07 outubro, 2007

Ser Bruxa (o)


É ser uma pessoa sensível, às vezes, muito mais do que se gostaria de ser. Não é ser paranormal, nem ter superpoderes, nem ser adivinho, ou sequer lidar com oráculos, como o tarô, as runas ou qualquer outro.
Ser bruxo é amar o feminino em harmonia com o masculino. É potencializar o melhor dessas duas polaridades e compreender que são interdependentes e complementares.
Às vezes é ser meio "bicho esquisito", sim. Não acredito que se interessem por Bruxaria, e, menos ainda que sejam bruxas, pessoas muito convencionais, muito adaptadas ao padrão social. Até porque, a Bruxaria é uma religião mais solta, menos dogmática, não hierarquizada, que responsabiliza a nós mesmos pela nossa vida, que nos ensina a buscar o contato direto com os Deuses, e não delegar poder a outros sacerdotes que não sejam nós mesmos, e a maioria das pessoas não querem isso.
Os verdadeiros bruxos e bruxas não precisam que nenhuma organização lhes outorgue o título, lhes reconheça como tal. Até por que isso é a maneira patriarcal, cartesiana de se organizar e de agir, que nada tem a ver com esse novo-velho modo de agir que tentamos resgatar, que é uma visão de mundo e uma atitude mais ligada à Deusa, ao feminino e ao masculino adulto, e não ao masculino infantil representado pelo patriarcado.
Os que ainda se prendem a tais bobagens não são os verdadeiros bruxos; podem até ser os que se encontra com mais facilidade, mas isso é bem diferente.
São os que ainda não entenderam bem a fundo a magnitude da mudança proposta pela Wicca.

A Bruxaria está para ocultismo como o punk está para o rock. Faz parte dele, mas diferencia-se pela rebeldia, pelo "faça você mesmo", em oposição a métodos rígidos, ao virtuosismo, ao racionalismo, ao modo de pensar patriarcal que se baseia em conhecimento teórico em detrimento ao conhecimento emocional, visceral. Ou seja, saia da platéia e vá para o palco, ainda que você só saiba três acordes.
Expresse-se! O mais importante para um bruxo é o amor. O amor acima de tudo.
Ser bruxo é respeitar que muitos pensam de forma diferente disso, e nem assim devem ser inimigos, pois a tolerância religiosa e o respeito à diversidade são cruciais para todos nós, seres humanos. O nosso ponto de vista é o melhor apenas para nós; o do outro é, certamente o melhor para ele e tudo bem se continuar sendo, pois não podemos nem tencionamos fazer proselitismo. Apenas todos devem poder se expressar livremente e ser respeitados. Isso é um dos primeiros aprendizados espirituais, não só da Wicca, pois eu disse "espiritual" e não "religioso"; uma das coisas muito bonitas que eu encontrei na
Wicca foi esse ensinamento de não promover a religião, e sim, deixar que as pessoas se atraiam por ela naturalmente, se tiver que ser.
Hoje sei que ser bruxo não é para qualquer um, não. Já pensei que quem quisesse poderia se tornar um, descobri que não. Precisa de um dom, sim. Mas não quero dizer com isso que sejamos só melhores por termos esse dom, podemos ser piores, em muitos aspectos, pois sofrem mais as pessoas mais sensíveis. Preocupo-me com as pessoas que querem ser bruxas por achar que todos os seus problemas se resolverão, ou que isso lhes dará um motivo para empinar os narizes e se acharem melhores que outros... E preocupo-me também pelos que se deixam iniciar por outrem, apenas por acharem que isso é o correto, que suas iniciações precisam ser reconhecidas por tal organização. Eu, já tendo passado por ambas, não acredito em outra forma de iniciação mais poderosa do que a auto iniciação.

Com um acompanhamento de um Wicca mais experiente, sim, mas o momento é solitário. A experiência é muito mais forte se você estiver sozinho. É como um parto, o médico ajuda, mas foi ele que lhe deu a vida? É ele que legitima sua existência? Que lhe dá seu sobrenome? Então, porque se preocupar com quem iniciou quem lhe iniciou? Uma linhagem?! Uma tradição? Que tolice. Tem gente que chega a inventar seu histórico na Wicca pra se sentir mais "legítimo". Isso é ridículo demais.
O que precisamos ter é pelas pessoas que, na vida real, nos orientaram e transmitiram seus conhecimentos a nós; nossos professores sempre devem ser lembrados com carinho e muito respeito. Não importando se eles foram homens ou mulheres, dessa ou daquela nacionalidade, tradição ou nível de instrução. E mesmo que eles não sejam mais nossos amigos, pelos desvios de percursos naturais, jamais devemos negá-los. Ninguém aprende nada totalmente sozinho, precisamos sempre do outro para alguma coisa. Ainda assim, paradoxalmente, a nossa única preocupação deve ser criar sua própria tradição e ser o seu único seguidor. Essa é a realidade última da magia e da vida.
Esse é o segredo. Ou era para quem souber entender.


Claudia Hauy

06 outubro, 2007

Encantamento de Sintonia com a Deusa



Grande Mãe! 
É teu nome que invoco!
E pelo poder dos quatro elementos, água, fogo, terra e ar,
pela quintessência e pelo Consorte,
peço a graça de:
ser teu reflexo entre os homens e mulheres da Terra.
Que eu veja o mundo com seus olhos.
Que eu tenhar a iniciativa para guiar meu caminho pela estrada mais correta.
Conquistar sua proteção.
Fazer o que quiser, sem prejudicar ninguém.
Ter clareza para discernir a luz da treva.
Alcançar com êxito meus desígnios.
Preservar meus amigos.
Respeitar todo ser vivo na face da Terra e fora dela.
Levar o amor dentro e fora de mim.
Ter o amor mágico em meu corpo, alma e espírito.
Ser a virgem, a amante, a mãe, a sábia, ter mil nomes.
Expandir idéias e sentimentos em todos os corações.
Ter estabilidade em todos os níveis.
Lidar adequadamente com mudanças inesperadas.
Conquistar abundância e prosperidade em todos os níveis.
Ter em mim o poder da transmutação.
E também o encanto da sedução e da paixão.
Que eu possa sempre atravessar as brumas,
as fronteiras do tempo e do espaço
e que se revele o que me é permitido.
Pela Deusa eu caminho.
E nas mãos Dela entrego minha vida.
MEU CORPO É A DEUSA.
MINHA MENTE É A DEUSA.
MINHA ALMA É A DEUSA.
E ASSIM É.

Tatiana Menkaiká

Hino ao Sol




Este texto foi escrito por Akenaton (Aquele que agrada a Aton), também conhecido como Amenófis IV. Aton é uma das variantes do nome do deus Sol.

No canto, é possível ler a seguinte descrição: "... E assim ocorreu que, encontrando-se o faraó na caça do leão, em pleno dia, seus olhos avistaram um disco brilhante pousado sobre uma rocha, e o mesmo pulsava como o coração do faraó, e seu brilho era como o ouro e a púrpura. O faraó se colocou de joelhos ante o disco" . Nesse canto, no Ill Hino, o faraó continua a narração dizendo: " ... Oh!, disco solar que com teu brilho ofuscante pulsas como um coração e minha vontade parece tua. Oh!, disco de fogo que me iluminas e teu brilho e a tua sabedoria são superiores à do Sol."

Depois dessa visão, o faraó mudou seu nome para Akenaton e decidiu transformar a religião egípcia: de politeísta (crença em vários deuses) em monoteísta (crença em apenas um ser supremo). E escolheu como deus supremo Aton, o deus sol.

Os sacerdotes protestaram, mas enquanto Amenófis IV estivesse no poder, ninguém poderia fazer nada. Após sua morte, o Egito voltou a ser politeísta, e os sacerdotes amaldiçoaram Akenaton, apagando todos os vestígios de sua existência.



"Adoração de Harakhte que se alegra no horizonte,
No seu nome de Luz que está em Aton, vivendo eternamente para sempre,
E do Aton vivo que está em festa, senhor de tudo aquilo que circunda Aton
Senhor do céu, senhor da terra, senhor da Casa de Aton em Akhet Aton
Rei do Vale e rei do Delta que vive da verdade (Ma'et);
Senhor dos Dois Países, Nefer-kheperu-Rá Ua'-en'Rá
Filho de Rá que vive da verdade (Ma'et)
Senhor das coroas Akhenaton sublime de duração;
E da grande esposa real que ele ama,
A senhora das Duas Terras Nefer-nefru-Aton Nefertite,
Viva, sã, jovem eternamente para sempre.


Ele diz:


Tu surges belo no horizonte do céu
Ó Aton vivo, que deste início ao viver.
Quando te ergues no horizonte oriental, todas as terras enches de tua beleza.
Tu és belo, grande, resplandecente, excelso sobre todo o país;
Os teus raios iluminam as terras
Até o limite de tudo o que criaste.
Tu és Rá e conquistas até o seu limite.
Tu as unes para teu filho amado.
Tu estás longe, mas os teus raios encontram-se sobre a Terra,
Tu estás diante (da gente), mas eles não vêem o teu caminho.


Quando tu vais em paz ao horizonte ocidental,
A terra fica na escuridão como morta
Os que dormem encontram-se em suas camas,
As cabeças cobertas com mantas,
Um olho não vê o outro.
Se roubassem seus bens que se acham debaixo de suas cabeças,
Eles nem perceberiam.
Todos os leões saem de suas cavernas;
Todas as serpentes, elas mordem.
A escuridão é (para eles) claro.
Jaz a terra em silêncio.
Seu criador repousa no horizonte.


Na aurora tu reapareces no horizonte.
Resplandeces como Aton para o dia sereno.
Tu eliminas as trevas e lanças teus raios.
As Duas Terras estão em festa:
Acordadas e atentas sobre os dois pés.
Tu as fizestes levantar.
Lavam os seus membros,
Pegam as suas roupas,
Os seus braços estão em adoração ao seu nascimento.
A terra inteira se põe a trabalhar.
Todo animal goza de sua pastagem.
Árvores e relvas verdejam.
Os pássaros voam de seus ninhos,
Com as asas (em forma de) adoração à tua essência (ka),
Os animais selvagens pulam em seus pés.
Aqueles que vão embora, aqueles que pousam,
Eles vivem quando tu te levantas para eles.
As barcas sobem e descem a corrente
Porque todos os caminhos se abrem quando tu surges.
Os peixes do rio movem-se deslizando em tua direção
Os teus raios chegam ao fundo do mar.


Tu que procuras que o germe seja fecundado nas mulheres,
Tu que fazes a descendência nos homens,
Tu que fazes viver o filho no seio de sua mãe,
Que o acalentas para que não chore,
Tu, nutriz de quem ainda está no colo,
Que dás o ar para fazer viver tudo o que crias.
Quando cai do colo para a terra o dia do nascimento,
Tu lhe abres a boca para falar
E provês as suas necessidades.


Quando o pintinho está no ovo (loquaz na pedra)
Tu ali dentro lhe dás o para viver.
Tu o completas para que quebre a casca
E dela sai para piar e completar-se
E caminhe com seus dois pés recém-nascidos.


Quão numerosas são as tuas obras!
Elas são irreconhecíveis aos olhos (dos homens)
Tu, Deus único, afora de Tu nenhum outro existe.
Tu criaste a Terra ao teu desejo,
Quando Tu estavas só,
Com os homens, o gado, e todos os animais selvagens.
E tudo o que dá sobre a Terra - e anda sobre seus pés -
E tudo aquilo que está no espaço - e voa sobre suas asas.
E os países estrangeiros, a Síria, a Núbia, e a terra do Egito.
Tu colocaste todo homem em seu lugar,
Proveste as suas necessidades,
Cada um com o seu alimento


E é contada sua duração em vida.
As suas línguas são ricas de palavras,
E também seus caracteres e suas peles.
Tens diferenciado os povos estrangeiros.
E feito um Nilo Duat (isto é, o mundo subterrâneo)
Leva-o aonde queres para dar vida às pessoas,
Assim como tu as criaste.
Tu, senhor de todas elas,
Que te cansas por elas,
Ó Aton do dia, grande em dignidade!


E todos os países estrangeiros e distantes,
Tu fazes que também eles vejam.
Puseste um Nilo no céu que desce para eles (isto é, a chuva)
E que faz ondas sobre os montes como um mar
E banha seus campos e suas regiôes.
Quão perfeitos os teus conselhos todos,
Ó Senhor da eternidade!
O Nilo do céu é teu (presente) para os estrangeiros
E para todos os animais do deserto que caminham sobre os pés:
Mas o Nilo verdadeiro vem de Duat para o Egito.


Os teus raios trazem a nutrição para todas as plantas;
Quando Tu resplandeces, elas vivem e prosperam para ti.
Tu fazes as estações
Para que se desenvolva tudo o que tu crias:
O inverno para refrescá-las,
O ardor para que te degustem.


Tu fizeste o céu distante
Para brilhares nele
E para ver tudo, Tu único
Que resplandeces na forma de Aton vivo,
Nascido é luminoso, distante e também vizinho.
Tu apresentas milhões de formas de Ti, Tu único:
Cidades, povoados, campos, caminhos, rios.
Todo olho vê a ti diante de si
E tu és o Aton do dia sobre (a Terra).


Quando te afastas
E (dorme) todo olho do qual criaste a visão
Para não te ver sozinho.
(e não se verá mais) o que tu criaste,
Tu estás (ainda) no meu coração.
Não há nenhum outro que te conheça
Exceto o teu filho Nefer-kheperu-Rá Ua-en-Rá
Tu fazes com que ele seja instruído em teus ensinamentos e em teu valor.
A Terra está em tua mão
Como tu a tens criado.
Se tu resplandeces, eles vivem,
Se tu te pões no horizonte, eles morrem;
Tu és a própria duração da vida.
E se vive de ti.


Os olhos vêem beleza, enquanto Tu não te pões.
Deixa-se todo trabalho quando Tu te pões à direita (isto é, no Ocidente).
Quando tu resplandeces, dás vigor ao rei,
E agilidade para todos
Desde quando fundaste a Terra.


Tu te levantas para o teu filho
Que saiu do teu corpo
O rei do Vale e do Delta que vive da verdade,
O Senhor dos Dois Países Nefer-kheperu-Rá
O filho de Rá que vive da verdade,
O Senhor das coroas Akhenaton
Sublime de duração de vida:
E da grande esposa real, a senhora dos Dois Países Nefer-neferu-Aton Nefertite
Viva, jovem para sempre na eternidade."


"A Literatura Egípcia"

05 outubro, 2007

Deus na Escola


Foi aprovado pela Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, Projeto-de-Lei que institui a adoção do Manual "Deus na Escola".


O ensino religioso é facultativo nas escolas de ensino fundamental do Estado.


Para entrar em vigor, o projeto precisa da sanção do governador do Estado, José Serra.
Se você NÃO está de acordo com esse Projeto-de-Lei e defende a separação entre Estado-Igreja, preencha o formulário abaixo para encaminhar a manifestação.


Sua manifestação será enviada diretamente ao e-mail do Governador José Serra e da Secretária de Educação do Estado de São Paulo, Dra. Maria Helena Guimarães de Castro.



Enviem URGENTEMENTE para sua rede de contatos.

Formulario para assinar : aqui
Fontes: 1 e 2

03 outubro, 2007

A Natureza Trina da Mulher_parte II


A MULHER LUA CRESCENTE

A primeira face da Deusa é a Donzela, ou Virgem e que corresponde a Lua Crescente. Representa a juventude, a vitalidade, a antecipação da vida, o início da criação, o potencial de crescimento e a semente do "vir a ser".
A Lua Crescente, portanto, liga-se a "virgem", a mulher solteira e sugere inúmeras promessas ocultas de crescimento, de riqueza, de criatividade e de prazer.
Esta Lua nos faz voar à um mundo de sonhos e devaneios.
Nos tornamos seres alados que levitam num céu estrelado de possibilidades, onde o impossível torna-se realidade.
É o verdadeiro despertar de Eros, do amor, da vida que não nos impõe nenhum obstáculo. 
Neste mundo onde tudo é possível a mulher personifica-se como a eterna amante, a musa inspiradora que concretiza a eterna felicidade.
A mulher na Lua Crescente consegue expor sua feminilidade com muita espontaneidade.
Ela é a personificação da deusa em sua manifestação instintiva e natural, buscando sua essência. Ela é rica em fertilidade e possibilidades, sem limites.
Precisa de todo o espaço para expandir-se e manifestar-se.
É erva que se alastra e cobre tudo, pois ela é livre, animal sem dono, que não admite ficar presa à ninguém.
Dona de si mesma, ela se rege, se governa por seus princípios internos, muitas vezes à custa de muito sofrimento, pois toda liberdade tem seu preço.
Este princípio feminino é representado por várias deusas e uma delas é Àrtemis, a arqueira-virgem e amazona infalível, que corria livre pelos campos e de coração solitário.
Ela é arquétipo da feminilidade mais pura e primitiva.
Ela santifica a solidão e a vida natural.
E, é ela que garante a nossa resistência a domesticação.
Outra deusa da Lua Crescente é Inana, uma antiga entidade suméria que é portadora de qualidades lunares femininas.
Em época de mudanças, esta deusa sempre está presente e pode ser invocada.
As mulheres que incorporam os atributos da Lua Crescente, são muito sensuais, verdadeiras Afrodites contemporâneas e conhecedoras da influência de seus poderes.
Sentem orgulho de seu sexo e possuem uma vitalidade rara, somada a uma ansiedade de ampliar os horizontes de seu psiquismo.
Jamais se adaptam à limites sociais e culturais, pois seu desejo de expansão é incontrolável. Estão sempre mudando, são mulheres inquietas e instáveis.
Como a Lua Crescente, revolucionam, criam e transformam constantemente.
São difíceis de serem civilizadas, pois como Ártemis, possuem um amor intenso pela liberdade, pela independência e autonomia.
Possuem temperamento estouvado e aprendem muito cedo a engolir suas lágrimas e planejar vinganças pelas humilhações que sofrem, devolvendo na medida certa o que receberam.
Para um homem relacionar-se com uma mulher-lua-crescente, pode ser um desafio e tanto. Igualmente, a mulher que penetrar fundo nesse lado de sua natureza artemisia, precisará reconhecer o poder primitivo de sua sanguinolência e o efeito que pode ter sobre o homem.
A Lua Crescente nos põe em contato com todos esses aspectos da natureza feminina.



A MULHER LUA CHEIA


O aspecto de Mãe da Deusa sempre foi o mais acessível para que a humanidade o reconhecesse, invocasse e o identificasse.
A Lua Cheia está associada à imagem maternal da Deusa, à mulher em toda a sua plenitude, ao potencial pleno da força vital.
Ela corresponde ao crescimento e amadurecimento de todas as coisas, ao ponto culminante de todos os ciclos, à semente germinada e à plenitude do caldeirão.
Na Lua Cheia entramos em outra dimensão do feminino, aqui o instinto se coloca a serviço da criação e da humanização.
Esta é a fase lunar que é iluminada pelo Sol em sua totalidade, indicando mais clareza de consciência e um melhor relacionamento entre masculino e feminino, o que propicia a criação.
A Lua Cheia é a Lua Grávida de criatividade, de riqueza e da realização do próprio crescimento. É a imagem da Mãe, com o poder divino de carregar uma nova vida em seu ventre.
É ela que gera, promove o crescimento e dá o nascimento.
Ela é a deusa da maternidade, que traz consigo a fertilidade para a terra e para os homens.
A Lua Cheia nos conecta com a terra, nos coloca em contato com os valores terrenos, é o próprio amor realizado.
Esta Lua-Mãe, foi expressa mitológicamente pelos gregos como Deméter com sua prodigiosa energia para nutrir e acalentar e sua dedicação desinteressada para com os filhos e a família. Esta deusa-mãe também é visualizada em Cibele, Ísis, em Astarte e na Virgem Maria. Todas aparecem sempre com o filho, o que pressupõe uma capacidade de relacionamento e reprodução realizada.
O filho representa o nascimento, o Logos no feminino.
A Lua, deste modo, relaciona-se com o mundo de maneira mais humana, através de seu filho. Estabelece-se assim, um contato mais íntimo entre o mundo interno e o externo, do divino com o terreno e do espiritual com o material.
A maternidade em si já é uma doação, mas também associa-se à capacidade de sacrifício.
Todas as deusas citadas, têm em comum o fato de terem um filho que morre e depois ressuscita. O filho seria a semente que morre, se decompõe na terra, para trazer em seguida a renovação da vida.
Mas, enquanto não chega a hora do sacrifício, o filho reina junto com a Mãe-Lua e é controlado por ela.
A mulher regida pela Lua Cheia é mais confiável, pois se assemelha à Mãe.
Ela é acolhedora, mais domesticada e sempre se coloca à disposição e proteção do outro.
Esta mulher tem os pés no chão e seus mistérios não são tão ocultos, pois ela se revela mais claramente.
Ela acolhe a criação, que é a união do masculino com o feminino.
Mas esta mulher tem uma preocupação exagerada com a segurança, o que impede o seu aprofundamento em seus relacionamentos, pois o contato mais íntimo, pode constituir-se em uma ameaça.
Desenvolve então, um controle fora do comum e nada pode pegá-la desprevenida.
Aqui desenvolve-se um impedimento a sua criatividade, pois seus passos são calculados, evitando confrontar-se com o desconhecido, que podem lhe proporcionar surpresas desagradáveis.
A mulher-lua-cheia é a esposa e mãe perfeita, desfaz-se em eficiência e cuidados, mas falta-lhe a paixão e a inquietação.



A MULHER LUA MINGUANTE


O terceiro aspecto da Deusa, a Anciã, corresponde à fase da Lua Minguante, sendo o menos compreendido e o mais temido.
A Lua Minguante define-se no acaso e na velhice. É aquela que encerra em si a sabedoria e os segredos nunca revelados. Está associada a velha bruxa, ao deteriorar da força vital, ao envelhecimento, assim como, aos poderes de destruição e da morte, à destruição do impulso de Eros.
A mulher que é arquetípicamente regida pela Lua Minguante é misteriosa e por vezes indefinível.
Parece possuir um potencial para realização de algo que é difícil definir com exatidão. Possui virtualidades pressentidas, mas nem sempre realizadas.
Ela mesma não se define de maneira consciente e clara.
Possui também uma certa dificuldade em lidar com os aspectos da vida consciente.
Esta é a mulher que vive no "mundo da lua".
Está sempre descobrindo novas possibilidades, mas tem certa dificuldade em direcioná-las e nunca consegue finalizar o que começou.
Como está mais próxima e mantém constante contato com as fontes inconscientes da fertilidade, aparenta estar realizando algo, mas que pode nunca concretizar.
É sempre suscetível a perder-se em sonhos e devaneios em função da dificuldade que tem em lidar com o concreto e o real.
O seu maior obstáculo é o tempo presente, pois está sempre voltando ao passado, revendo tudo o que foi capaz de realizar, ou lamentando o que deixou de fazer.
Ela está sempre distante do presente e por isso torna-se fria e distante dos outros, devido ao seu excesso de auto-referência.
A sua criatividade, se não submetida ao controle do ego consciente, pode assumir uma forma caótica e desordenada.
A sua maior dificuldade está em mobilizar e dirigir essa energia.
Possui ela, todo o potencial para a criação por seu acesso fácil às fontes criadoras lunares, mas necessita compreender e separar a mistura orobórica criativa, a fazer a ordenação do caos, para que ele se transforme num cosmo criativo
A mulher Lua Minguante possui uma energia muito forte, mas ela pode manifestar-se de maneira tanto construtiva, como destrutiva, dependendo da forma como trabalha o seu consciente.
A necessidade de mudança também está sempre determinando seu comportamento.
O que mais importa para ela é o próprio processo do que o objetivo final, o caminho não tem tanta importância, mas premente é a necessidade de fazer a passagem.
A introspecção ao mundo interior ocorre facilmente para a mulher regida pela lua minguante.
A sua maior dificuldade está no fato de tornar-se produtiva e realizar toda a fertilidade encontrada.
Se não conseguir direcionar essa vitalidade, objetivando-a e encaminhando-a para a realização criativa, toda essa riqueza pode se tornar inútil.
A Lua Minguante sempre serviu como vaso adequado para a projeção de todo o lado sombrio, tanto do homem como da mulher.
Aqui penetra-se no reino de Hécate e Lilith e tantas outras deusas que apresentam aspecto sombrio, mas que pode no final nos trazer a iluminação.
Talvez torne-se necessário para a mulher fazer um acordo com estas deusas, para que elas a presenteiem com a possibilidade de um enriquecimento de personalidade, permitindo a sua expressão de uma forma mais humanizada e não tão instintiva.
Deste modo, as dimensões do instinto poderão ter uma via mais integrada, em que pode haver a participação de novas forças energéticas.
É observando e reconhecendo os movimentos da Lua no céu e integrando as suas três fases, que poderemos nos alinhar e sintonizar com o fluxo do tempo e com os ritmos naturais.
Nos utilizando dos poderes mágicos da Lua e reverenciando as Deusas ligadas a ela, criaremos condições para melhorar e transformar nossa realidade, harmonizando-nos e vivendo de forma mais equilibrada, plena e feliz.


NÃO A GUERRA DOS SEXOS.......SIM AO COMPANHEIRISMO!
Hoje, a maioria das religiões, concebem como única e suprema uma divindade que é masculina, entretanto, ao resgatarmos tradições mais antigas, aprendemos que anteriormente, tanto o homem quanto a mulher, cultuavam uma Grande Mãe.
O resgate destas tradições nos levam a compreender que homens e mulheres nasceram para viver em parceria e que, nós mulheres, podemos honrar o espírito feminino, buscando o equilíbrio e a paz, para ambos os sexos.


As mulheres, nos últimos anos, desbancaram a bandeira de sexo frágil.

Elas batalharam e conseguiram a independência, poder e reconhecimento.
Em pé de igualdade com o homem, hoje tem como meta principal conciliar carreira, maternidade e encontrar um homem ideal.
Os homens em contrapartida, não mudaram tanto assim, não acompanhando o ritmo veloz feminino.
Em conseqüência disto, criou-se um abismo entre os dois sexos.
Mas, felizmente, as mulheres jamais abandonaram o seu ideal romântico de encontrar um companheiro para caminhar lado a lado.
Todas anseiam apaixonar-se e casar, mas não abrem mão da busca do sucesso profissional. Assim, alegam a maioria delas, se fracassarem na vida sentimental, terão o trabalho para satisfazê-las e ocupá-las.
Devem então, ter muito cuidado para não investir tempo integral às suas carreiras, pois fatalmente, por total falta de tempo matarão sua vida afetiva.
O amor e a maternidade para a mulher é um fator mais do que biológico.
Ir contra à sua natureza, fará com que a mulher deixe de usufruir de uma realização pessoal.O homem também obteve alguns avanços e hoje, ele parece estar mais disponível e sensível.
A cada dia vislumbra-se pais mais participantes, amantes mais amorosos e companheiros que dividem com a mulher as tarefas rotineiras da casa.
Estamos entretanto ainda, em um momento de transição, onde os papéis masculinos e femininos não estão bem delineados.
O homem, continua a não saber direito lidar com suas emoções em função de sua postura cultural e a mulher buscou e conquistou a independência, o reconhecimento e a igualdade. 
Mas bem no íntimo, ela continua romântica e deseja ser conquistada.
No fundo, talvez não imaginasse que pudesse ir tão longe para depois sentir-se perdida.
Com tantas conquistas, vieram também as armadilhas e ela acabou sobrecarregada, pendendo de um lado para o outro com a expansão das possibilidades.
Talvez, seja este o momento da mulher parar de provar que pode tudo e unir-se em companheirismo com o homem.
Se realmente buscamos construir uma sociedade equilibrada e serena, todas as idéias egocêntricas de superioridade e culto à guerra sexista deve desaparecer entre os homens e mulheres, dando lugar a uma visão cósmica de complementariedade entre os sexos.


NA GUERRA DOS SEXOS QUE VENÇA O AMOR!
Rosane Volpatto

02 outubro, 2007

A Natureza Trina da Mulher


A natureza da mulher é cíclica e bem separada de seus desejos pessoais e ela experimenta a vida através desta natureza sempre mutável. As mudanças mais marcantes de seu comportamento acontecem em relação aos seus sentimentos. Tudo pode estar auspicioso e alegre em certo momento, mas passado pouco tempo poderá estar melancólico e deprimente. Desta forma, sua percepção subjetiva da vida é projetada para o mundo exterior e a mulher pode sentir a mudança cíclica como uma qualidade da própria vida.
No curso de um ciclo completo, que corresponde à revolução lunar, a energia da mulher cresce, brilha esplendorosa e volta a minguar totalmente. Essas mudanças afetam-na tanto na vida física como sexualmente e também psiquicamente. Na mulher, a vida tem fluxo e refluxo que é dependente de seu ritmo interno. O ir e vir da energia, quando perfeitamente compreendido pela mulher, pode presenteá-la com uma oportunidade de trabalho ou uma aventura espiritual, a qual ela espera há muito tempo. Se a Lua lhe for favorável, ela poderá ter uma vida mais livre e cheia de oportunidades, mas se a Lua estiver desfavorável, pode perder sua chance, sendo incapaz de recuperá-la. Não é de admirar que nossos ancestrais chamassem a Lua de "Deusa do Destino", pois realmente é fato que ela influência no destino da mulher, assim como dos homens também, embora inconscientemente.
No mundo patriarcal, as mulheres descuidaram-se de seus ritmos para tornarem-se competitivas e o mais próximas possíveis dos homens. Caíram, sem perceber, sob o domínio do masculino interior, perdendo o contato com seu próprio instinto feminino, passando a viver somente através das qualidades masculinos do "animus". Entretanto, negar sua identidade é constituir-se em um ser sem alma. Não é incorporando os valores masculinos ou tentando imitar seu comportamento que terá reconhecido o seu valor. A mulher deve ser reconhecida também, pela sua dimensão feminina e não pela sua dissociação da sua realidade psíquica.

No Mundo da Lua

" A Lua, e não o Sol, é o legítimo cronômetro do alvorecer dos tempos".

A Lua sempre foi o marcador de tempo natural das mudanças periódicas que ocorriam em todos os reinos, era ela também que assinalava todas as etapas e padrões do eterno ciclo da vida e da morte. Sua misteriosa luz prateada apontava o momento certo para o plantio, para a colheita, para o acasalamento e para as mudanças climáticas. Os antigos gregos a representavam como um cálice vazio que enchia-se e esvaziava-se lentamente, representando as alterações cíclicas das emoções, reações e necessidades humanas.

O símbolo escolhido para representar a esfera matriarcal é a Lua, em sua correlação com a noite e com a Grande Mãe do céu noturno. A Lua é o astro que ilumina a noite e é o símbolo do princípio feminino, representando potencialidades, estados de alma, valores do inconsciente, humores e emoções, receptividade e fertilidade, mutação e transmutação. E, as fases da Lua, caracterizam os aspectos da natureza feminina, assim como representam os estágios e as transformações na vida da mulher.
O Mundo da Lua, aparece na qualidade de um nascimento ou renascimento. Onde quer que se visualize seu símbolo, sempre estaremos diante de um mistério de transformação matriarcal, mesmo que algumas vezes, mostre-se camuflado no mundo patriarcal.
Os astros luminosos em sua dimensão arquetípica, sempre são símbolos da consciência e do espírito da psique humana. É por isso que sua posição nas religiões e ritos é característica das constelações psíquicas dominantes no grupo que, a partir do seu inconsciente, projetou-os no céu. Para ilustrar, o Sol tem sua correspondência na consciência patriarcal, enquanto a Lua na consciência matriarcal.
O aspecto lunar do matriarcado não se refere ao espírito invisível e imaterial, bandeira defendida pelo patriarcado, mas foi a razão pela qual fez com que a Lua acabasse depreciada, assim como o Feminino a que ela corresponde. Todos seus princípios marginalizados levaram à conceituação abstrata da consciência moderna e, que hoje ameaça a existência da humanidade ocidental, pois a unilateralidade masculina acarreta uma hipertrofia da consciência, às custas da totalidade do homem.
Atualmente, o conhecimento abstraído pela consciência coletiva da humanidade encontra-se nas mãos de representantes masculinos, que nem sequer são capazes de incorporar o princípio solar imaterial e puro.
O Mundo da Lua, está longe de ser, como supunha o mundo patriarcal, somente um nível de matéria inferior, de fugacidade telúrica e escuridão. Nos mistérios do renascimento ocorre a iluminação e a imortalização do homem. Este mesmo homem, que é iniciado pela Grande Mãe, como demonstra os mistérios eleusinos e o seu renascimento acontece como um nascimento luminoso no céu noturno. Ele brilhará como um ponto de luz no manto negro da noite, iluminando o mundo noturno, mas mesmo tornando-se deste modo, imortal, a Mãe não o libera, mas o carrega para perto de si na mandala celeste, pois uma Mãe jamais abandona seu filho.


A LUA E A MENSTRUAÇÃO


A cada 28 dias a Lua completa seu ciclo de crescente a minguante. A Lua Nova marca a primeira iluminação e um fiapo fica visível no céu noturno. A Lua então cresce até o primeiro quarto, quando se pode visualizar a metade de seu disco. Continua a crescer e completa-se até atingir a Lua Cheia. Neste ponto, começa a diminuir de tamanho até o terceiro quarto, quando novamente só se vê a metade do disco e continua assim até que não se veja mais seu disco. Em quinta fase, esta Lua Escura dura três noites e esta, é este é o mais poderoso de todos os ciclos da Lua.
A Lua, com seu ciclo de nascimento, crescimento e morte, é um lembrete poderoso, todos os meses, da natureza dos ciclos. Em épocas remotas, os ciclos menstruais das mulheres eram perfeitamente alinhados com os da Lua. A mulher ovulava na Lua Cheia e menstruava na Lua Escura. A Lua Cheia era o ápice do ciclo da criação, era quando o óvulo era liberado. Nos 14 dias que antecedem esta liberação, as energias da criação reúnem tudo que é necessário para constituir o óvulo. Quando passava a Lua Cheia e o óvulo não era fertilizado, tornava-se maduro demais e se decompunha, derramando-se no fluxo natural de sangue na Lua Escura. Quando a mulher vive em perfeita harmonia com a Terra, ela só sangra os três dias da Lua Escura. Quando a Lua Nova emerge, seu fluxo naturalmente deve cessar e o ciclo da criação é reiniciado dentro dela.
Em nossa sociedade atual, o uso de pílulas anticoncepcionais, fez com que a mulher deixasse de incorporar e compreender este ciclo de criação e destruição dentro de si.
Alguns índios norte-americanos, consideravam a Lua uma mulher, a primeira Mulher e, no seu quarto minguante ela ficava "doente", palavra que definiam como menstruação. Camponeses europeus acreditavam que a Lua menstruava e que estava "adoentada" no período minguante, sendo que a chuva vermelha que o folclore afirma cair do céu era o "sangue da Lua".
Em várias línguas as palavras menstruação e Lua são as mesmas ou estão associadas. A palavra menstruação significa "mudança da Lua" e "mens" é Lua. Alguns camponeses alemães chamam o período menstrual de "a Lua". Na França é chamado de "le moment de la luna".

Entre muitos povos em todas as partes do mundo as mulheres eram consideradas "tabu" durante o período da menstruação. Este período para algumas tribos indígenas era considerado um estado tão peculiar que a mulher deveria recolher-se à uma "tenda menstrual" escura, pois a luz da Lua não deveria bater sobre ela. O isolamento mensal da mulher, tinha o mesmo significado que os ritos de puberdade dos homens. Durante este curto espaço de tempo de solidão forçada, as mulheres mantinham um contato mais íntimo com as forças instintivas dentro de si.

Em tribos mais primitivas, nenhum homem podia se aproximar de uma mulher menstruada, pois até sua sombra era poluidora. O sangue menstrual, nesta época, era tido como contaminador. Acreditavam também, que a mulher menstruada tinha um efeito poluente sobre o fogo e se por algum motivo se aproximasse dele, esse se extinguiria. Ainda, de acordo com o Talmude, se uma mulher no início da menstruação passasse por dois homens, certamente um deles morreria. Se estivesse no término de seu período, provavelmente causaria uma violenta discussão entre eles.
Por vários motivos as mulheres acabaram impondo à si mesmas uma abstinência, muito embora, tanto nelas como nos animais, o período de maior desejo sexual é imediatamente anterior ou posterior a menstruação.
Na Índia, acredita-se ainda hoje, que a Deusa-Mãe menstrua. Durante essa época, as estátuas da deusa são afastadas e panos manchados de sangue são considerados como "remédio" para a maior parte das doenças. Na Babilônia, pensava-se que Istar, a Deusa Lua, menstruava na época da Lua Cheia, quando o "sabattu" de Istar, ou dia do mal, era observado. A palavra "sabattu" vem de sabat e significa o descanso do coração. É o dia de descanso que a Lua tem quando está cheia. Este dia é um percursor direto do sabá e considerava-se desfavorável qualquer trabalho, comer comida cozida ou viajar. Essas eram as coisas proibidas para a mulher menstruada. O sabá era primeiramente observado somente uma vez por mês e depois passou a ser observado em cada uma das fases da Lua.
Hoje, uma compreensão científica e objetiva já nos livrou de todos estes tabus, mas é bom lembrar que em certo momento histórico, inconscientemente, a natureza instintiva feminina podia provocar a anulação dos homens.

Bibliografia consultada:
  • O Casamento do Sol com a Lua. Raissa Cavalcanti. Editora Cultrix, São Paulo.
  • A Grande Mãe. Erich Neumann. Editora Cultrix, São Paulo.
  • As Deusas e a Mulher. Jean Shinoda Bolen. Editora Paulus, São Paulo.
  • Os Mistérios da Mulher. M. Esther Harding. Editora Paulus, São Paulo.
  • O Novo Despertar da Deusa. Organização Shirley Nicholson. Editora Rocco Ltda, Rio de Janeiro
  • Variações sobre o tema mulher. Jette Bonaventure. Editora Paulus, São Paulo.

Texto elaborado por:
Rosane Volpatto

O Tabu da Menstruação


Há um bom tempo atrás eu estava conversando com a Márcia Frazão e ela chamou a atenção para uma situação pouco comentada no universo mágico: o tabu da menstruação.
Na sociedade contemporânea, a menstruação ainda é vista com reservas. Uma mulher bem educada não pode falar sobre menstruação, cólicas menstruais, ovulação ou qualquer aspecto de seu aparelho reprodutivo - salvo entre outras mulheres.
Esse "assunto feminino" deve ser banido para os banheiros femininos, rodas de amigas e consultórios ginecológicos - sempre com o absorvente usado devidamente escondido.
Enquanto isso, os rapazes falam abertamente de sua ejaculação, disposição sexual, problemas intestinais, conquistas amorosas e largam camisinhas usadas em todos os lugares, numa forma explícita de demonstrar virilidade. Qual a diferença?
A diferença está na regulação imposta sobre o corpo feminino, mais especificamente sobre sua capacidade de reprodução.


Há homens que se recusam a fazer sexo com uma mulher menstruada, pensando a menstruação como algo "sujo".
Outros preferem a mulher menstruada, pensando nos incômodos da paternidade, mas estes são minoria absoluta.
O que me espanta é ver a quantidade de mulheres que, negando o ciclo natural de seu próprio corpo, entendem que a menstruação é uma fonte de impureza. Vamos analisar o problema mais de perto, do ponto de vista mágico.


As formas de magia mais populares no Brasil utilizam a menstruação como um elemento mágico, sobretudo nas amarrações de amor.
No neopaganismo braçado pela classe média urbana brasileira e social em geral, a menstruação toma dois focos: é sinônimo de impureza ou força original e primária da mulher.
Essas duas posições são antagônicas e irreconciliáveis, embora tenham - do meu ponto de vista - uma origem comum.


Não vou descer aos meandros da análise histórica, até porque sempre vejo um desavisado bancando o historiador amador e caindo na esparrela de explicar qualquer coisa pela "civilização judaico-cristã".
Muitas outras culturas vêem a menstruação como algo impuro, como os ciganos, por exemplo.
Muitas culturas celebram a menarca de suas filhas, o que foi interpretado pela teoria feminista como um indício de que o corpo da mulher é mais sagrado para essas culturas do que para a cultura ocidental.
Este tipo de pensamento foi o que desenvolveu a idéia francamente abraçada - sobretudo nos EUA – de utilizar o sagrado e o religioso como formas de transformação de nossas atitudes cotidianas. Um simples gesto, muitas vezes, muda toda uma visão de mundo.


Mary Douglas foi uma antropóloga que descreveu a associação que muitas culturas realizam entre a impureza e o perigo. Sendo impura, a menstruação ofereceria algum grau de perigo.
Na verdade, penso que pode ter ocorrido o inverso. Sendo uma fonte mágica primordial, a menstruação foi um dia considerada o poder original feminino. Alguns cultos a deusas específicas, tomados por sacerdotes - uma vez expurgadas suas sacerdotisas - trocaram o sangue menstrual pelo sangue sacrificial dos sacerdotes, como na circuncisão, na castração ou na amputação dos mamilos.


O estabelecimento de uma nova ordem, com a dominação masculina e o desrespeito pelo feminino - que nem de longe é um problema exclusivo da "civilização judaico-cristã", visto não existir uma sociedade matriarcal na face do planeta - tornaram este poder sagrado perigoso e, conseqüentemente, impuro.
Não posso provar o que digo.
Embora eu me baseie em teoria antropológica e indícios arqueológicos do Paleolítico e Neolítico, conforme demonstrado por Riane Eisler e Marija Gimbutas, esta é uma teoria imbuída da crítica feminista - que tem seus pontos bons e ruins - e de uma visão de mundo neopagã, que nem sempre condiz com a realidade e muitas vezes distorce o sentido original do paganismo pelo mundo.
O sentido desta coluna, contudo, é iniciar uma reflexão sobre os aspectos mais cotidianos de nossa vida.


Aqueles que sempre passam sem crítica consciente.


O que fazer para mudar o cotidiano?
Magia não é nada, nem serve para nada, se não transformar o mundo à nossa volta.
Que não se espere, contudo, a aparição de um tio velhinho com uma gorda herança ou a queda súbita de um regime fascista.
A mudança deve antes ser interna.
Como diziam as feministas, "o pessoal é político".
Mudando nossas próprias atitudes e transformando as situações pessoais nós também transformamos o mundo. Se a leitora já se viu tratando a menstruação como algo impuro, pare, pense e reconsidere que tipo de ideologia está reproduzindo, às vezes de forma inconsciente.
Os corpos das mulheres são sagrados com todos os fluxos e humores eles contidos, assim como os corpos dos homens. Afinal, somos todos filhos dos deuses e os deuses não habitam apenas a alma.


Projeto Hécate