31 março, 2012

Respeito entre crenças começa dentro da escola


Informação e cursos preparatórios para professores são necessários para evitar problemas de intolerância 

O possível caso de bullying envolvendo um aluno de 15 anos da Escola Estadual Antônio Caputo, em São Bernardo, levanta a discussão sobre a forma como deve ser tratada a questão da religião dentro das instituições de ensino.

O estudante afirma que a professora de História Roseli Tadeu Tavares de Santana utilizava vinte minutos da aula para falar sobre a sua religião e fazer pregações. Como o adolescente era contra e praticante de Candomblé começou a sofrer discriminação religiosa.

As escolas estaduais não são orientadas por nenhuma religião e o proselitismo religioso nas unidades é vetado, de acordo com a Secretaria de Estado da Educação. Se a escola é laica, mas há divergências entre o que a instituição de ensino propõe e a prática de professores, a solução então, é alertar e formar melhor os profissionais.

“A sala de aula é um local para reflexão, não para culto. Muitas vezes, ao ensinar história, esbarramos na questão da história de algumas religiões, mas o que devemos fazer é convidar os alunos para refletirem e discutirem a religião com base na ciência e não na fé. Temos que tomar muito cuidado, principalmente nos dias de hoje, com a enorme pluralidade de crenças dos alunos”, defendeu o coordenador do curso de História da Fundação Santo André, José Amilton de Souza.

Para o professor Jung Mo Sung, diretor da Faculdade de Humanidades e Direito da Universidade Metodista de São Paulo, em alguns casos até existe boa vontade dos professores de compartilhar sua orientação religiosa, mas os problemas acontecem quando se esquecem que a sala de aula não é local para isso.

“O que acho que existe é uma confusão sobre o que é espaço público. A escola, principalmente a pública, não é lugar para fazer culto. Não se pode obrigar os alunos a participarem de cultos a não ser que faça parte da orientação pedagógica da grade curricular, por exemplo, pedir para que participem de várias celebrações de algumas religiões para que se discuta determinados aspectos em sala de aula”, explicou.

Informação contra condutas impróprias nas salas de aula

Para ajudar as instituições de ensino a combaterem os problemas causados pelo bullying, a AESP-ABC (Associação das Escolas Particulares do Grande ABC) faz seminários e cursos sobre prevenção. “Sabemos que os jovens são cruéis e que é da idade começarem com brincadeiras de todo o tipo, inclusive de cunho religioso. É preciso, no entanto, instruir os professores sobre o que é tolerável e o que não. A conduta profissional também é importante porque se a escola é laica, deve-se seguir esta regra”, afirmou a presidente da entidade, Oswana Fameli.

O Colégio Metodista, de São Bernardo, orienta professores e alunos sobre intolerância religiosa e outras questões individuais para evitar bullying e preconceitos.

Mesmo com orientação religiosa assumida, a instituição faz questão de tratar de religião apenas na disciplina específica. “Não somos obrigados a seguir os parâmetros curriculares nacionais para montar nossas aulas de religião porque somos uma instituição com orientação. No entanto, mesmo assim os seguimos e proporcionamos aulas nas quais são abordadas as histórias de inúmeras religiões e crenças. O que passamos para os alunos de modo geral são valores universais”, disse o reverendo Luiz Eduardo Prates, coordenador da Pastoral Universitária e Escolar.

Ainda de acordo com o porta-voz da instituição, todos os professores quando são contratados passam por orientação na qual é mostrada a importância do “amplo respeito à diversidade de escolhas”. “Temos inúmeros professores que não possuem religião e outros que possuem orientações religiosas diferentes da nossa. Estimulamos o diálogo entre alunos e professores para que não haja problemas.”

19 março, 2012

Túmulo anglo-saxão pode marcar passagem do paganismo ao cristianismo


Arqueólogos encontraram um túmulo anglo-saxão perto de Cambridge, Inglaterra, que poderia ser um dos primeiros exemplos do cristianismo, que aos poucos roubou a cena do paganismo.
Dentro dele, foi descoberto o esqueleto de uma adolescente, enterrado em uma cama de madeira, com uma cruz de ouro em seu peito.
A cruz é apenas a quinta a ser descoberta no Reino Unido. Somente 12 outros enterros parecidos foram encontrados.
E, segundo os cientistas, essa combinação exata – cama onde o corpo foi colocado em uma moldura de madeira unida por suportes de metal e símbolo cristão (cruz) – é extremamente rara.
“Acreditamos que há apenas um outro exemplo de um enterro com cama de madeira e cruz no peitoral, em Ixworth, Suffolk”, disse a pesquisadora Alison Dickens.
O túmulo da adolescente, que os cientistas acreditam que tinha cerca de 16 anos de idade, era um de quatro túmulos descobertos ao sul de Cambridge. Os outros três foram descritos como enterros anglo-saxões mais típicos, sem indicações do cristianismo.
O túmulo pode datar do meio do século 7 d.C., quando o cristianismo estava começando a ser introduzido aos pagãos anglo-saxões.
A cruz de 3,5 centímetros encontrada no peito da menina provavelmente tinha sido costurada a sua roupa. Outros artefatos, como um saco de pedras preciosas e semipreciosas, e uma pequena faca também foram encontrados com o corpo.
Segundo os arqueólogos, o estilo da cruz era comparável ao tesouro real anglo-saxão descoberto em Sutton Hoo, em Suffolk.
O método de enterramento e qualidade das joias pode indicar que a menina era de uma família nobre ou real.
Sendo assim, a conversão cristã poderia ter começado em cima, com a nobreza, e filtrado para baixo, até se generalizar até as camadas mais pobres.
Apesar dessas especulações, o corpo possuir tantos bens consigo – supostamente para uma vida após a morte – é contrário à crença cristã, que diz que o corpo não vive após a morte.
No entanto, a fusão de possíveis dois ritos funerários – cristão e pagão – pode colocar o túmulo à beira da mudança de religião, de pagã para cristã.
No futuro, os cientistas querem determinar se havia alguma relação entre a garota cristã e os três outros esqueletos, encontrados em estreita proximidade.
Por Natasha Romanzoti, Hypescience

07 março, 2012

Sereias


Numa noite calma de primavera ou outono, o marinheiro deixa deslizar docemente seu barco perto das margens semeadas de rochedos e ouve ao longe, no marulho das ondas, o gorjeio de uma ave. Esse gorjeio, entrecortado por gritos estridentes e zombeteiros, ganha os ares e passa invisível com um estranho sibilo de asas, por cima da cabeça do marinheiro atento, dando-lhe a impressão de um concerto de vozes humanas. A sua imaginação lhe representa grupo de mulheres que se divertem e tentam desviá-lo de seu rumo. Ele acaba se aproximando mais para identificar a voz e sua embarcação se quebrará nos rochedos. Esta é sem duvida, a origem de todas as narrações das Sereias. Mas devemos agradecer a estes poetas que criaram esta lenda tão maravilhosa.
As sereias na época de Homero eram 3 irmãs, filhas do deus Aqueló e da musa Calíope. Lígia toca flauta, Parténope lira e Leucósia lê textos e cantos. Seus nomes gregos evocam as idéias de candura, de brancura e de harmonia. Outros hes dão os nomes de Aglaofone, Telxieme e Pisinoe, denominações que exprimem a doçura da sua voz e o encanto de suas palavras. Conta-se que elas eram ex-companheiras de Perséfone, filha de Deméter, que foi raptada por Plutão (Hades), Senhor do Submundo. Segundo a lenda, as sereias devem sua aparência a Deméter, que as castigou por terem sido negligentes ao cuidarem de sua filha.
Ovídio, ao contrário, diz que as Sereias, desoladas com o rapto de Perséfone, pediram aos deuses que lhes dessem asas para que fossem procurar a sua jovem companheira por toda a Terra. Habitavam rochedos escarpados sobre as margens do mar, entre a ilha de Capri e a costa de Itália.
O oráculo predissera às Sereias que elas viveriam tanto tempo quanto pudessem deter os navegantes à sua passagem, mas desde que um só passasse sem ficar preso ao encanto de suas vozes e das suas palavras, elas morreriam. Por isso essas encantadoras, sempre em vigília, não deixavam de deter pela sua harmonia todos os que chegavam perto delas e que cometiam a imprudência de escutar os seus cantos. Elas tão bem os encantavam e os seduziam que eles não pensavam mais no seu país, na sua família, em si mesmos. Esqueciam de beber e de comer e morriam por falta de alimento. A costa vizinha estava toda branca de ossos daqueles que haviam perecido.
Entretanto, quando os Argonautas passaram nas suas paragens, elas fizeram vãos esforços para atraí-los. Orfeu, que estava embarcado no navio, tomou sua lira e as encantou a tal ponto que elas emudeceram e atiraram os instrumentos ao mar.
Ulisses obrigado a passar com seu navio adiante das Sereias, mas advertido por Circe, tapou suas orelhas e de todos os seus companheiros e se fez amarrar os pés e as mãos ao mastro principal. Além disso, proibiu que de lá o tirassem se, por acaso, ouvindo o canto das Sereias, ele exprimisse o desejo de sair. Não foram inúteis essas precauções. Ulisses, mal ouviu as doces vozes e as promessas sedutoras das Sereias, deu ordem para que seus marinheiros o soltassem, o que não fizeram.
Pausânias conta ainda uma fábula sobre as Sereias: "as filhas de Aqueló, diz ele encorajadas por Juno, pretendiam a glória de cantar melhor do que as Musas, e ousaram fazer-lhes um desafio, mas as Musas, tendo-as vencido, arrancaram-lhe as penas das asas e com elas fizeram coroas." Com efeito, existem antigos monumentos que representam as Musas com uma pena na cabeça. Apesar de temíveis ou perigosas, as Sereias não deixaram de participar das honras divinas e tinham um templo perto de Sorrento.