em tempos remotos, as mulheres não associavam o prazer sexual de um homem num ritual a algo negativo. Seu sêmen era mágico e gerava vida; portanto, era empregado como um dos sagrados fluidos rituais e cerimoniais. Infelizmente, muitas pessoas hoje consideram um ritual que inclua prazer sexual aos homens como algo perverso, manipulativo ou abusivo para as mulheres. Essa repressão do poder dinâmico inerente aos homens criou uma fissura entre as mentes consciente e inconsciente. Assim, a imagem de um sátiro simboliza o homem perdido entre sua natureza elevada e inferior. Em alguns casos, isso pode se manifestar num homem na forma de uma incapacidade de compreender seus próprios sentimentos, o que o leva a buscar válvulas de escape físicas para manter ou descobrir seu senso de identidade.

O Reino Divino / O Deus Sacrificado
Em tempos remotos, a lei “só os mais fortes sobrevivem” era uma realidade verdadeira e comum. Hoje, graças à medicina moderna e à tecnologia, nossa sociedade mantém vivos aqueles que a Natureza permitiria morrer. (Isso não é um julgamento, mas uma simples observação.)

No sistema das tribos primitivas, os caçadores e os guerreiros possuíam papel importante na estrutura social. Os mais valentes e argutos dentre eles eram honrados pela tribo e seguidos como líderes. Em muitos casos, o bem-estar desse indivíduo afetava o bem-estar de toda a tribo. Esse é um tema amplamente explorado no mito norte-europeu do Rei Arthur. Merlin diz a Arthur que, caso tenha sucesso, a terra florescerá; caso contrário, a terra fenecerá. Arthur então pergunta: “Por quê?” Ao que Merlin responde: “Porque você é o Rei!” Mesmo atualmente, as doenças de nossos líderes nacionais são minimizadas, eles estão sempre “se recuperando gradualmente”. Para compreendermos essa relação íntima, devemos analisar certos aspectos e conexões. Enquanto Merlin diz a Arthur: “Você é a Terra, e a Terra é você”, prosseguiremos em nossa jornada ao passado para descobrir essas antigas raízes.

Antes que os humanos aprendessem a cultivar plantações e a criar animais, a caça era essencial para a vida. Sem caçadores capacitados, os clãs desapareceriam. A caça era uma atividade perigosa, pois os humanos ainda não haviam se retirado da cadeia alimentar. As armas primitivas exigiam que os caçadores se aproximassem muito da presa, e os ferimentos pessoais eram corriqueiros. Muitos caçadores perderam a vida ou ficaram incapacitados como resultado da caçada. Com o tempo, o caçador passou a guerreiro, arriscando sua vida pela tribo. As necessidades da tribo fossem por alimento ou por defesa, exigiam o envio de melhor caçador ou guerreiro existente na tribo.

Com o passar do tempo, esse conceito evoluiu com a consciência religiosa e espiritual da humanidade. O conceito de Deidade, bem como seu papel na vida e na morte, tomaram forma em meio a rituais e dogmas. Conseqüentemente, surgiu a idéia de enviar o melhor elemento da tribo diretamente aos deuses para assegurar favores. Essa foi à origem do sacrifício humano (acreditava-se que os que se apresentavam voluntariamente acabavam por se tornar eles mesmos deuses).

As oferendas não eram novidade para nossos ancestrais; muitas vezes alimento e flores ou caçaram depositados perante os deuses. Um semelhante era considerado a maior oferenda que uma tribo poderia fazer. Entre as oferendas humanas, o sacrifício de um voluntário era a possibilidade máxima. Certamente, acreditavam-se, os deuses garantiriam à tribo qualquer coisa se alguém desejasse abrir mão de sua vida.

Em seu livro Western Inner Working (Weiser, 1983), William Gray aborda diversos aspectos desse tema do Culto. Um deles está relacionado ver com linhagens sangüíneas. Ele escreve:

Algo os impelia a Deidades, não o medo, tampouco a busca por favores, mas eles sentiam um grau de afinidade entre eles próprios e os invisíveis Imortais. De modo extremo, eles percebiam que eram aparentados à distância desses Deuses, e queria fortalecer tal relacionamento. Essa faceta em membros específicos da raça humana apresenta uma certa prova de linhas genéticas que remontam ao “Antigo Sangue” que se originara de fora da própria Terra.

Gray também demonstra como os reis e governantes acabaram por ser sacrificado (por serem os “melhores” do clã) e como as linhagens sangüíneas eram importantes. Os regentes da antiga Roma e do Egito eram considerados por seus povos os descendentes dos deuses, ou eram eles mesmos deuses.

“O Culto ao Reinado” por Gray oferece um relato de como o sangue e a carne eram distribuídos para o clã, e para a terra. Partes do corpo eram enterradas em campos cultivados para assegurar a colheita. Pequenas porções do corpo e do sangue eram adicionadas ao banquete sobre o qual Gray escreve:

Eles concediam ao finado líder o mais honroso sepultamento possível – em seus estômagos.

Esse tipo de mitologia também pode ser encontrado na mitologia cristã, onde o corpo de Jesus é o centro do rito da comunhão. Após o fim de tais práticas, Gray nota que o costume perdurou na forma de cremação em uma pira funerária.

No mito do Rei Divino/Deus Sacrificado, o sacrifício é apenas uma parte da história. Sacrificar é enviar o que temos de melhor, mas e quanto a recuperá-los? Nos versos da Arte, temos uma passagem onde se lê: “. e devemos encontrá-los, reconhecê-los, relembrá-los e amá-los novamente”. Para tanto, foram criados rituais que ocasionassem o renascimento desses Deuses Sacrificados onde às linhagens eram cuidadosamente estudadas. Donzelas especiais eram preparadas para carregar o rebento, geralmente virgens artificialmente inseminadas para que nenhum pai humano fosse conhecido.

Com a evolução e o amadurecimento da consciência humana, os sacrifícios humanos foram substituídos por sacrifícios animais (o ritual do bode expiatório) e posteriormente para sacrifício vegetal. O mesmo mito se aplica ao sacrifício vegetal, e encontramos a “Deidade comida” no pão e vinho (carne e sangue) dos rituais da Arte. Apesar do significado e da preparação terem se perdido em muitos dos sistemas reconstruídos, eles ainda são preservados por muitas das Antigas Tradições da Wicca.

Na antiga tradição, era através dessa conexão com o corpo e o sangue do Deus Sacrificado que as pessoas se integravam com a Deidade. Esse é basicamente o conceito do rito cristão da comunhão ou da Celebração da Eucaristia. Na “Última Ceia”, Jesus declara a seus seguidores que o corpo e o vinho são seu corpo. A seguir, ele afirma que abrirá mão de sua vida por seu povo, e pede-lhes que comam de sua carne e bebam do seu sangue (o pão e o vinho).

Acreditava-se que o sangue continha a essência da força vital. A morte do rei libertava o sagrado espírito interior, e através da distribuição de sua carne e de seu sangue (às pessoas e a terra), uniam-se a terra e o paraíso, e essa energia vital renovava o Reino. Resquícios dessa prática ainda podem ser claramente observados na Antiga Religião, apesar de estarem velados e altamente simbólicos.

O Rei Divino/Deus Sacrificado surgem em vários aspectos no desenrolar das eras. Sua imagem se manifesta como o Jack-in-the-Green, o Hooded Man, O Green Man e o Hanged Man (Enforcado) do tarô. Ele é o Senhor das Plantas, ele é a Colheita e, em seu lugar da Mãe Terra, tampouco usurpa seu poder – ele é seu complemento e seu consorte.

A imagem do Green Man provavelmente simboliza da melhor forma possível o Rei Divino/Deus Sacrificado. Ele é o espírito da Terra, manifesto em todas as formas vegetais. Ele é o poder procriativo e a semente da vida. Sua face é oculta pela folhagem, mas ele está sempre atento. O Green Man representa a relação do homem com a Natureza. O escritor William Anderson, em seu livro The Green Man, diz:

Ele resume em sim mesmo a união que deve ser mantida entre a humanidade e a Natureza. Ele é o próprio símbolo da esperança: afirma que a sabedoria do homem pode se aliar às forças instintivas e emocionais da Natureza.
Ele é, com efeito, nossa ponte entre os Mundos. Ele está integrado ao Paraíso e a Terra, e integrar-se a ele é integrar-se à Fonte de Todas as Coisas.

O Herói
A trilha do herói não é específica a um determinado sexo. A grande maioria dos mitos e lendas remanescentes associados a heróis envolvem homens. É agora parte de nossa Consciência Coletiva como cultura ocidental, e assim é aqui que abordamos os mistérios. Para onde seguimos depois é por nossa conta. Na Antigüidade, o caminho do herói incluía mulheres; resquícios de heroínas ainda existem em lendas como as de Perséfone e Deméter, Inanna, Ísis e tantas outras. Seja um homem a arriscar sua vida em combate, ou uma mulher a fazê-lo no parto, ambos são atos de bravura dignos do caminho do herói. O caminho do Herói é um de auto-sacrifício pelo bem-estar dos demais.

O herói incorpora os elementos pelos quais a cultura que o criou aspira. O herói preserva o que é nobre, inspirador e valioso para uma sociedade, tudo entrelaçado em contos de Busca, desafio e determinação. Joseph Campbell chama a isso de o feito praticado por muitos. Claramente, percebemos que esses feitos dos heróis de qualquer cultura não diferem dos de outra. Nisso vemos que a natureza do Herói é, sem dúvida, universal na cultura humana.

Nos níveis externos, o Herói abandona a segurança de sua tribo ou aldeia e parte ao encontro de um monstro ou para cumprir uma tarefa, em ambos os casos servindo aos interesses de sua comunidade. Num nível interno, cada um de nós é um herói que deve deixar a segurança do que aprendeu e aventurar-se na Busca por conhecimento. O herói deve deixar uma condição e encarar um desafio, por meio do qual possa elevar sua própria consciência. Em algumas vezes, isso é feito deliberadamente; noutras ocorre quase acidentalmente ou como uma reação simples a uma determinada situação. De qualquer forma, são três os elementos do caminho do herói: partida, realização e retorno.

Nas lendas celtas, o herói é geralmente atraído ao desconhecido por uma criatura qualquer que posteriormente se transforma numa fada ou deusa. A aventura do herói se inicia nesse ponto da história. Nas tradições do Egeu/Mediterrâneo, o herói geralmente parte numa Busca pré-determinada com parâmetros definidos. À medida que a consciência espiritual e intelectual da cultura amadurece, a aventura do herói se transforma com ela. A lenda do Rei Arthur é um excelente exemplo de um mito que evoluiu com a consciência da cultura que o formou. Os aspectos lunares anteriores podem ser posteriormente encontrados disfarçados no simbolismo solar patriarcal.

Na Tradição Misteriosa, encontramos algumas similaridades interessantes entre a espada do Rei Arthur e o cetro do Rei no santuário de Diana no Lago Nemi. Somente uma pessoa com determinados poderes seria capaz de retirar a espada da pedra ou quebrar o galho do carvalho de Nemi. Fazê-lo, em ambos o caso, resultava em soberania. O Carvalho Sagrado representava o deus solar e estava sob os cuidados do Guardião do Bosque. No Lago Nemi vivia uma mágica ninfa da água conhecida como Egeria. Ela era associada ao curso d’água que corria da gruta de Diana ao Lago Nemi, bem como ao próprio lago. Egeria em Nemi e a Senhora do lago associada à lenda celta de Arthur podem ser uma só.

O bem-estar do Rei dos Bosques foi em parte atribuídos a essa relação com Egeria. De acordo com Frazer (em The Golden Bough), o riacho de Egeria brotava das raízes do Carvalho Sagrado de Nemi. O carvalho era a madeira utilizada para aquecer a forja onde espadas eram confeccionadas; o carvalho produz temperaturas mais elevadas que outras madeiras. Assim, o espírito do Deus Carvalho passava às chamas e, por conseqüência, à espada empunhada pelo Rei dos Bosques. Esse mito pode muito bem estar por trás da lenda celta do Rei Arthur e da espada Excalibur. A espada mágica de Arthur fora incrustada na pedra de onde ele a retirou, e a ele foi devolvida pela Senhora do Lago após ter partido num tolo desafio de combate. O galho partido do Carvalho de Nemi foi um desafio de combate ao Guardião do Bosque. Era parte da árvore enraizada na terra, plena com a água que brotava do riacho de Egeria. Não é difícil perceber que a espada Excalibur sendo erguida do lago e o Galho de Carvalho que surge da Árvore Sagrada do regato de Egeria são a mesma imagem.

Por vezes o herói é mais uma pessoa espiritual do que um aventureiro ou guerreiro. Ele (a) ensina a transformação da consciência que é o verdadeiro objetivo da Busca do Herói. A Busca em si representa as provações e descobertas necessárias para que se obtenha iluminação. Os períodos negros de nossas vidas, representadas no simbolismo mítico pelo aprisionamento no ventre da baleia, são períodos de provação pessoal. Na cerimônia de iniciação do primeiro grau Wiccano, o iniciado deve encarar uma provação e que somente através do sofrimento ele poderá obter o conhecimento e a iluminação.

A água representa a mente inconsciente, e a baleia representa o que se esconde pro trás. É parte importante da Busca do Herói que este encare o monstro. Um elemento comum na maioria dessas lendas é o que o monstro. Um elemento comum na maioria dessas lendas é o que Campbell chama de auxílio sobrenatural. É aqui que o herói recebe algum tipo de arma mística para enfrentar seus inimigos. Arthur retirando a espada Excalibur da pedra é um bom exemplo. O monstro deve ser derrotado para que o herói cumpra sua Busca. Em outras palavras, o herói deve derrotar o que criaturas como os dragões simbolizam (geralmente medo, insegurança ou egoísmo). Uma vez que o dragão não mais bloqueia o caminho (ou guarda o tesouro), o herói então pode prosseguir rumo a seu objetivo.

É dever do herói, tanto interna como externamente, compreender a relação pessoal com a sociedade na qual vive. O herói deve também aprender a relacionar essa sociedade ao mundo Natural no qual ela existe. Ademais, ele deve compreender a relação de tudo isso com o Grande Cosmos. O herói deve começar sua busca por dentro e, assim na Terra como no Céu, ele compreenderá o Macrocosmo através dos exemplos encontrados e solucionados no Microcosmo. É disso que tratam os mitos de todas as épocas desde que os primeiros contos bárdicos foram entoados.

(Retirado dos Livros Mistérios Wiccanos de Raven Grimassi e Wicca, A Religião da Deusa de Claudiney Prieto).

31 outubro, 2006

A Deusa - O Romance da Deusa

No coração das trevas ecoou um grito, EU SOU A LUZ, e numa explosão luminosa brilhou a primeira fonte de luz do universo. Os poderes da escuridão recuaram diante daquele brilho, quem ousaria desafiar as trevas?

Mas a luz cresceu, e os espíritos da noite eterna recuaram ainda mais. Rodopiando em seu próprio eixo aquela chama luminosa transformava matéria negra em alimento para sua luz. Os poderes do caos não se conformaram, que era aquilo, que era aquele brilho rutilante que cegava, quem deles os desafiava, quem ousava destruir a ordem disforme do nada. Que loucura era aquela?

Um novo grito se ouviu, agora do coração da luz, EU SOU O PODER, e rodando ainda com maior velocidade. Formava um cone de energia luminosa que crescia como uma serpente clareando tudo que antes era escuro.
Dentro de seus escuros corações as forças das trevas, decidiram sufocar a luz, aquilo que os cegava e os machucava deveria terminar. Apenas um entre eles acreditou que a luz era boa, e acostumando sua visão, se maravilhava e se apaixonava pela novidade, todos os demais cerraram fileiras contra o escândalo. Compactaram-se formaram uma grande barreira e passaram a envolver aquilo que os feria. A dor daquele que se apaixonou pela luz, ao ver que ela poderia se extinguir, se transformou em força, e cresceu tanto dentro dele, ao ponto que sem poder se conter gritou EU AMO VOCÊ, e explodiu em luz e fogo.
Cercados os poderes negros perderam completamente a visão, para onde que olhassem a luz os cegava, perdidos e cegos eles dispersaram e se esconderam nos profundos abismos do Universo.

No centro de tudo os dois pontos luminosos transformavam matéria, cresciam, duas enormes serpentes de fogo ígneo, se maravilhavam uma com a outra, como numa dança de acasalamento se volteavam, enroscavam-se trocavam matéria, alimentavam-se uma da outra.




Quem era o Deus? Quem era a Deusa?

A força feminina da criação, o encanto da Deusa seus atrativos despertaram o espírito masculino da proteção, mas agora, se misturavam, copulavam, eram um só, dois poderes ligados pela atração, duas forças em busca de um objetivo. Ou será que só em busca do prazer? O prazer até então inexistente de estar juntos, de roçar seus espíritos transformados em matéria, se sentir o calor um do outro.
Os poderes do caos também se juntaram para apagar a luz, mas não perceberam o prazer de estar junto e por isto tiveram que fugir, se esconder, estes nunca se uniram, sempre solitários amargam suas penas com o ódio e a intransigência, e só pensam em destruir, em terminar com a ordem e voltar ao nada onde inertes deixam os milênios passarem.
Porém junto a Deusa e o Deus, ainda maravilhados um com o outro, as duas serpentes cósmicas, não param de crescer e se amar, e num dado momento, fundem as suas pontas e um circulo de fogo se forma, é tal a felicidade de sentir as ondas de energia fluírem de um para o outro num fluxo constante e ininterrupto, que eles circulam a tal velocidade, como uma roda de fogo neste orgasmo cósmico, que deles se desprendem as galáxias, os sois e os planetas, parindo o universo por força do sexo e do amor.
Deste parto cósmico da vagina flamejante foi criado o universo, e desta energia também nasceram os seus filhos, filhos do seu espírito, os Deuses.
Esgotados depois de transformar a matéria negra em tudo que existe a Mãe e o Pai repousaram sobre sua criação. E os filhos de seu espírito os deuses trabalharam febrilmente na manutenção do que eles construíram, enquanto o ódio dos poderes do caos crescia.
Levantaram-se da noite varias vezes, mas nunca unidos e eram facilmente rechaçados. Apenas uma vez o mais forte dos poderes da sombra uniu em torno de si um exercito de espíritos da escuridão e varreram partes do universo envolvendo a luz, mas a eles foi dado combate pelos filhos da deusa, que terminaram vitoriosos, mas permitiram que existissem as zonas de trevas formando o equilíbrio que sustenta tudo.
A grande Mãe, minha querida irmã de muitas vidas tem um belo raciocínio sobre o amor:
As pessoas não conhecem o Amor.
O que elas chamam de Amor, na verdade, é somente uma projeção em cima de outra pessoa.
O Amor não existe de alguém para alguém.
O Amor é.
Ele não é para alguém, simplesmente é.
O Amor é um estado vibratório que, quando alcançado, a pessoa vibra tão intensamente que se liga no Infinito.
O Amor direcionado para alguém, até mesmo para a divindade, é um aspecto projetivo da personalidade.
Daí o amor e o ódio serem irmãos gêmeos.
Ambos são aspectos projetivos.
Um projeta o aspecto de luz, outro projeta o aspecto de sombra.
Todo o universo é formado pelo corpo da Deusa e do Deus, que estão presentes até mesmo das zonas escuras.
Tudo que existe é parte do amor dos dois, galáxias, planetas, estrelas, buracos negros (que são portais para o mundo das trevas) e tudo que existe neles é parte do corpo dos dois, até mesmo os opositores são parte deles, pois nada resiste à força da atração, a força do amor.

Mesmo os olímpicos a geração mais forte dos deuses, ou A trindade Hindu, temem a força das setas de Eros ou Kama, que transforma os deuses em escravos de simples mortais.
Quem dirá então o que acontece conosco, tocados por uma simples seta do desejo, muitas vezes a simples visão de alguém nos leva a viajar o universo em busca daquilo que os olhos viram por apenas um segundo, e esta força de atração é tão grande que buscamos e trazemos para nosso lado o objeto de nossa paixão.

Ou que nossas palavras escritas se identifiquem tanto com o outro que nos transformamos em musas ou musos que inspiram versos ou imagens que circulam pela rede. E quando concretizamos uma de nossas paixões, e o amor e o sexo acontecem, um vulcão entra em erupção dentro de nós, terremotos e vendavais são pouco perto da força que geramos que num orgasmo recria o universo.
Então... Deuses e Demônios fazem parte do romance da Deusa com o Deus, são lados de luz e sombra, são muitas vezes a face da mesma moeda assim como disse a Mãe aí em cima o amor e o ódio são irmãos, assim como o dia e a noite, a claridade e a escuridão.
Tudo é fruto do amor dado ou negado, da paixão desesperada correspondida ou não, que criam zonas de luz e trevas, e despertam os deuses ou demônios em nossas mentes, nos dando prazer ou sofrimento, alegria ou tristeza, já que o bem e o mal não existem na natureza, mas sim na nossa cabeça.

Chamando pela Deusa do amor
Fase da Lua: Cheia


Objetos necessários para o ritual:


- incenso de rosas
- uma vela vermelha e uma vela rosa
- pétalas de rosa decorando seu altar
- barbante ou fita rosa do tamanho da sua cintura
- imagem da Deusa Vênus
- caneta e pedaço de papel


Acenda o incenso e decore seu altar de acordo com o ritual. No papel, escreva: "Alguém que realmente me ame". Se desejar lançar um encantamento sobre uma pessoa específica, reflita cuidadosamente sobre as implicações desta ação. Você realmente quer que determinada pessoa te ame apenas porque você fez um ritual de magia? A Deusa do amor sabe muito mais sobre isso do que você; deixe que ela escolha a pessoa certa.
Quando estiver preparada permaneça em silêncio para relaxar.
Acenda as velas, dizendo:
Meu coração está vazio
Grande Deusa do amor, envie-me alguém que o encha de amor.
Minha alma deseja assim
Conduza-me à harmonia espiritual
Minha mente está inerte
Encha-a com fertilidade
Passe o barbante pela fumaça do incenso, consagrando-o. Fique de pé em silêncio por alguns momentos, agradecendo à Deusa do amor por seu auxílio. Ouça seus conselhos. Depois, deixe o papel no altar até a manhã seguinte.
Apague as velas.


Na noite seguinte, volte ao altar.
Acenda outro incenso e as velas novamente.
Converse com Vênus usando suas próprias palavras, explicando as características que mais deseja em um parceiro.
Ateie fogo no pedaço de papel com a chama da vela rosa e deixe que queime em uma vasilha metálica.
Livre-se das cinzas quando esfriarem.
A Lenda da Descida da Deusa ao Mundo Subterrâneo
Narrador:
NOS TEMPOS ANTIGOS, NOSSO SENHOR, O CORNUDO, ERA (E AINDA É) O CONSOLADOR, O CONFORTADOR.
MAS OS HOMENS O CONHECIAM COMO O TERRÍVEL SENHOR DAS SOMBRAS, SOLITÁRIO, INFLEXÍVEL E JUSTO.
MAS NOSSA SENHORA, A DEUSA RESOLVERIA TODOS OS MISTÉRIOS, ATÉ MESMO O MISTÉRIO DA MORTE; E ASSIM ELA VIAJOU AO MUNDO SUBTERRÂNEO.
O GUARDIÃO DOS PORTAIS A DESAFIO...
O Guardião dos portais desafia a Deusa com seu Athame.
TIRA TUAS VESTES, PÕE DE LADO TUAS JÓIAS, POIS NADA TU PODES TRAZER CONTIGO AO INTERIOR DESTA NOSSA TERRA.
A Deusa retira seu véu e as jóias. Nada deve permanecer sobre seu corpo.
O Guardião então a prende com o cordel vermelho à maneira da iniciação de primeiro grau, com o centro do cordel em torno da frente do pescoço dela e as extremidades passando por seus ombros e indo atar seus pulsos por trás de sua cintura.


ASSIM ELA SE DESPOJOU DE SUAS VESTES E DE SUAS JÓIAS E FOI AMARRADA COMO TODOS OS VIVOS QUE BUSCAM INGRESSAR NOS DOMÍNIOS DA MORTE, A PODEROSA, TÊM QUE SER.


O Guardião dos portais conduz a Deusa perante o Senhor do Mundo Subterrâneo e, depois, se afasta para um lado.TAL ERA A BELEZA QUE A PRÓPRIA MORTE SE AJOELHOU E DEPOSITOU SUA ESPADA E COROA AOS SEUS PÉS.


O Senhor do Mundo Subterrâneo se ajoelha ante a Deusa, deposita sua espada e sua coroa no chão a cada lado dela, e em seguida beija os pés direito e esquerdo dela.

...E BEIJOU SEUS PÉS, DIZENDO: ABENÇOADOS SEJA TEUS PÉS QUE TE TROUXERAM POR ESTES CAMINHOS. PERMANECE COMIGO, MAS DEIXA QUE EU PONHA MINHAS MÃOS FRIAS SOBRE TEU CORAÇÃO.

O senhor do Mundo Subterrâneo ergue suas mãos, com as palmas para frente e as retém a algumas polegadas do coração da Deusa.


E ELA RESPONDE: EU NÃO TE AMO. POR QUE FAZES TODAS AS COISAS QUE AMO E NAS QUAIS ME COMPRAZO FENECEREM E MORREREM?
O senhor do mundo subterrâneo estende seus braços para baixo, com as palmas das mãos para frente.


SENHORA...
- RESPONDEU A MORTE - TRATA-SE DA IDADE E DA FATALIDADE, CONTRA OS QUAIS SOU IMPOTENTE.
A IDADE, O ENVELHECIMENTO LEVA TODAS AS COISAS A DEFINHAREM; MAS, QUANDO OS HOMENS MORREM AO DESFECHO DE SEU TEMPO, CONCEDO-LHE REPOUSO, PAZ E FORÇA PARA QUE POSSAM RETORNAR.
MAS TU, TU ÉS LINDA. NÃO RETORNES, PERMANEÇA COMIGO.
MAS ELA RESPONDE: EU NÃO TE AMO!


O senhor do Mundo subterrâneo se levanta, vai até o altar e pega o açoite. Volta-se para encarar a deusa.E ENTÃO DISSE A MORTE:
SE NÃO RECEBES MINHAS MÃOS SOBRE TEU CORAÇÃO, TENS QUE TE CURVAR AO AÇOITE DA MORTE.
É A FATALIDADE
- MELHOR ASSIM...
Ela Disse e se Ajoelhou. E a morte a açoitou brandamente.
A deusa se ajoelha encarando o altar. O senhor do mundo subterrâneo aplica-lhe de maneira muito branda três, sete, nove, vinte e um golpes do açoite.


E ELA BRADOU: EU CONHEÇO AS AFLIÇÕES DO AMOR
O Senhor do Mundo Subterrâneo recoloca o açoite no altar, ajuda à deusa a levantar-se e se ajoelha, encarando-a.


E A MORTE A ERGUEU E DISSE: SEJAS ABENÇOADA.
E LHE DOU O BEIJO QUÍNTUPLO, DIZENDO: ASSIM APENAS PODES ATINGIR A ALEGRIA E O CONHECIMENTO.
O Senhor do Mundo subterrâneo dá na Deusa o beijo quíntuplo. Em seguida, desamarra os pulsos dela, depositando o cordel no chão.


E ELE A ELA ENSINA TODOS OS SEUS MISTÉRIOS E LHE DÁ O COLAR QUE É O CÍRCULO DO RENASCIMENTO.
O senhor do Mundo Subterrâneo pega o colar no altar e o coloca em torno do pescoço da deusa. A Deusa então, toma a coroa e a recoloca na cabeça do senhor do Mundo Subterrâneo.

E ELA ENSINA A ELE O MISTÉRIO DA TAÇA SAGRADA, QUE É O CALDEIRÃO DO RENASCIMENTO.

O Senhor do Mundo Subterrâneo move-se diante do altar, no extremo leste deste, e a Deusa move-se diante do altar, no extremo oeste deste. A Deusa toma o cálice em ambas as mãos, eles se entreolham e ele coloca ambas as mãos das dela.


ELES AMARAM E SE TORNARAM UM, POIS HÁ TRÊS GRANDES MISTÉRIOS NA VIDA DO HOMEM, E A MAGIA OS CONTROLA A TODOS.
PARA REALIZAR O AMOR, TENDES QUE RETORNAR NOVAMENTE AO MESMO TEMPO E NO MESMO LUGAR DAQUELES QUE SÃO OS AMADOS; E TENDES QUE ENCONTRÁ-LOS, CONHECÊ-LOS, LEMBRÁ-LOS E AMÁ-LOS DE NOVO.
O Senhor do Mundo Subterrâneo solto as mãos da Deusa e esta recoloca o cálice no altar. Ele toma o açoite em sua mão esquerda e a espada em sua mão direita e fica na posição do Deus, antebraço cruzado sobre o peito, espada e açoite apontados para cima, com suas costas para o altar. Ela fica ao lado dele na posição de Deusa, pernas escarranchadas e braços estendidos formando o pentagrama.


MAS PARA RENASCER, TENDE QUE MORRER E SER PREPARADO PARA UM NOVO CORPO.
E PARA MORRER TENDES QUE NASCER E SEM AMOR NÃO PODES NASCER.
E NOSSA DEUSA SEMPRE SE INCLINA PARA O AMOR, E O JÚBILO, E A VENTURA; E ELA PROTEGE E ACARICIA SUAS CRIANÇAS OCULTAS NA VIDA, E NA MORTE MINISTRA O CAMINHO DA COMUNHÃO COM ELA; E MESMO NESTE MUNDO ELA LHES ENSINA O MISTÉRIO DO CÍRCULO MÁGICO, QUE É DISPOSTO ENTRE OS MUNDOS DOS HOMENS E DOS DEUSES.
O senhor do mundo subterrâneo recoloca o açoite, a espada e a coroa sobre o altar junto deste. Isto completa a Lenda e os atores se juntam de novo aos demais membros.

A Grã Sacerdotisa diz:

QUE PARTICIPEMOS AGORA, COMO A DEUSA NOS ENSINOU, DA FESTA DE AMOR DO VINHO DOS BOLOS; E À MEDIDA QUE O FAZEMOS, QUE NOS LEMBREMOS DE NOSSA IRMÃ...COM A QUAL NÓS TÃO AMIÚDE COMPARTILHAMOS TAL FESTA. E MEDIANTE ESTA COMUNHÃO, NÓS COLOCAMOS AMOROSAMENTE NOSSA IRMÃ NAS MÃOS DA DEUSA.
Todos Dizem: QUE ASSIM SEJA!


O vinho e os bolos são consagrados e passados por todos.
O mais cedo possível, após o Réquiem, os fragmentos da tigela deverão ser ritualmente arremessados num rio, com a tradicional ordem:
RETORNA AOS ELEMENTOS DOS QUAIS VIESTE

















Principio Criador


Existe um Princípio Criador, que não tem nome e está além de todas as definições. Desse princípio, surgiram as duas grandes polaridades, que deram origem ao Universo e a todas as formas de vida.
Princípio Feminino
A Grande Mãe representa a Energia Universal Geradora, o útero de Toda Criação. É associada aos mistérios da Lua, da Intuição, da Noite, da Escuridão e da Receptividade. É o inconsciente, o lado escuro da mente que deve ser desvendado. A Lua nos mostra sempre uma face nova a cada sete dias, mas nunca morre, representando os mistérios da Vida Eterna. Na Wicca, a Deusa se mostra com três faces: a Virgem, a Mãe e a Velha Sábia, sendo que esta última ficou mais relacionada à Bruxa na imaginação popular. A Deusa Tríplice mostra os mistérios mais profundos da energia feminina, o poder da menstruação na mulher, e é também a contraparte Feminina presente em todos os homens, tão reprimida pela cultura patriarcal.

O Divino Feminino
A Deusa foi à primeira divindade cultuada pelo homem pré-histórico. As suas inúmeras imagens encontradas em vários sítios históricos e arqueológicos do mundo inteiro representavam a fertilidade - da mulher e da Terra. Por ser a mulher a doadora da vida atribuiu-se à Fonte Criadora Universal a condição feminina e a Mãe Terra tornou-se o primeiro contato da raça humana com o divino.

Mas afinal, quem é essa Deusa? Só o fato de termos que fazer essa pergunta demonstra o quanto nossa sociedade ocidental formada sob a égide da mitologia judaico-cristã se afastou de nossas origens. Fomos criados condicionados por uma cosmologia desprovida de símbolos do Sagrado Feminino, a não ser Maria, Mãe Divina, que não tem os atributos divinos, que são reconhecidos apenas ao Pai e ao Filho e é substituída na Trindade pelo conceito de Espírito Santo. Maria é, quando muito, a intermediária para a atuação dos poderes do Deus... "Peça à Mãe que o Filho concede..." Mas Maria não é a Deusa, senão um de seus aspectos mais aceitos pela sociedade patriarcal, de coadjuvante do Deus, reproduzindo o fenômeno social do patriarcado em que a mulher auxilia o homem, mas sempre lhe é inferior e, por isso, deve submeter-se à sua autoridade.

Não somos feministas nem queremos partir para discursos feministas, mas tão somente constatar que a ausência de uma Deusa nas mitologias pós-cristãs se deve ao franco predomínio do patriarcado. Predomínio esse que nos trouxe, ao final do século XX, a uma sociedade norteada pelos valores da competição selvagem, da sobrevivência do mais forte, da violência ao invés da convivência, do predomínio da razão sobre a emoção. Mas a Deusa está ressurgindo. Desde a década de 60, reafirmando-se nas últimas, a descoberta da Terra como valor mais alto a preservar sob pena de não mais haver espécie humana fez decolar a consciência ecológica e o renascimento dos valores ligados à Deusa: a paz, a convivência na diversidade, a cultura, as artes, o respeito a outras formas de vida no planeta.

Cultuar a Deusa hoje significa reconsagrar os Sagrados Femininos, curando, assim, a Terra e a essência humana. Quer sejamos homens ou mulheres, sabemos que nossa psique contém aspectos masculinos e femininos. Aceitar e respeitar a Deusa como polaridade complementar do Deus é o primeiro passo para a cura de nossa fragmentação dualística interior. A Deusa é cultuada como Mãe Terra, representando a plenitude da Terra, sua sacralidade. Sobre a Terra existimos e, ao fazê-lo, estamos pisando o corpo dela, aqui e agora, muito diferente da crença em um deus Onipotente e distante, que vive nos céus. A Deusa é a Terra que pisamos, nossos irmãos animais e plantas, a água que bebemos, o ar que respiramos, o fogo do centro dos vulcões, os rios, as cores do arco-íris, o meu corpo, o seu corpo... A Deusa está em todas as coisas... Ela é Aquela que Canta na Natureza... O Deus Cornífero seu consorte, segue sua música e é Aquele que Dança a Vida... Cultuar a Deusa não significa substituir o Deus ou rejeitá-lo. Ambos, Deus e Deusa são da mesma moeda, as duas faces do Todo. A Deusa é a criadora primordial, o Deus o primeiro criado, e sua dança conjunta e eterna, em espiral, representa a eterna dança da vida.

A Deusa também é a Senhora da Lua e, mais uma vez, a explicação desse fato remonta às cavernas em que já vivemos. O homem pré-histórico desconhecia o papel do homem na reprodução, mas conhecia muito bem o papel da mulher. E ainda considerava a mulher envolta em uma aura mística, porque sangrava todo mês e não morria, ao passo que para qualquer dos homens sangrar significava morte. Portanto, a mulher devia ser muito poderosa, ainda mais que conhecia o "segredo" de ter bebês... É fácil entender porque a mulher era identificada com a Deusa, ou, melhor dizendo, porque a primeira divindade conhecida tinha que ter caracteres femininos... Ainda mais quando as pessoas descobriram que a gravidez durava 10 lunações e a colheita e o suceder das estações seguia um ciclo de 13 meses lunares. O primeiro calendário do homem pré-histórico foi mostrado nas mãos da famosa estatueta da Vênus de Laussel, que segura em sua mão um chifre em forma de crescente, com 13 talhos que representam as lunações. Por sua conexão com a Lua e a mulher, a Deusa é cultuada em 3 aspectos: a Donzela, que corresponde à Lua Crescente, a Mãe representada na Lua Cheia e a Anciã, simbolizada na Lua Decrescente, ou seja, Minguante e Nova.

Na tradição da Deusa a Donzela é representada pela cor branca e significa os inícios, tudo o que vai crescer, o apogeu da juventude, as sementes plantadas que começam a germinar, a Primavera, os animais no cio e seu acasalamento. Ela e a Virgem, não só aquela que é fisicamente virgem, mas a mulher que se basta, independente e auto-suficiente. Como Mãe a Deusa está em sua plenitude. Sua cor é o vermelho, sua época o verão. Significa abundância, proteção, procriação, nutrição, os animais parindo e amamentando, as espigas maduras, a prosperidade, a idade adulta. Ela é a Senhora da Vida, a face mais acolhedora da Deusa.
Por fim, a Deusa é a Anciã, que é a Mulher Sábia, aquela que atingiu a menopausa e não mais verte seu sangue, tornando-se assim mais poderosa por isso. Simboliza a paciência, a sabedoria, a velhice, o anoitecer, a cor preta. A Anciã também é a Deusa em sua face Negra da Ceifeira, a Senhora da Morte. Aquela que precisa agir para que o eterno ciclo dos renascimentos seja perpetuado. Esta é o aspecto com que mais dificilmente nos conectamos, porém, a Senhora da Sombra, a Guardiã das Trevas e Condutora das Almas é essencial em nossos processos vitais. Que seria de nós se não existisse a morte? Não poderíamos renascer, recomeçar... Desta forma, é fácil compreendermos porque a Religião da Deusa postula a reencarnação. Se fazemos parte de um universo em constante mutação, que sentido haveria em crermos que somos os únicos a não participar do processo interminável da vida-morte-renascimento? Essa realidade existe no microcosmo do ciclo das estações, da colheita que tem que ser feita para que se reúnam as sementes e haja novo plantio.


É justamente por isso que aqueles que seguem o Caminho da Deusa celebram a chamada Roda do Ano, constituída pelos 8 Sabbats que marcam a passagem das estações. Ao celebrar os Sabbats cremos que estamos ajudando no giro da Roda da Vida, participando assim de um processo de co-criação do mundo. Submeter-se à sua autoridade.
Por tudo o que dissemos fica fácil entender porque os caminhos, cultos e tradições centrados na Deusa são religiões naturais, fundamentadas nos ciclos da natureza e no entendimento de seus elementos e ritmos. Estas práticas de magia natural usam a conexão e correlação dos elementos da natureza - Água, Terra, Fogo e Ar, as correspondências astrológicas (signos zodiacais, influências planetárias, dias e horários propícios, pedras minerais, plantas, essências, cores, sons) e a sintonia com os seres elementais (Devas Guardiões dos lugares, Gnomos, Silfos, Ondinas, Salamandras, Duendes e Fadas).
Da mesma forma que toda luz nasce da escuridão, o Deus, símbolo solar da energia masculina, nasceu da Deusa, sendo seu complemento, e trazendo em si os atributos da coragem, pensamento lógico, fertilidade, saúde e alegria. Da mesma forma que o sol nasce e se põe, todo o dia, o Deus nos mostra os mistérios de Morte e do Renascimento. Na Wicca, o Deus nasce da Grande Mãe, cresce, se torna adulto, apaixona-se pela Deusa Virgem, eles fazem amor, a Deusa fica grávida, o Deus morre no inverno e renasce novamente, fechando o ciclo do renascimento, que coincide com os ciclos da Natureza, e mostra os ciclos da nossa própria vida. Para alguns, pode parecer incestuoso que o Deus seja filho e amante da Deusa, mas é preciso perceber o verdadeiro simbolismo do mito, pois do útero da Deusa todas as coisas vieram, e, para ele, tudo retornará. E, se pensarmos bem, as mulheres sempre foram mães de todos os homens, pelo seu poder de promover o renascimento espiritual do ser amado e de toda a Humanidade. O sentido profundo do simbolismo na Bruxaria só pode ser verdadeiramente entendido através da meditação e do contato intuitivo com a energia dos Deuses.


AS FACES DO DEUS CORNÍFERO
Mavesper Cerridwen


O Deus realmente é deixado de lado muitas vezes nos cultos pagãos, como se a energia da Deusa pedisse essa dedicação exclusiva. Isto é verdade em parte, porque não é possível cultuar o Deus adequadamente enquanto não mergulharmos na Deusa e nos despirmos do Deus do patriarcado.
Quando no curso de nosso caminho - e demora meu anjo - está na hora do Deus voltar, a própria Deusa nos mostra seu Filho, Consorte, Defensor, Ancião.

Falando rapidamente: o Deus Jovem é, antes de tudo, a Criança da promessa, a semente do sol no meio da escuridão. Depois, é o Garoto do Pólen, o fertilizador em sua face mais juvenil, e trás a energia da alegria de viver, o poder de se maravilhar ante as descobertas da vida, é o experimentador, a face mais sorridente do sol matinal.

Dai surge o Deus Azul do Amor, o rapaz que cresceu e chegou na adolescência e desabrocha em beleza e masculinidade, é o Jovem Deus da Primavera, percorre as Florestas e acorda a natureza.

Ele é o Apaixonado, aquele que primeiro busca a Deusa como a Donzela e propicia o encontro... Ele é o Deus da sedução ainda inocente, que não conhece os mistérios da Senhora ainda... Ele é toda possibilidade.

Depois ele é o Galhudo e o Green Man... O Deus é o macho na sua plenitude, O Senhor dos Chifres que desbancou o gamo rei anterior, ele é força e poder, músculos e vitalidade, ele cheira a sexo e promessas. Ele é o Grande Amante, atraído irresistivelmente pela Senhora ele é o Provedor, o Sustentador, o Senhor Defensor.

Ele é o Senhor das Coisas Selvagens, o Deus da Dança da Vida, O Falo Ereto, O Fertilizador.

Como Green Man ele também é o Senhor da Terra e sua abundância, o parceiro da Senhora dos Grãos. O Senhor dos Brotos, aquele que cuida dos frutos e os distribui pela terra.

Mas o Deus é também O Trapaceiro, o Senhor da Embriaguez, o Desafiador e o Ancião da Justiça. Ele nos faz seguir um caminho e nos perdemos pra conhecer o pânico de Pan... Ele nos deixa loucos como Dioniso ou perdidos nos devaneios de Netuno... Ele é o Desafiador, seja nos duelos, seja na guerra, na luta pela sobrevivência...Ele é caprichoso e insidioso, ele nos engana, nos deixa desesperados e sorri - porque esse é seu papel; estimular o novo, mostrar que nosso desespero é inútil e só nos escraviza...

Como a Deusa, Ele está na fome e no fim da fome, na vida e na doença terminal, na luz e na sombra, no que é bom para você e no que é mau... A Deusa nunca está só, ela tem sua contraparte masculina e, no entanto, Ele só existe por amor a Ela... Alias, todos nós somos fruto dessa dança de amor.

O Deus é o Ancião sábio, o distribuidor da Justiça, seja a que se impõe com sabedoria ou raios... Ele conhece os segredos dos oráculos, mas sabe que são Dela... Ele é o repositório do conhecimento, mas a sabedoria é Dela... Ele lê os sinais da natureza, mas sabe que quem os escreve é Ela.

E o velho sábio vai murchando e se transforma no Senhor da Morte... Ele que é o Senhor de Dois Mundos, pois no ventre dela, de volta, ele vive sua morte e a própria ressurreição. Mistério e segredo, morte e retorno, Ele é o que atravessa os portais dos quais Ela é a Senhora.

Ele, o Caçador, que também faz o papel de Ceifador... Ele que ronda o leito dos moribundos e dança a dança da morte. O Senhor dos esqueletos.

Ele que na dança da morte retoma o brilho do sol e sua face negra se ilumina, em uma explosão impossível de conter, e Lugh nasce outra vez...

Ele que é pai, filho, bebê iluminado, amante selvagem, sábio educador... Ele, o Deus que se revela apenas pela Deusa.


A Deusa e o Deus

“Todas as Deusas são uma só Deusa, todos os Deuses são um só Deus”.


Conquanto a Deusa presida a pulsação vital constante do Universo, é imprescindível que entendamos o papel do Deus. Ela é a Senhora da Vida, mas Ele é o Portador da Luz; Ela é o ventre, Ele o falo ereto; Ela gera a vida, Ele é a faísca que inicia o processo, em plena harmonia, sem predomínios nem competições, mas pela completa união... Ambos parceiros no desenrolar da música e dança que criam e recriam o universo ainda hoje... Na Primavera Ela é a Donzela, Ele o Deus Azul do Amor... No verão ela é a Mãe, grávida, ele o Galhudo, o Deus da Vegetação e dos Animais, Cernunos... No outono ele desce para o Mundo Subterrâneo, como o Deus Negro do Mundo Inferior, do sacrifício e da Morte e Ela a Anciã que abre os portais e o acolhe durante sua transmutação. No inverno ele renasce do próprio ventre escuro da Deusa, que quase torna, assim, a um só tempo, sua consorte e sua mãe...

28 outubro, 2006

Espiral do Renascimento


A Bruxaria ensina que a reencarnação é o instrumento pela qual nossas almas são aperfeiçoadas. Uma vida não basta para atingir tal objetivo; a consciência (além) renasce inúmeras vezes, cada dia englobando um grupo diferente de ligações, até que a perfeição seja atingida.
A cobiça, a ira, os ciúmes, a obsessão e todos as nossas emoções negativas inibem nosso crescimento.
A alma não tem idade, sexo ou físico, possuindo a centelha divina do Deus e da Deusa.
Nós é que decidimos o desenrolar de nossas vidas. Não há deus maldição, força misteriosa ou destino sobre o qual possamos atirar a responsabilidade pelos fatos de nossas vidas. Nunca jogue a culpa no carma.

O carma não é um sistema de recompensas e punições, mas sim um sistema de orientar a alma em direção a ações evolutivas. Se uma pessoa prática ações negativas, receberá ações negativas em troca. O bem atrai o bem. Não há como "apagar o carma, assim como nem todos os eventos aparentemente terríveis de nossas vidas são um subproduto do carma.
A regressão a vidas passadas pode ser perigosa, pois envolve uma grande carga de autodesilusão. Se não deseja conhecer sua vida passada, ou não tem como fazê-lo, observe esta existência. Pode descobrir qualquer dado relevante sobre suas vidas passadas ao observar esta vida. Se sofrer, seus problemas em vidas passadas, estes não lhe dizem respeito. Caso contrário, os mesmo problemas ressurgirão, por isso concentre-se nessa vida.
Dizem que a alma quando morremos viaja para um reino conhecido como Terra do Verão (nomenclatura teosófica). Este reino não é nem paraíso nem submundo. Simplesmente é uma realidade não-física, muito menos densa do que a nossa.

O que ocorre após a ultima encarnação?



Dizem que após subir a espiral da vida, morte e renascimento, as almas que atingem a perfeição liberam-se para sempre desse ciclo e coabitam a Deusa e o Deus.
A morte é vista como a porta para o nascimento. Ela não é o fim; é um estágio do ciclo que conduz ao renascimento. Após a morte, é dito que a alma descansa na "Terra do Verão", onde ela é revigorada rejuvenesce e é preparada para renascer. O renascimento não é considerado eterna condenação, sombrio ciclo de sofrimento, como em algumas religiões orientais. Pelo contrário, é visto como uma dádiva da Deusa, que está presente no mundo físico. A vida e o universo não se encontram separados da deidade, eles são a divindade imanente.


As Luas do Ano

Janeiro / A Lua dos Antepassados
O contato com os antepassados é parte essencial na vida de uma bruxa. Amorosos e sempre prontos a nos ajudar, nossos ancestrais mortos se dispõe a atender a nossos pedidos e nos dão força nos momentos difíceis. O primeiro passo para você assegurar a comunicação com seus antepassados que habitam outros planos é lembra-se deles - mesmo daqueles que nunca conheceu. Assim, dedique o mês de janeiro às recordações. Pense nas crianças que morreram antes de se tornar adultas ou menos antes de nascer. Folheie antigos álbuns de família, olhe os retratos dos parentes que já fizeram a viagem para os planos espirituais. Relembre também os amigos que se perderam nessa caminhada. Para homenagear esses mortos queridos, coloque lugares extras à mesa, como se eles fossem seus convidados. Prepare e coma deliciosos doces e chocolates em memória das crianças e faça alguns dos pratos favoritos dessas pessoas falecidas. E nunca pense nos seus mortos com tristeza, pois se eles perceberem que você está triste também ficarão infelizes. Numa noite de Lua Cheia desse mês, encha uma vasilha de vidro com água e jogue uma pequena pedra dentro dela. Observe atentamente a água e concentre-se. Depois de algum tempo de meditação, você receberá uma mensagem, que poderá vir na forma de um pensamento ou mesmo pelo som de uma voz distante. Não tenha medo: é um antepassado se comunicando com você.

Fevereiro / A Lua da Busca do Conhecimento
Em sua grande maioria, as bruxas do passado foram mulheres do povo, que não tiveram acesso a uma educação formal, mas contaram com os benefícios de uma sabedoria ancestral e uma intuição aguçadíssima. Hoje, que podemos nos aventurar pelas sendas dos conhecimentos antes reservados aos homens, temos o dever de aproveitar essa oportunidade para aprimorar nossa cultura. Em fevereiro, a Lua da Busca do Conhecimento favorece o estudo. É o momento de você ler e adquirir novas informações, ampliando seus horizontes. É assim que você vai cumprir um dever para com suas antepassadas bruxas, que sofreram por não poderem penetrar num mundo praticamente exclusivo dos homens. Em todas as noites de fevereiro, prepare um chá com folhas frescas de Artemísia (de preferência, plantadas e colhidas por você mesma), erva que estimula o intelecto e favorece o aprendizado. Enquanto saboreia o chá, dedique-se à leitura ou ao estudo. Dê preferência às obras de filosofia, aos poemas e aos clássicos da literatura. Mesmo que, no começo, o desafio pareça grande demais, insista. Invoque a poderosa deusa Atena, senhora do conhecimento, para que ela ajude você nesse aprendizado. Aos poucos, sua mente se tornará mais ágil e você começará a aprender com muito mais facilidade. Se você necessita de um estudo mais específico, orientado para um objetivo determinado - algo ligado ao seu trabalho, por exemplo, aproveite o mês de fevereiro para colocar esse projeto em prática e mergulhar nos livros.

Março / A Lua do Olho Interior
O dom de enxergar além das aparências é inerente a todas as bruxas. Em março, na Lua do Olho Interior, você poderá trabalhar sua capacidade de enxergar as verdades que estão ocultas. Para que essa sensibilidade se manifeste, porém, você precisará aperfeiçoar sua relação com o mundo. Diariamente, exercite esse dom de "observar" o universo:
1. Ao acordar, dirija-se à janela e olhe o dia. Perceba como está o tempo. Chove? Faz Sol? Olhe bem para o céu.
2. Ao tomar o café da manhã, "sinta" o sabor dos alimentos. Comente com os outros o que você está sentindo.
3. Ao sair de casa, observe atentamente o caminho, parando sempre que alguma coisa chamar sua atenção.
4. Cumprimente gentilmente todas as pessoas que passarem por você, mesmo aquelas a quem não conhece.
5. Ao encontrar um amigo, converse com ele e diga o quanto está feliz por vê-lo.
6. Dê atenção a todos animais que encontrar.
7. Ao entardecer, suspenda suas atividades e observe o dia que termina. Perceba as cores, os sons, os cheiros, os movimentos da natureza.
8. Ao jantar, converse com os outros sobre os acontecimentos do dia e agradeça pelo alimento que agora você come.
9. Antes de dormir, "converse" com a noite e diga-lhe que você deseja ampliar sua visão interior.

Abril / A Lua das Vozes do Mundo
Agora que você já começou a desenvolver a sua sensibilidade e o dom de enxergar além das aparências, chegou o momento de aprender a lidar com as informações recebidas por meio da intuição. É a hora de ouvir as "vozes do mundo". Esse processo pode ser um pouco doloroso, pois nem sempre ouvimos aquilo que nos agrada. Mas a verdadeira sabedoria está em lidar serenamente com as adversidades que se apresentam, com plena consciência de que elas vão ser superadas no momento certo. Para entrar em sintonia com essa Lua, trabalhe sua tranqüilidade interior. Ao longo de todo mês consuma chás, verduras e temperos calmantes, à base de melissa, erva-cidreira, camomila, manjericão, alface ou folhas de maracujá. E abra seu coração para este momento, sem qualquer temor: aprendemos com as dificuldades, quando se manifestam coisas boas, sentimos uma deliciosa felicidade.

Maio / Lua de Contar Histórias
O conhecimento das bruxas é transmitido oralmente. Uma bruxa passa para a outra aquilo que ela sabe, sem necessidade de "aulas" ou qualquer sistema formal de ensino. A arte de contar histórias é um dom que deve ser exercitado durante a Lua de maio.
Nessa época, escolha uma pessoa de quem você gosta para ensinar a ela tudo o que você sabe. Mesmo que ainda esteja dando seus primeiros passos na feitiçaria, você perceberá que tem muito conhecimento valioso. Não se trata de ensinar simpatias ou encantamentos. Vale passar as receitas dos pratos que você sabe preparar melhor, ensinar a fazer um bordado, dar uma explicação sobre matemática. Mas o mais importante, nessa Lua, é passar adiante as histórias de família. Sabe aquelas coisas que ouvimos sobre nossos ancestrais, os casos de avós e tios? Tudo isso tem um poder muito grande. Conte essas histórias para as crianças da sua família, para que elas também conheçam o passado que pertence a todos. Ler as histórias de bruxas antigas e contá-las aos outros é uma boa opção, pois a tradição diz que, enquanto as bruxas forem lembradas, elas serão imortais. Durante esse mês, peça para a Mãe Lua brindar você com o dom da palavra e da sabedoria. E não esqueça de ouvir as valiosas lições que as pessoas mais velhas têm para ensinar.

Junho / A Lua dos Labirintos
Chegou o momento de você lidar com tosas as suas facetas. Em vez de ficar cobrando de si mesma "coerência" ou "lógica", aceite que você é um ser humano de múltiplos aspectos, alguns contraditórios. Dentro de você moram todas as deusas. Procure harmonizar-se com a vaidosa Afrodite, a maternal Deméter e a ousada Ártemis. Experimente com o máximo de intensidade cada uma dessas qualidades que habitam seu ser.
Para se integrar com Afrodite, aguarde a fase cheia da Lua e prepare uma infusão com pétalas de rosa cor-de-rosa. Tome esse banho mágico ao anoitecer e mire-se nua no espelho. Admire cada curva do seu corpo e faça uma automassagem, sentindo a suavidade da sua pele. Passe seu perfume favorito e se vista com uma roupa bem bonita, acompanhada de adornos delicados. A maternal Deméter pode ser invocada por meio de fazeres domésticos. Prepare um bolo de chocolate bem gostoso e bonito, enquanto "conversa" com a deusa, que lhe trará harmonia familiar e paz doméstica. A ousadia de Ártemis pode se obtida por meio da integração com a natureza. Busque um contato maior com as plantas e os animais. Afinal, ela é a deusa da caça, e sabe que a natureza só dá aquilo que merecemos - se você respeitá-la, a deusa certamente saberá retribuir.

Julho / A Lua das SereiasA Lua de julho nos convida a despertar para a beleza e a sensualidade. Ouça o canto da sereia que a convida a penetrar nos mistérios de Afrodite, a deusa da arte, do amor e da manifestação da beleza em todas as suas formas. Para entrar em contato com a deusa, recolha na praia um punhado de conchas do mar e água de rosas. Consiga um espelho de tamanho regular, oval e com cabo. Lave-o co água de rosas e deixe-o secar naturalmente. Quando o espelho estiver seco, comece a colar as conchas em volta dele, até preencher todo o seu contorno. À noite, coloque-o para tomar o sereno da Lua e só o retire ao amanhecer. Sempre que quiser entrar em contato com a deusa, recite o seguinte encantamento: Carne, mármore, flor, Vênus, em ti eu creio. Essas palavras mágicas foram retiradas de um dos poemas do francês Arthur Rimbauld. Ao recitá-las, você estará brindando a deusa com aquilo de que ela mais gosta - beleza e arte.
 Agosto / A Lua da Loba
A mulher que é bruxa tem que saber lidar com o amadurecimento e com a velhice. Mesmo você que seja uma adolescente, pensar na maturidade é um desafio importante, que precisa ser encarado na Lua da Loba, você vai aprender a reconhecer a força da mulher madura. Procure passar mais tempo na companhia de mulheres que você admira. Pode ser na companhia de sua mãe, uma amiga, uma professora, uma tia ou de sua avó. Não importa. Basta que seja uma mulher forte, de personalidade marcante, mas ao mesmo tempo bondosa, e que tenha mais de 50 anos. Olhe bem para essa mulher e reconheça nela as qualidades da Lua. A intuição, o amor, a inteligência que reluz nos olhos de todas as filhas da Deusa. Pense em Diana, a senhora da caça que supera todos os obstáculos com firmeza. Banhar-se com uma infusão de alfazema e mil-folhas, ervas que trazem força, vai ajudá-la a entrar em sintonia com a energia sutil da Lua da Loba.

Setembro / A Lua da Risada de Afrodite
A poderosa Afrodite vem nos cobrar quando fazemos mal uso do nosso corpo. Temperamental, ela afasta das mulheres que se prendem a relacionamentos insatisfatórios, baseados na hipocrisia e na falsidade, ou que se tornam escravas dos padrões convencionais de beleza e amor exigidos pela sociedade.
Para fazer as pazes com Afrodite, realize um feitiço de amor. No primeiro dia de Lua nova de setembro, despeje seu perfume favorito num caldeirão e coloque-o para ferver em fogo baixo. Quando o perfume estiver bem aquecido, apague o fogo e adicione 1/2 colher de chá de pólen de lírio, 1/2 colher de chá de canela em pó, 3 gotas de orvalho colhido de uma roseira, 1 gota de seu próprio sangue e 1 pêlo de uma gata negra (não arranque do animal: pegue um pêlo que tenha caído naturalmente). Então recite o encantamento: Afrodite, senhora das seduções, aquela que ao homem dá o ardor, me traz o calor das paixões e faz de mim um templo de amor! Guarde tudo num vidro e deixe-o ao ar livre. Recolha o vidro na manhã seguinte, antes do nascer do Sol. Use essa poção quando você quiser seduzir alguém que mereça o seu amor. Se usar esse feitiço de maneira leviana, poderá cair no desagrado da deusa.

Outubro / A Lua da Cura
Curar-se não é apenas se livrar de uma doença. É também entrar em harmonia com seu corpo, com seus órgãos, com seu ritmo, e conservar seu organismo em equilíbrio.
O primeiro passo é o controle da respiração. Inspire e expire consciente dos seus movimentos, da entrada e saída de ar dos pulmões. Todas as noites, antes de dormir, procure visualizar seus órgãos internos. Imagine seu coração batendo, o estômago em movimentos suaves para realizar a digestão, o fígado filtrando o que é bom para seu organismo. Evite comer coisas que fazem mal, abstenha-se das bebidas alcoólicas e modere quaisquer tendências a exageros. Com o tempo você vai perceber que é possível "ouvir” seu organismo, e dificilmente será vítima de uma doença inesperada. Comer uma folha fresca de sálvia todos os dias também vai ajudá-la a manter a saúde em ordem. E, para se prevenir contra contágios, faça um amuleto com um dente de alho, uma folha seca de sálvia, uma pedrinha de cânfora e nove cravos-da-índia. Carregue-o preso à roupa com um alfinete, para tê-lo sempre junto com o corpo.

Novembro / A Lua dos Sonhos
Sonhar é receber mensagens. Sonhar é encontrar respostas. Sonhar é conversar com amigos de outros planos. Assim é o sonhar da bruxa: não um desligamento da realidade. Mas uma entrada num plano superior. A verdadeira bruxa aprende a controlar seus sonhos e a realizar viagens astrais, sendo capaz de visitar, em espírito, lugares distantes e desconhecidos.
Para despertar esse dom de sonhar, durma com um caroço de ameixa na mão esquerda. Assim, você ativará sua intuição e se tornará mais consciente do real significado dos seus sonhos. Procure, ainda, ao acordar, anotar o que você sonhou na noite anterior. Desse modo, você vai aprender a dar atenção aos seus sonhos e será capaz de interpretá-los Corretamente.
E a Lua dos Sonhos também ensina a não temer o contato com outras dimensões. É natural que você fique insegura e sinta-se impelida a fugir do desconhecido. Reaja e assuma a plenitude de seu poder!

Dezembro / A Lua de Contar as BênçãosAo chegar na décima-segunda Lua. Você vai enumerar todas as coisas boas que lhe aconteceram no decorrer do ano. Examine sua vida e verifique os efeitos de todos os rituais realizados. Veja se você alcançou seu objetivo de se tornar uma mulher mais completa. Lembre-se de que uma mulher-lua está integrada à natureza, ama as plantas e os animais, respeita seus semelhantes e convive em harmonia com todos que a cercam. Se você estiver assim, feliz, bonita e satisfeita, é sinal de que seu trabalho foi bem-sucedido. Se ainda não chegou ao ponto desejado, insista, pois a magia requer paciência. E, no último dia do ano, agradeça à Mãe Lua, olhando para ela e recitando palavras de gratidão e amor. Agora, você e a Lua são únicas: mãe e filha, irmãs, namoradas, companheiras, cúmplices de feitiços e momentos de magia. Sinta essa força e nunca desista da sua caminhada!

27 outubro, 2006

Esbats



Além dos oitos Sabás, os povos celtas celebravam também os Esbats, ou seja, as treze luas cheias ao longo do ano solar.
A lua cheia foi venerada durante milênios por grupos de homens e mulheres, reunidos nos bosques, nas montanhas ou na beira da água, como a manifestação visível do princípio cósmico feminino, na forma das deusas lunares ou da Vovó Lua.
Com o advento das religiões patriarcais, houve uma divisão na vida religiosa familiar.
Os homens passaram a reverenciar os deuses – solares e guerreiros -, enquanto que as mulheres continuavam se reunindo para celebrar a lua cheia e honrar a Grande Mãe.
A cristianização forçada e, principalmente, as perseguições dos “caçadores de bruxas” durante os oito séculos de Inquisição, procuraram erradicar a “adoração pagã da Lua” e os Esbats foram considerados orgias de bruxas e manifestações do demônio.
A palavra Esbat deriva do verbo esbattre, em francês arcaico, significando “alegrar-se”, pois essas celebrações não eram tão solenes como os Sabás, proporcionando, além dos trabalhos mágicos, uma atmosfera jovial.

Há também uma semelhança com a palavra “estrus” – o ciclo lunar de fertilidade -, reforçando a idéia da repetição mensal dessas comemorações.
Durante os Esbats, reverencia-se as forças vitais criativa, geradoras e sustentadoras do universo, manifestada como a Grande Mãe.

À noite de lua cheia ou o plenilúnio, é o auge do poder da Deusa, sendo o momento adequado para rituais de cura e trabalhos mágicos.
Usam-se altares – simples ou elaborados – com os símbolos da Deusa e acrescentam-se os elementos específicos da lunação.
Alem dos rituais, há cantos, danças, contam-se histórias e fazem-se meditações.
No final, comemora-se repartindo pão ou bolo e bebendo-se vinho, suco ou chá, brindando à Lua e ofertando um pouco à natureza em sinal de gratidão à Mãe Terra.
O pão sempre simbolizou o alimento tirado da terra, enquanto que o vinho favorecia a atmosfera de alegria e descontração.
Atualmente, os plenilúnios são comemorados não somente pelos grupos estruturados da tradição Wicca (os “covens”), neopagã ou xamânica, mas também por grupos de mulheres ou pelos “solitários”. A Deusa está cada vez mais presente na vida e na alma das mulheres, os raios prateados da Lua realçando suas múltiplas faces.
Na Antiga Tradição, nas reuniões praticadas por “covens” ou individualmente, o ponto máximo do Esbat é o ritual de “Puxar a Lua”, ou seja, imantar uma sacerdotisa ou mulher com a energia da Deusa.

O objetivo desse ritual é triplo: primeiro, procura-se a união com a Deusa para compreender melhor seu mistério; segundo busca-se imantar o espaço sagrado com a energia mágica da Deusa e, em terceiro lugar, objetiva-se o equilíbrio dos ritmos lunares das mulheres e o aumento da fertilidade, física e mental.
Para atrair a energia da Lua, usa-se o punhal ritualístico (“athame”) ou um bastão consagrado, direcionando-o para um cálice com água. Invoca-se a Deusa e expõe-se seu pedido ou, simplesmente, entra-se em contato com sua essência, deixando-a penetrar em todo seu ser.
Fundir-se com a energia da Deusa é um ato de realização espiritual e jamais deve ser usado com fins egoístas, forjando mensagens ou avisos “recebidos” durante o ritual.
Quando o propósito é sincero e o coração puro, a experiência é sublime e comovente. Após um tempo de interiorização e contemplação, tornam-se alguns goles da água “lunarizada” e despeja-se o resto sobre a terra, para “fertilizá-la”.
Como em outros rituais, os Esbats devem ser feitos após invocarem-se os Guardiões das direções e os elementos correspondentes, criando-se o círculo mágico.
Além desse ritual tradicional e formal, pode-se celebrar o plenilúnio de forma mais complexa e criativa, usando-se os conhecimentos astrológicos da polaridade Sol-Lua.

Durante a lua cheia, a Lua se encontra no signo oposto ao do Sol, estabelecendo-se, assim, um eixo de complementação.
Em certos grupos mistos, trabalha-se a polaridade Sol-Lua reverenciando-se os casais divinos, representados por deuses solares e deusas lunares, escolhidos conforme as características astrológicas e espirituais do mês.

Sabás



O calendário possui 13 celebrações da Lua Cheia e 8 Sabás (que quer dizer o sétimo dia).
Quatro dos Sabás são associado a agricultura e ao ciclo reprodutor dos animais. 
São eles o Lughnasadh, Samhaim, Imbolc e Beltane. 
Os Sabás são rituais solares, assinalando pontos do ciclo anual do Sol, e constituem, apenas metade do ano ritual. 
Os Esbath são as celebrações da Lua Cheia.
Os Sabás são baseados no Sol são mais normalmente celebrados ao meio-dia ou na aurora, mais hoje isso é raro, muitos celebram a noite.
Apaixonado, o Deus mudando de forma e mudando de rosto, busca sempre a Deusa. Neste mundo, a procura e a busca surgem na Roda do Ano.
Ela é a Grande Mãe que dá luz a ele como a Divina criança do Sol, no solstício de inverno. 
Na primavera ele é semeador e a semente que germina com a luz crescente, verde como os novos brotos. 
Ela é a iniciadora que ensina a ele os mistérios. 
Ele é o jovem touro; ela é a ninfa sedutora. 
No verão, quando a luz é mais dourada, unem-se e a força da sua paixão sustenta o mundo. 
Mas a face do Deus escurece á medida que o Sol enfraquece, até que, finalmente, quando o grão é colhido ele também se sacrifica a fim de que todos possam ser nutridos. 
Ela é ceifeira, o túmulo da terra ao quais todos devem retornar. 
Durante as longas noites e dias que escurecem, ele dorme em seu ventre; em seus sonhos, ele é o senhor da morte que rege a Terra da Juventude, além dos portais da noite e do dia. 
Sua sepultura escura torna-se o útero do renascimento, pois no meio do inverno ela dá, novamente à luz a ele. 
O ciclo termina e começa outra vez e a Roda do Ano gira, ininterruptamente.
Muitos fazem confusão por causa dos Sabás, porque existem 2 calendários: o do norte e o do sul. Muita gente fica sem saber por qual seguir, eu sigo o calendário sul pois acho que não tem sentindo comemorar por exemplo o yule se aqui no Brasil não é inverno. Aí fica a disposição de cada um como acha que deve ser comemorado.