25 maio, 2012

Imagens espetaculares do eclipse solar 2012


Milhares de filipinos saíram às ruas nesta segunda-feira (21) para ver o eclipse solar, que também pôde ser visto em outros países como China, Japão, Rússia e, ao longo do dia de hoje, será avistável na costa oeste dos Estados Unidos e do Canadá.
O eclipse, conhecido como anular, atinge seu ápice quando forma um "anel de fogo" visível no céu, momento em que a Lua fica entre a Terra e o Sol.
Os chineses foram os primeiros a presenciar o primeiro eclipse solar de 2012, que teve início no domingo. A sombra da Lua sobre o Sol pode ser de até 96% e, dependendo da região onde é visto, sua duração pode variar. Em alguns locais, durou até cinco minutos.
No Japão, um eclipse como esse não era visto desde 1839. Por conta do "intervalo", as emissoras de TVs transmitiram o evento ao vivo e uma delas enviou uma equipe ao topo do monte Fuji.
Como olhar diretamente para o eclipse causa problemas médicos, a população foi orientada previamente, inclusive o ministro da Educação japonês, Hirofumi Hirano, foi à TV mostrar como usar óculos especiais.
Uma outra reportagem aguardou registrar, em um zoológico no sul de Tóquio, a reação dos chimpanzés, mas os animais não tiveram nenhuma mudança no comportamento, para decepção da equipe.
No Centro de Macacos do Japão, um grupo de 20 lêmures pulou o café da manhã e escalou e pulou entre as árvores, um comportamento noturno típico. Finalizado o eclipse, os animais voltaram às atividades diurnas normais. "Eles devem ter reagido ao eclipse", comentou o diretor do local, Akira Kato, à rede de TV NHK.
Índios navajos, que vivem na América do Norte, seguiram a tradição de seus antepassados, permanecendo em casa. Segundo um deles, eles evitarão comer, beber ou dormir enquanto durar o eclipse.








O eclipse anular do Sol ocorrido em 20 de maio não foi visto apenas por observadores aqui na Terra. Do espaço, o telescópio solar HINODE registrou imagens espetaculares, captadas de um ponto de vista único e se da Terra o eclipse foi do tipo anular, visto do Hinode o eclipse foi do tipo parcial.
Diferente dos telescópios solares que ficam estacionados em locais de equilíbrio gravitacional, conhecidos como Pontos de Lagrange, Hinode orbita a Terra a 630 km de altitude, em um tipo de órbita conhecida como helio-síncrona. Isso permite que o satélite observe o Sol 24 horas por dias a partir de uma perspectiva praticamente igual a dos observadores terrestres.
No entanto, o ângulo de observação do satélite com relação à Lua é ligeiramente diferente daquele visto da Terra, o que aumenta consideravelmente a paralaxe.
Em astronomia, paralaxe é a diferença na posição aparente de um objeto visto por observadores em locais distintos. Se aqui da Terra a Lua pareceu encaixada exatamente no centro Sol dando a ilusão de um eclipse anular, do ponto de vista do Hinode essa precisão não aconteceu e o evento teve a aparência de um eclipse parcial, com a Lua transitando parte o disco solar.

Devido ao tipo de órbita, o satélite Hinode registrou o eclipse durante quatro orbitas seguidas e produziu a bela sequência de imagens mostradas no vídeo.

09 maio, 2012

Praticante de bruxaria ganha processo por “assédio religioso”


O druidismo, uma forma de paganismo, é reconhecido como religião no Reino Unido e já está, inclusive, sendo ensinado em sala de aula. Para a maioria dos ingleses, de tradição cristã, esse é apenas outro nome para as antigas práticas de bruxaria que sempre fizeram parte da cultura em algumas regiões do país.
Um estudante de 16 anos de idade, que não pode ser identificado por razões legais, foi ouvido por um tribunal inglês em um caso inédito na Inglaterra. O jovem foi acusado de praticar “assédio religioso” contra uma funcionária da rede Mcdonalds que se declarou “pagã praticante”.
O réu descobriu através de amigos em comum que a jovem dizia ser pagã e por isso, negava os ensinamentos da Igreja oficial da Inglaterra, que é Anglicana, um ramo dos evangélicos. Durante mais de seis semanas enquanto ela estava no trabalho na lanchonete ele a criticou e zombou publicamente dela por causa de sua opção religiosa.
Simon Newell, representante do Ministério Público, disse: “O réu estava ciente dos efeitos que estava causando na vítima e nos outros funcionários. Ele sabia que isso era inaceitável e, mesmo assim, continuou. Ele admitiu que fez isso apenas para irritá-la”. O adolescente declarou-se culpado de “assédio religioso agravado”, uma forma de ofensa pouco comum, mas que gera pena ao acusado.
O tribunal da juventude de Colchester ouviu o adolescente que vive em Lawford e assediou a empregada do Mcdonalds entre 24 de dezembro de 2011 e 18 de fevereiro deste ano.
Ele repetidamente entrava no prédio onde funciona lanchonete na High Street para “provocar” a sua vítima, deixando a funcionária “muito chateada com isso”.
Nos termos do artigo 32, da Lei de Crime e Desordem, uma pessoa é culpada do delito, se cometer assédio “racial ou religioso agravado”. Após o julgamento na corte juvenil, os magistrados decidiram que o adolescente deverá cumprir pena em meio aberto durante três meses. Ele será obrigado a fazer trabalho não remunerado na comunidade e está proibido de ter contato com sua vítima até novembro deste ano.
A Federação Pagã da Grã-Bretanha comemorou, afirmando que os pagãos praticantes são livres para “buscar sua própria visão do Divino, como uma experiência direta e pessoal”. Ela define o paganismo como uma “religião que adora a natureza”. Também explica que eles incorporam uma “rica diversidade de tradições”, incluindo druidas e xamãs, enquanto se dedicam à bruxaria ou ecologia.
Laura Austin, que julgou o caso, disse ao tribunal que não sabia que o paganismo era uma religião reconhecida. Após a audiência, acrescentou: “Até onde sei, este é o primeiro caso desse tipo. Eu tive que fazer uma série de perguntas para me convencer de que era uma religião reconhecida e que se encaixava na legislação atual”.
Cas Morehan, dono da franquia da loja do Mcdonald, disse que: “Infelizmente existem casos onde os funcionários são submetidos a assédio e abuso por parte dos clientes… reconhecemos nosso dever de cuidar de nossos funcionários e tomar as medidas necessárias para proteger nossa equipe. Neste caso particular, precisamos chamar a polícia”.

08 maio, 2012

A história da inquisição no Brasil


Entre os séculos 16 e 18, a Inquisição investigou a Colônia. Prendeu mais de mil pessoas e mandou 29 para a fogueira. Seu maior alvo foram os cristãos-novos

"Arrependo-me e peço perdão porque pequei." Pela primeira vez em dois anos de martírio, Guiomar Nunes disse o que os inquisidores queriam ouvir. A multidão reunida na praça do Comércio, em Lisboa, na tarde de 17 de junho de 1731, gritava contra os hereges, enfileirados diante de um palanque, onde se encontravam autoridades políticas e religiosas. Diante de 3 mil pessoas eufóricas, um a um, os sete réus foram chamados à contrição uma última vez. Acusada de judaísmo, a pernambucana entre eles resistiu muito antes de confessar. Enfrentara interrogatórios duríssimos na prisão. Suas palavras derradeiras, porém, não bastaram para o Tribunal do Santo Ofício. O inquisidor se ajoelhou no tablado montado para a ocasião e, enquanto os auxiliares retiravam-lhe a capa e o barrete, os condenados eram aspergidos com água benta. Em seguida, receberam suas sentenças. Aos 47 anos, Guiomar foi garroteada - estrangulada com uma espécie de torniquete -, e seu corpo, consumido no meio da praça por chamas de até 6 m de altura. Ao pedir perdão, conseguiu evitar que fosse queimada viva. Do outro lado do Atlântico, no Engenho de Santo André (na atual Paraíba), o vendedor de latas Luís Nunes de Fonseca acabara de se tornar viúvo, com oito filhos do casal para criar.

Guiomar morreu em Portugal porque o Brasil não torturou ou fez arder seus hereges em fogueiras. Mas ela foi delatada e presa em um processo iniciado por aqui. E não foi a única. Por mais de 200 anos, a Inquisição católica atuou nas terras da América portuguesa. Estimulou delações e criou um clima de terror nas principais cidades por meio dos temidos visitadores e de auxiliares locais, integrantes do clero. Prendeu e enviou para a Europa pessoas que dificilmente voltavam à terra natal. Quem não foi condenado ao degredo e perdeu todos os bens acabou, como se dizia na época, purificado pelo fogo. A exemplo de Guiomar e dos outros condenados queimados com ela, que nem sequer puderam ser enterrados, suas cinzas foram espalhadas ao vento.
A capital baiana e outras cidades receberam os visitadores com procissões (ilustração: Kléber Sales) 
Cristãos-novos

À frente da União Ibérica, o rei Filipe IV bem que tentou instalar um tribunal do Santo Ofício no Brasil, em 1623, mas não teve autorização da Igreja e desistiu diante das invasões holandesas no Nordeste. Entre os séculos 15 e 16, com a ocupação de colônias na Ásia e nas Américas, Portugal e Espanha empenharam-se em retomar as perseguições que marcaram a Idade Média. O objetivo era garantir que as novas terras se tornassem obedientes à fé europeia e controlar com rédea curta a crescente população de cristãos-novos (descendentes de judeus convertidos).

A chamada Inquisição medieval teve características distintas. Começou no século 13 (com precedentes no século anterior), agiu principalmente na França e na Itália e perseguiu quem discordava dos dogmas do catolicismo ou desrespeitava suas estritas normas de conduta. No século 15, porém, no auge do Renascimento, a atuação dos inquisidores era decadente. Após pressionar muito o papa, a Espanha conseguiu recriar o tribunal, em 1478, e Portugal, em 1536. Estava inaugurada a Inquisição moderna. Os espanhóis instalaram tribunais em cidades centrais de suas colônias: Cartagena, Lima e Cidade do México. Os portugueses conseguiram fazer isso apenas na mais distante: Goa (na atual Índia).

"Os judeus, em princípio, não podiam ser perseguidos pela Inquisição, que investigava apenas as pessoas batizadas. Mas, depois de forçados à conversão, seus descendentes eram investigados até mesmo dez gerações depois. Era racismo mesmo", diz o historiador Bruno Feitler, autor de Nas Malhas da Consciência - Igreja e Inquisição no Brasil. Os cristão-novos eram estigmatizados e perseguidos havia pelo menos três séculos. Com o surgimento de colônias afastadas dos centros de poder, muitos deles preferiram se mudar (ou foram expulsos), o que causou preocupação nas autoridades locais, que temiam a retomada de práticas judaicas. Considerada a primeira professora do Brasil, Branca Dias foi vítima desse cenário. Denunciada pela mãe e pela irmã (possivelmente sob tortura) ainda em Portugal, ela respondeu às acusações de judaísmo, cumpriu pena de dois anos de prisão e depois imigrou com o marido para Pernambuco, onde foi investigada mais uma vez - mesmo vários anos depois de morta, em 1558. Acabou condenada, assim como suas filhas e netas (elas, sim, estavam bem vivas...).

Com a atuação nas metrópoles e no além-mar, esse segundo momento da Inquisição foi marcado por um controle muito maior do Estado, que sustentava os tribunais e se responsabilizava por organizar os autos de fé, as grandes simulações do Juízo Final. Invariavelmente, as fogueiras eram acesas, os hereges, queimados (vivos, mortos ou na forma de bonecos, as efígies), e o povo festejava madrugada adentro. No Brasil, os representantes do Tribunal do Santo Ofício eram as autoridades eclesiásticas locais, que tinham autonomia para identificar casos de desobediência à fé, realizar investigações preliminares e prender os suspeitos, remetidos para Lisboa, onde o processo era concluído. Essa estrutura funcionou entre os séculos 16 e 18. A sede podia estar distante, mas a Inquisição mostrou sua força bem de perto, especialmente quando enviou funcionários para visitas pessoais a algumas áreas cruciais da Colônia.

Visitações

Era um grande acontecimento. O desembarque do emissário mobilizava a população e fazia multiplicar as procissões. Acompanhado de um séquito de dezenas de pessoas, o visitador era instalado em algum casarão central, onde o governador-geral, funcionários de alto escalão, juízes, bispos, vigários e missionários passavam para o beija-mão. Em 1591, a recepção ao primeiro dos quatro enviados parou Salvador: "Heitor Furtado (de Mendonça) veio debaixo de um pálio de tela de ouro e, adentrando a Sé, ouviu renovados votos de louvor à sua pessoa e ao Santo Ofício. Dirigiu-se então à capela-mor, após a leitura da constituição de Pio V em favor da Inquisição, onde estava posto um altar ricamente adornado com uma cruz de prata arvorada, e quatro castiçais grandes, também de prata, com velas acesas, além de dois missais abertos em cima de almofadas de damasco, nos quais jaziam duas cruzes de prata. Em meio a todo esse luxo, o visitador rumou para o topo do altar, sentou-se numa cadeira de veludo trazida pelo capelão e recebeu o juramento do governador, juízes, vereadores e mais funcionários, todos ajoelhados perante o Santo Ofício", descreve o historiador Ronaldo Vainfas. Sabe-se que Mendonça chegou preocupado - tinha lido um texto em que o padre Antônio Vieira dizia que, no Brasil, "não se guarda um só mandamento de Deus e muito menos os da Igreja".

O início das visitas marcava o Tempo da Graça, período de até 60 dias em que todas as pessoas eram "convidadas" a se manifestar. Nas ruas eram afixadas cópias do monitório, documento que listava os "crimes" sujeitos a investigação, incluindo blasfêmias, sacrilégios e, claro, transgressões sexuais e judaísmo. "Quanto mais rápido a pessoa se apresentava, menos suspeitas levantava contra si", diz Fernando Vieira, professor da Universidade Católica de Brasília. A essa altura, a festa dava lugar à tensão. Como as denúncias eram anônimas, aquele era o momento ideal para vinganças. Uma mulher trocada pelo marido, por exemplo, poderia denunciá-lo por bigamia (também há casos de denúncias de homens abandonados pela mulher). Um comerciante passado para trás nos negócios era capaz de sugerir que o concorrente praticava o judaísmo. Escravos denunciavam os seus senhores por sodomia. Na medida em que as acusações se acumulavam, os suspeitos eram levados para diante do visitador. Nem sempre sabiam qual o suposto crime. "No século 17, um homem acusado de homossexualismo confessou judaísmo porque achou que esse era o motivo da denúncia. Acabou julgado pelos dois", afirma Feitler.

Muitas vezes, amigos entregavam uns aos outros e familiares eram forçados a voltar-se contra um parente. Foi o que ocorreu com Ana Rodrigues, a primeira moradora do Brasil condenada à fogueira (leia essa e outras histórias a partir da pág. 30). "A chegada do visitador causava um descontrole nas relações sociais", diz o historiador Angelo Assis, professor da Universidade de Viçosa. O barbeiro Salvador Rodrigues foi acusado de sodomia pelos próprios irmãos na Belém de 1661. O inquérito levantou uma vasta rede de contatos homossexuais e acabou punindo outras pessoas na cidade.

Tradicionalmente, são citadas três visitações ao Brasil. A primeira, entre 1591 e 1595, passou por Bahia, Pernambuco, Itamaracá e Paraíba, num momento em que a União Ibérica enviava vários inquisidores às suas colônias. A segunda, de 1618 a 1621, a cargo de dom Marcos Teixeira, voltou à Bahia, dessa vez com maior foco na busca por cristãos-novos. A terceira, de 1763 a 1769, visitou a província do Grão-Pará e Maranhão e ficou sediada em Belém. As motivações dessa última não estão muito claras, mas a explicação mais comum é a de que ela funcionou para prover suporte ao novo governo local e para mudar a direção da Igreja na região - o visitador, Giraldo José de Abranches, chegou com o novo governador-geral, Fernando da Costa de Ataíde Teive, e acumulou o posto de novo bispo da província. De toda forma, em nenhum outro lugar foram investigados tantos curandeiros e feiticeiros quanto naquelas paragens.

Dúvidas

Os arquivos dessas investigações ainda não são totalmente conhecidos. Localizados na Torre do Tombo, em Portugal, eles citam 40 mil nomes de pessoas perseguidas, mas sem classificação por local de nascimento. Tampouco está claro se essas foram as únicas visitações. Recentemente descobriu-se outra, entre 1627 e 1628, que passou por Rio de Janeiro (onde o visitador Luís Pires da Veiga foi ameaçado de apedrejamento pela população), São Paulo e São Vicente. "Com certeza, há visitações das quais ainda não se encontraram os livros, fora aqueles que se perderam em naufrágios", afirma Assis.

O certo mesmo é que a Inquisição teve grande impacto na vida da Colônia. "A ação inquisitorial se fez sentir em todo o Brasil desde o início da colonização até o século 18, mesmo em capitanias que nunca receberam visitações, como Minas Gerais e Ceará", afirma a historiadora Marcia Eliane Souza e Mello, professora da Universidade Federal do Amazonas. Tanto isso é verdade que há registros de processos antes da primeira visitação. Já em 1546, o donatário da capitania de Porto Seguro, Pero do Campo Tourinho, foi denunciado por ter afirmado que, em suas terras, ele era o "papa" e que trabalhador nenhum tiraria folga nos domingos e dias santos. Ao longo da década de 1550, em Salvador, o bispo dom Pedro Fernandes Sardinha, o primeiro do Brasil, exerceu funções inquisitoriais.

Bispos, padres, missionários, todos os membros da Igreja eram orientados a observar os costumes de seus fiéis e encaminhar os casos suspeitos para instâncias superiores. Mas a rede do Tribunal do Santo Ofício era mais vasta: havia representantes locais escolhidos no clero, os "comissários", que tinham a obrigação de circular pela região com os olhos (e ouvidos) bem abertos. E contavam com a ajuda de informantes, os "familiares", homens influentes que conseguiam da Igreja um certificado de que tinham boa conduta e "sangue puro", intocado por antepassados judeus (o poeta Cláudio Manoel da Costa, por exemplo, foi recusado por "suspeita de sangue"). Os "familiares" acompanhavam as prisões e o confisco de bens determinado pelos comissários, às vezes antes mesmo da conclusão dos processos. A Quaresma era estratégica: todos os habitantes tinham o dever de confessar os pecados - e de entregar os alheios, sob pena de responder como cúmplices.

As grandes cidades foram as mais visadas. Minas Gerais, no auge da mineração, foi alvo preferencial. Assim como o Rio de Janeiro, na medida em que crescia em importância. No fim das contas (ao menos das disponíveis), veio de lá a maior parte dos acusados. "Rio e Minas, principalmente no século 17, tinham um importante número de representantes inquisitoriais. Mas há vítimas espalhadas por boa parte do país, como no Espírito Santo, no Piauí e em Goiás", diz a historiadora Anita Novinsky, da USP. Só na Paraíba, no século 18, 50 pessoas do mesmo círculo familiar foram presas, acusadas de manter as esnogas (sinagogas secretas). No Mato Grosso, foram cinco viagens de comissários em busca de casos de feitiçaria. O "mandingueiro" Manoel Francisco Davida não escapou.

Técnicas de investigação

Sobretudo nos inquéritos por judaísmo, era comum os acusados se comprometerem por manter tradições como enterrar os mortos em terra virgem e certos hábitos à mesa. O capelão do inquisidor geral em Portugal, Andrés Bernardez, recomendava: "Existe uma forma judaica de cozinhar e comer, a que todos devemos estar atentos. Eles preparam seus pratos, principalmente a carne, com muito alho e cebola, fritando-os ao invés de assá-los ou utilizar a banha de porco". Na Bahia de 1560, a mucama de Joana Fenade a denunciou por "fritar cebolas em óleo e jogá-las numa panela com carne para todos comerem".

É verdade que a Inquisição foi muito mais mortal em outras praças (veja à dir.), mas isso não diminui o rastro de medo deixado no Brasil. De toda forma, ela legou aos historiadores relatos preciosos sobre o cotidiano da Colônia até cerca de 1768, quando o Tribunal do Santo Ofício português foi transformado em tribunal régio (no contexto das reformas do marques de Pombal), o que esvaziou sua atuação. A extinção formal ocorreu em 1821. Os processos reproduzem hábitos religiosos, alimentares, sexuais... As toneladas de papel arquivadas no Tombo apresentam da genealogia detalhada das famílias envolvidas às traições nos casamentos. "É um acervo riquíssimo e ainda não totalmente investigado", diz Novinsky.

Infelizes condenados

Algumas das vítimas dos visitadores e dos representantes da inquisição

Ana Rodrigues

A cristã-nova era uma octagenária quando foi presa, na Bahia, em 1593, acusada de judaísmo. Morreu na cadeia, em Lisboa, e ainda assim foi punida: seus ossos foram incinerados após dez anos. Era a primeira prisioneira da colônia levada à fogueira.

Bento Teixeira

Um dos primeiros poetas do Brasil, o português fugiu para Pernambuco após matar a esposa. Sua biografia é nebulosa, mas, em 1594, foi intimado pelo visitador Heitor de Mendonça, acusado de judaísmo. Foi condenado em Lisboa, mas acabou libertado.

João Fernandes

Foi delatado por amigos na cidade de Olinda, com 20 anos de idade, em 1594. Admitiu ter tido "ajuntamento carnal nefando e sodomítico" em uma rede com Bartolomeu Pires, filho do ferreiro da região. Foi denunciado em praça pública, mas seu destino é desconhecido.

Antonio de Gouveia

Ordenado sacerdote, o açoriano virou jesuíta. Foi desligado da ordem ao ser acusado de praticar necromancia. Preso, acabou desterrado para Pernambuco, onde foi detido de novo, em 1571, por manter as "atividades mágicas" com mortos.

Feliciana de lira Barros

Nascida no Pará, era costureira e cristã-velha. Viúva aos 36 anos, foi processada por sodomia, denunciada por vários parentes, em 1763. Foi levada a Portugal para julgamento, mas não se sabe exatamente o que aconteceu com ela depois disso.

Manuel lopes de Carvalho

Foi um dos poucos brasileiros queimados vivos. Nasceu na Bahia e ordenou-se padre. Defendia a união entre o cristianismo e o judaísmo. Na prisão, chegou a dizer que seria ele o messias. Morreu em 1726.

Antonio José da Silva

Conhecido como "o Judeu", nasceu no Rio de Janeiro, em 1705. Estudou direito em Coimbra e escreveu peças que ironizavam a sociedade portuguesa. Foi preso com a mãe e a esposa em 1737. Condenado, pediu perdão e, por isso, foi morto antes de ser queimado, em 1739.

Saiba mais

LIVROS


O mais completo levantamento sobre o assunto, com estudos de caso e estatísticas.

Inquisição em Xeque: Temas, Controvérsias, Estudos de Caso, Ronaldo Vainfas, Bruno Feitler e Lana Lage da Gama (orgs.), Ed. Uerj, 2006.

Somatória de artigos que analisam a Inquisição no Brasil em vários aspectos.


Até hoje uma relevante obra de referência sobre os hábitos dos habitantes da colônia que foram perseguidos.

A inquisição...

- Investigou 1076 pessoas no brasil e condenou 29 à fogueira (vivas, depois de mortas ou queimadas em efígie).

- Foram 778 homens e 298 mulheres processados, sendo que... 46,13% dos homens e 89,92% das mulheres foram acusados de judaísmo

- 38% dos homens e 8% das mulheres foram denunciados por realizar feitiçaria ou pactos com o demônio

- O restante foi enquadrado nas outras heresias, em especial bigamia e sodomia

- Do total de investigados, 27,76% eram mercadores e agricultores, contra 12,86% de artesãos

Outros Tribunais

Em Portugal, foram...

- 29 590 investigados

- 2 441 condenados à fogueira

Em Goa, foram...

- 3 800 investigados

- 42 condenados à fogueira

Fonte: Anita Novinsky, dados localizados nos arquivos da Torre do Tombo. período de 1536 a 1821
Por: Tiago Cordeiro, Controvérsia

26 abril, 2012

Oração Lakota



Wakan Tanka, Grande Mistério,
ensine-me a confiar
em meu coração,
em minha mente,
em minha intuição,
em minha sabedoria interna,
nos sentidos de meu corpo,
nas bênçãos do meu espírito.
Ensine-me a confiar nestas coisas,
para que possa entrar em meu Espaço Sagrado
e amar além do meu medo,
e assim Caminhar com Beleza
com a passagem de cada Sol glorioso.
 
De acordo com o Povo Nativo,
o Espaço Sagrado é o espaço entre a exalação e a inspiração.
Caminhar em com Beleza é ter o Céu (espiritualidade) e a Terra (físico) em Harmonia
Tradução: Gabriel Mallet Meissner

18 abril, 2012

Paganismo e Bruxaria no Reino Unido


Escolas britânicas mudam programa de educação religiosa

Um sistema escolar britânico incluiu, pela primeira vez, o estudo da bruxaria e druidismo em seu programa de educação religiosa oficial, ou seja, práticas pagãs serão ensinado ao lado de religiões contemporâneas, como o cristianismo, islamismo e judaísmo.
Enquanto o cristianismo continuará a ser o foco dominante nas escolas, os alunos agora também vão aprender sobre as antigas crenças druidas das Ilhas Britânicas que prosperaram antes do cristianismo, além dos aspectos de feitiçaria, e a adoração dos deuses de várias regiões, noticiou o Daily Mail.
O programa deixa claro que os alunos, a partir de 5 anos de idade, vão aprender principalmente sobre o cristianismo, mas 40 por cento do outro material religioso será dedicado às crenças não-cristãs e pagãs.Os materiais de estudo também vão ajudar as crianças a "compreender as crenças básicas" do paganismo e reconhecer os filhos de pais pagãos, que também seguem a religião.
Ainda assim, a decisão de proporcionar aos alunos uma maior exposição a crenças pagãs é visto como controverso por alguns, com os críticos que afirmam que modernos pagãos e seguidores da Wicca, um grupo minoritário, estão pressionando para que tais crenças sejam feitas mais proeminente na sociedade britânica.

07 abril, 2012

Mulheres acusadas de bruxaria sofrem com estupro no Nepal


A ambivalência do hinduísmo tradicional perante a feminilidade e um patriarcado bem arraigado à sociedade são os fatores que explicam a violência contra as mulheres do Nepal, vítimas de crimes como estupro e bigamia. Embora no hinduísmo mulheres e homens sejam consideradas "metades complementares", e exista uma importante corrente que exalta o poder criativo feminino, o "shakti", o marido é um "deus" para sua esposa.
"Os postulados religiosos que continuam na mentalidade do povo são um dos fatores que incentivam a violência contra a mulher", disse à Agência Efe a ativista pela igualdade de gênero Bandana Sharma. No Nepal há mulheres que seguem sofrendo abusos, maus-tratos físicos e psicológicos, bigamia - aceita quando a primeira esposa de um homem é incapaz de ter filhos -, e acusações de bruxaria.
"As indigentes idosas são acusadas de bruxaria e submetidas à violência porque em nossa cultura, sobretudo no sul do Nepal, existe a tradição de atribuir as desgraças à ação de alguma bruxa", acrescentou Bandana. O problema da violência sexual voltou à tona no Nepal recentemente, com a apresentação do estudo "Justiça Revelada: falam as sobreviventes de estupros", que evidencia a falta de proteção das nepalesas.
Muitas entrevistadas alegaram que a violência ocorre porque há homens que veem as mulheres como "meros objetos, cidadãs de segunda classe", e que os abusos são um ato "natural" para homens jovens e sexualmente agressivos. "A mentalidade patriarcal é a razão principal para que a violência contra a mulher continue. No Nepal há uma cultura de silêncio pela falta de apoio e a dificuldade de recorrer ao sistema legal", afirmou à Efe a chefe do estudo, Bindu Gautam.
Bindu contou que a polícia nem sempre investiga as denúncias de estupro, e que muitas violentadas não se atrevem a falar do fato porque é a própria vítima é a culpada e, frequentemente, os agressores fazem parte de seu convívio. Os ativistas, no entanto, consideram que a situação melhorou nos últimos anos e que a conscientização pública cresce cada vez mais neste país do Himalaia, onde três quartos da população pregam o hinduísmo.
O Nepal acaba de pôr fim a uma campanha de cem dias contra a violência sexual, que contou com apoio do primeiro-ministro, Baburam Bhattarai, e em que os ativistas se reuniram com funcionários de todos os distritos do país.
É difícil quantificar os crimes em um país com a precariedade administrativa do Nepal, embora a polícia registre 486 estupros no país em 2010, número superior à média de 433 para o período 2007-2010. A causa mais comum de violência são os maus-tratos domésticos, embora também sejam registrados casos relativos à posse de terras e imóveis e, no distrito de Dang, as mulheres enfrentam a aceitação social da bigamia.
"Os homens não recorrem à bigamia para ter filhos. Voltam a se casar por prazer", afirmou à Efe a ativista Nirmala Bagchand, da Associação dos Defensores dos Direitos Humanos das Mulheres. O Nepal aprovou há quatro anos uma lei de violência doméstica, mas os ativistas denunciam que a implementação não foi adequada e é muito branda, porque se centra na reconciliação do casal e as penas são de pouca duração.
Um agressor, de acordo com a advogada Sanu Laxmi Gahsi, pega uma pena de seis meses, enquanto um polígamo uma condenação máxima de três anos, e não existem disposições especiais para as vítimas nem para as ativistas que lutam para desfazer a mentalidade patriarcal. "Já recebi ameaças de morte e disseram que atearão fogo na minha casa", contou Nirmala Bagchand.
Fonte: Terra, Uol

31 março, 2012

Respeito entre crenças começa dentro da escola


Informação e cursos preparatórios para professores são necessários para evitar problemas de intolerância 

O possível caso de bullying envolvendo um aluno de 15 anos da Escola Estadual Antônio Caputo, em São Bernardo, levanta a discussão sobre a forma como deve ser tratada a questão da religião dentro das instituições de ensino.

O estudante afirma que a professora de História Roseli Tadeu Tavares de Santana utilizava vinte minutos da aula para falar sobre a sua religião e fazer pregações. Como o adolescente era contra e praticante de Candomblé começou a sofrer discriminação religiosa.

As escolas estaduais não são orientadas por nenhuma religião e o proselitismo religioso nas unidades é vetado, de acordo com a Secretaria de Estado da Educação. Se a escola é laica, mas há divergências entre o que a instituição de ensino propõe e a prática de professores, a solução então, é alertar e formar melhor os profissionais.

“A sala de aula é um local para reflexão, não para culto. Muitas vezes, ao ensinar história, esbarramos na questão da história de algumas religiões, mas o que devemos fazer é convidar os alunos para refletirem e discutirem a religião com base na ciência e não na fé. Temos que tomar muito cuidado, principalmente nos dias de hoje, com a enorme pluralidade de crenças dos alunos”, defendeu o coordenador do curso de História da Fundação Santo André, José Amilton de Souza.

Para o professor Jung Mo Sung, diretor da Faculdade de Humanidades e Direito da Universidade Metodista de São Paulo, em alguns casos até existe boa vontade dos professores de compartilhar sua orientação religiosa, mas os problemas acontecem quando se esquecem que a sala de aula não é local para isso.

“O que acho que existe é uma confusão sobre o que é espaço público. A escola, principalmente a pública, não é lugar para fazer culto. Não se pode obrigar os alunos a participarem de cultos a não ser que faça parte da orientação pedagógica da grade curricular, por exemplo, pedir para que participem de várias celebrações de algumas religiões para que se discuta determinados aspectos em sala de aula”, explicou.

Informação contra condutas impróprias nas salas de aula

Para ajudar as instituições de ensino a combaterem os problemas causados pelo bullying, a AESP-ABC (Associação das Escolas Particulares do Grande ABC) faz seminários e cursos sobre prevenção. “Sabemos que os jovens são cruéis e que é da idade começarem com brincadeiras de todo o tipo, inclusive de cunho religioso. É preciso, no entanto, instruir os professores sobre o que é tolerável e o que não. A conduta profissional também é importante porque se a escola é laica, deve-se seguir esta regra”, afirmou a presidente da entidade, Oswana Fameli.

O Colégio Metodista, de São Bernardo, orienta professores e alunos sobre intolerância religiosa e outras questões individuais para evitar bullying e preconceitos.

Mesmo com orientação religiosa assumida, a instituição faz questão de tratar de religião apenas na disciplina específica. “Não somos obrigados a seguir os parâmetros curriculares nacionais para montar nossas aulas de religião porque somos uma instituição com orientação. No entanto, mesmo assim os seguimos e proporcionamos aulas nas quais são abordadas as histórias de inúmeras religiões e crenças. O que passamos para os alunos de modo geral são valores universais”, disse o reverendo Luiz Eduardo Prates, coordenador da Pastoral Universitária e Escolar.

Ainda de acordo com o porta-voz da instituição, todos os professores quando são contratados passam por orientação na qual é mostrada a importância do “amplo respeito à diversidade de escolhas”. “Temos inúmeros professores que não possuem religião e outros que possuem orientações religiosas diferentes da nossa. Estimulamos o diálogo entre alunos e professores para que não haja problemas.”

19 março, 2012

Túmulo anglo-saxão pode marcar passagem do paganismo ao cristianismo


Arqueólogos encontraram um túmulo anglo-saxão perto de Cambridge, Inglaterra, que poderia ser um dos primeiros exemplos do cristianismo, que aos poucos roubou a cena do paganismo.
Dentro dele, foi descoberto o esqueleto de uma adolescente, enterrado em uma cama de madeira, com uma cruz de ouro em seu peito.
A cruz é apenas a quinta a ser descoberta no Reino Unido. Somente 12 outros enterros parecidos foram encontrados.
E, segundo os cientistas, essa combinação exata – cama onde o corpo foi colocado em uma moldura de madeira unida por suportes de metal e símbolo cristão (cruz) – é extremamente rara.
“Acreditamos que há apenas um outro exemplo de um enterro com cama de madeira e cruz no peitoral, em Ixworth, Suffolk”, disse a pesquisadora Alison Dickens.
O túmulo da adolescente, que os cientistas acreditam que tinha cerca de 16 anos de idade, era um de quatro túmulos descobertos ao sul de Cambridge. Os outros três foram descritos como enterros anglo-saxões mais típicos, sem indicações do cristianismo.
O túmulo pode datar do meio do século 7 d.C., quando o cristianismo estava começando a ser introduzido aos pagãos anglo-saxões.
A cruz de 3,5 centímetros encontrada no peito da menina provavelmente tinha sido costurada a sua roupa. Outros artefatos, como um saco de pedras preciosas e semipreciosas, e uma pequena faca também foram encontrados com o corpo.
Segundo os arqueólogos, o estilo da cruz era comparável ao tesouro real anglo-saxão descoberto em Sutton Hoo, em Suffolk.
O método de enterramento e qualidade das joias pode indicar que a menina era de uma família nobre ou real.
Sendo assim, a conversão cristã poderia ter começado em cima, com a nobreza, e filtrado para baixo, até se generalizar até as camadas mais pobres.
Apesar dessas especulações, o corpo possuir tantos bens consigo – supostamente para uma vida após a morte – é contrário à crença cristã, que diz que o corpo não vive após a morte.
No entanto, a fusão de possíveis dois ritos funerários – cristão e pagão – pode colocar o túmulo à beira da mudança de religião, de pagã para cristã.
No futuro, os cientistas querem determinar se havia alguma relação entre a garota cristã e os três outros esqueletos, encontrados em estreita proximidade.
Por Natasha Romanzoti, Hypescience