30 novembro, 2012

Algas deixam mar vermelho e fecham praias na Austrália


Fenômeno não deixa água tóxica, mas banhistas tiveram que se afastar.
Algumas praias, incluindo a Bondi Beach, foram fechadas.

Algumas praias da Austrália foram fechadas para o público nos últimos dias devido a uma grande proliferação de algas que deixou a água do mar vermelha em alguns pontos.
A alga, conhecida como Noctiluca scintillans, não tem efeitos tóxicos, mas como contém uma alta concentração de amônia, pode irritar a pele.
Nesta terça-feira (27), a praia de Bondi Beach já estava aberta, mas banhistas evitavam chegar à área do mar que ainda estava colorida devido ao fenômeno.
Banhista para antes de chegar à área do mar que ficou vermelha devido a uma alta proliferação de algas na praia de Clovelly, em Sydney, na Austrália, nesta terça-feira (27) (Foto: William West/AFP)

Nadador aproveita a piscina enquanto mar permanece vermelho na praia de Clovelly nesta terça-feira (27) (Foto: William West/AFP
 Fonte: G1

24 outubro, 2012

Meteorologistas preveem "chuva de sangue" na Grã-Bretanha


Se os meteorologistas estiverem certos, os britânicos do sudeste do país podem ser testemunhas de um fenômeno raro e inusitado nesta semana: a chamada chuva vermelha, também conhecida como chuva de sangue.
O fenômeno ocorre quando a poeira de regiões desérticas se mistura com a umidade das nuvens, resultando em uma chuva de coloração avermelhada que deixa uma fina camada de pó sobre ruas, casas, árvores e outras superfícies.
Segundo especialistas, a poeira vermelha é proveniente de fortes tempestades de areia no deserto do Saara que, apesar de ocorrerem a 2 mil quilômetros de distância, levantam partículas minúsculas levadas pelo vento para outras regiões.
Philip Eden, especialista em clima, explica que a poeira - e, consequentemente, a chuva - também pode ser amarronzada ou cor de areia. As nuvens que causariam a chuva vermelha chegaram à Grã-Bretanha com uma massa de ar quente vinda da África - que deve fazer as temperaturas no país atingirem 20º C nos próximos dias, algo incomum para o meio de outono.

Diferentes cores

"Os montes de areia têm cores diferentes no Saara, o que significa que a cor da chuva e do revestimento que ela deixa também podem variar", diz Eden.
A chuva colorida é rara no Reino Unido sendo mais comum em países do sul da Europa, como Espanha, Itália, Portugal e sul da França, que estão mais próximos do Saara. Ela também já foi registrada em países escandinavos.
Um incidente bem documentado desse fenômeno aconteceu em 2001, no sul do Estado indiano de Kerala, quando uma chuva de uma forte cor vermelha coloriu a região por semanas. Naquela ocasião, o tom avermelhado foi tão intenso que até a roupa dos moradores ficou manchada.
Além disso, há relatos de "chuvas de sangue" em textos históricos. O fenômeno é mencionado na Ilíada, de Homero, escrita no século 8 a.C., e em textos do século 12 do escritor Geoffrey de Monmouth, que popularizou a lenda do Rei Arthur. Antigamente, muitos acreditavam que a chuva era realmente de sangue e o fenômeno era considerado um mau presságio.
Segundo meteorologistas britânicos este ano o clima no país foi marcado por temperaturas e fenômenos meteorológicos atípicos, com um longo período de seca na primavera seguido de uma temporada de chuvas torrenciais.

Fonte: Terra e G1

16 outubro, 2012

Revertida justa causa de doméstica acusada de bruxaria


Uma empregada doméstica do Rio de Janeiro conseguiu reverter na Justiça do Trabalho sua dispensa por justa causa, aplicada sob a alegação de que ela teria praticado magia negra na residência do patrão.

A trabalhadora também vai receber uma indenização por dano moral no valor de 40 salários mínimos, já que o juiz considerou que ela foi ofendida em sua honra e crenças ao ser chamada de bruxa.

Na ação trabalhista, a empregada expôs que foi admitida em maio de 2011, permanecendo no emprego por seis meses, quando foi dispensada sem receber nada. Também afirmou que sofreu abalo psicológico e em sua auto-estima, ao ser associada à bruxaria.

Em seu depoimento pessoal, o réu afirmou que a empregada foi responsável por vários acontecimentos negativos ocorridos com seu filho, que adoeceu logo após a chegada da reclamante, chegando ao estado de inanição, além do fato de ser ela a autora de cinco grandes despachos de magia negra e vodu encontrados na casa da família.

Ao julgar o pedido, o juiz do Trabalho Leonardo da Silveira Pacheco, Titular da 76ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, considerou que o reclamado não conseguiu provar suas alegações, e que a presença, não comprovada, de “despachos” em diversos móveis e em diferentes cômodos da residência não permite concluir que a autoria dos mesmos é da reclamante.

Segundo observou o magistrado, o próprio reclamado admitiu a ocorrência de fatos parecidos praticados por outras pessoas que trabalharam anteriormente em sua residência, como roubo de roupas íntimas para serem levadas a cemitérios, o que demonstra fanatismo e intolerância religiosa por parte do réu.

“Tais atitudes negativas devem ser levadas ao Poder Judiciário para serem coibidas e desestimuladas por meio de sanções pecuniárias ou penais, numa forma de reduzir o fanatismo e a intolerância religiosas num país laico e que se preocupa com as liberdades individuais, afirmou o juiz, para quem a atitude do réu viola preceito constitucional de liberdade religiosa.

Além da indenização por dano moral, o empregador foi condenado a pagar as verbas rescisórias referentes a uma dispensa sem justa causa – férias proporcionais acrescidas de 1/3, gratificação natalina e aviso prévio. Nas decisões proferidas pela Justiça do Trabalho são admissíveis os recursos enumerados no art. 893 da CLT.

Número do processo: RO 0001462-23.2011.5.01.0076

05 outubro, 2012

Domingo é dia de eleições...



A política nacional está ficando mais patética e vergonhosa a cada ano e em breve teremos que dizer um basta aos oportunistas de plantão que veem em suas candidaturas uma oportunidade de usar facilmente nosso suado dinheiro para continuar mantendo suas vidas fúteis e vazias, sem ao povo verdadeiramente servir. 
Mas essa é uma preocupação secundária, que deve ficar para depois, pois há um inimigo muito maior que põe em risco a liberdade de todos nós: os candidatos religiosos ou aqueles patrocinados pelas instituições religiosas, sobretudo as evangélicas.

Das muitas preocupações nessas eleições, a mais urgente é dizer NÃO a esse tipo de candidato!

Evitem partidos ligados à Frente Parlamentar Evangélica (FPE) e para evitar votar em candidato evangélico (mesmo em coligações), preste atenção à representatividade dos políticos na legenda.
Se negue veementemente a votar em tais partidos ou candidatos, mesmo que no final você deixe de votar em um amigo, familiar ou partido político com o qual simpatiza por uma razão em especial, mas que no fundo não se compromete sincera e integralmente com a nossa causa que é clara: manter intocada a laicidade do Brasil e a liberdade de TODAS as religiões.

Lembre-se, o direito de uma religião termina quando ela tenta impedir outra de exercer e manifestar livremente a sua fé!

Não podemos esquecer que os grupos que se opõem ao direito de liberdade religiosa e laicidade do país, principalmente os fundamentalistas evangélicos e católicos, estão se tornando cada vez mais articulados, organizados e ganhando mais espaço na bancada pura e simplesmente porque não votamos direito e por nos omitirmos na hora de dizer um grande BASTA a tudo isso!

Devemos nos lembrar sempre que a oposição à liberdade religiosa traz de carona o preconceito a diversidade sexual, o machismo, conservadorismo, ortodoxia, intolerância e preconceito com as minorias. Por isso, evite os políticos já carimbados que vivem levantando o lema da “preservação da família”, conservação da "moral e bons costumes" e exercício dos “valores cristãos”, porque isso é apenas uma maneira velada de dizer o quanto ele é machista, ultraconservador e homofóbico e o quanto vai lutar contra nossa liberdade e direitos se for eleito!

Os partidos que devem ser evitados por todos os que desejam preservar nossa tão suada e conquistada liberdade religiosa são todos os que tragam a presença de membros na Frente Parlamentar Evangélica (FPE). Os principais e mais perigosos são destacados abaixo:

PR (Partido da República)
PRB (Partido Republicano Brasileiro)
PP (Partido Progressista)
PSC (Partido Social Cristão)
PTC (Partido Trabalhista Cristão)
PSDC (Partido da Social Democracia Cristã)
PRTB (Partido Renovador Trabalhista Brasileiro)
PHS (Partido Humanista da Solidariedade)
PTdoB (Partido Trabalhista do Brasil)
PSD (Partido Social Democrático)
PRP (Partido Republicano Progressista)
PTB (Partido Trabalhista Brasileiro)

Na lista, também estão o PSDB, PT e o PMDB que tem oito deputados federais pertencentes à FPE.

Na hora de fazer suas escolhas para essas eleições pesquise os candidatos do PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado), PCB (Partido Comunista Brasileiro), PCO (Partido da Causa Operária) e PSOL (Partido Socialismo e Liberdade). Em 2010 todos os candidatos para a presidência destes partidos se declararam a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo e manifestaram a preocupação em preservar laico o estado. Se por algum motivo os partidos de extrema esquerda o preocupam, reveja seus conceitos e pese na balança os prós e contras de seu posicionamento político para ajudar a defender a causa das minorias e também a laicidade inviolável de nosso país.

Aconselho altamente a leitura da Cartilha LGBT para as eleições. Apesar de não ser primeiramente focada na preocupação da diversidade religiosa, e sim sexual, é um guia valioso para todos os que querem exercer seu voto de forma consciente. A Cartilha pode ser lida no seguinte link:


E, por fim, se você é de São Paulo, DIGA NÃO A CELSO RUSSOMANO e o seu slogan reprovável de "uma igreja em cada quarteirão". Não precisamos de mais igrejas com seus microfones, bandas e gritos alucinados durante o culto para perturbar a paz e tranquilidade dos moradores das ruas residenciais. Precisamos, sim, é de mais escolas, hospitais, creches, transporte público de qualidade e moradias com condições dignas para a população de nossa cidade!

Se gostou do que leu ou se esse post foi útil para você de alguma forma, compartilhe e vamos juntos lutar por um BRASIL DE TODOS OS DEUSES!


04 setembro, 2012

A Lua Azul



A lua azul é beleza rara,
A cada dois anos a lenda fala
É a lua cheia que encontra o mar
É a lua do amor, prá se apaixonar.
No azul do infinito, sozinha não está
São milhões de astros a lhe acompanhar
É o brilho das estrelas a iluminar
São os enamorados prá admirar.

A lenda não mente, deve-se acreditar
É a força do amor que a lua dá
É a lua azul prá nos encantar.

Feliz quem pode um dia encontrar
A lua azul e se enamorar
E a cada dois anos comemorar.

Iracema Patricio

Milhares de acusadas de bruxaria vivem em campos isolados em Gana


Em Gana e em outros países africanos, quando desastres atingem vilarejos, a busca por explicações acaba levando a bodes expiatórios – as chamadas bruxas.
Muitos suspeitam que a acusação de bruxaria na África é uma forma de se apropriar da heranças de viúvas
Mulheres excêntricas ou extrovertidas – muitas vezes idosas – costumam ser os alvos mais fáceis, e os casos normalmente terminam com a expulsão da "culpada".
Atualmente, existem seis campos de bruxas espalhados por Gana, com até mil mulheres em cada um deles.
Neles, mulheres exiladas de seus povoados podem viver sem medo de espancamentos, tortura ou até linchamento.
Isto é, se forem consideradas inocentes ou passarem por um ritual de purificação.
No campo de Kukuo, recém-chegadas primeiro precisam comprar uma galinha de cores fortes como oferenda ao religioso chefe.
Agachado, o velho sacerdote murmura algumas palavras antes de cortar a garganta da ave. Se ela cair de costas, é sinal de que a "bruxa" é inocente e está pronta para ser purificada com água benta.
Caso contrário, a "bruxa" precisa beber uma poção purificadora feita com sangue de galinha, crânio de macacos e terra.
Mas, para o exorcismo funcionar, a mulher não pode ficar doente nos próximos sete dias. Se ficar, tem de tomar a poção novamente.
Embora a tradição dos campos de bruxas aparentemente seja exclusiva de Gana, o costume de encontrar no suposto uso de magia negra explicações para desastres é comum em várias partes da África.

Samata Abdulai

Histórias como a de Samata Abdulai, forçada a abandonar o seu povoado aos 82 anos, são comuns.
Abdulai hoje vive no campo de Kukuo em um dos vários barracos cheios de goteiras e sem acesso a eletricidade ou a água corrente.
Para conseguir água, ela e as outras "bruxas" do campo andam cerca de 5 km diariamente até o rio Otti, carregando os jarros sozinhas.
Uma vida bem diferente do relativo conforto de que desfrutava no vilarejo de Bulli, a cerca de 40 km do campo, onde a vendedora de roupas de segunda mão aposentada cuidava de suas netas gêmeas, enquanto a filha trabalhava nas plantações de algodão.
Safia e Samata Abduladia tiveram que abandonar o seu povoado
O destino da idosa mudou após um de seus irmãos acusá-la pela morte de sua filha, supostamente causada por uma maldição lançada por Abdulai.
"Fiquei confusa e cheia de medo, porque sabia que era inocente. Mas também sabia que, uma vez que começam a te chamar de bruxa, a sua vida está em perigo. Por isso, não perdi tempo, juntei as minhas coisas e fugi do povoado", contou à BBC.
"Quando você é acusada de bruxaria, é uma perda de dignidade. Para ser sincera, tenho vontade de simplesmente acabar com a minha vida."
Um relatório da organização não-governamental ActionAid publicado recentemente afirma que mais de 70% das moradoras do campo de Kukuo foram acusadas de feitiçaria e expulsas após a morte dos seus maridos.
Para muitos, isso é um sinal de que as acusações de bruxaria são uma forma velada de a família se apropriar dos bens da viúva.
"Os campos são uma manifestação dramática da condição da mulher em Gana", afirmou o professor Dzodzi Tsikata, da Universidade de Gana.

"Idosas viram alvo porque não são mais úteis à sociedade."

Para o grupo de direitos das mulheres Songtaba, aquelas que não se adaptam às expectativas da sociedade também acabam vítimas de acusações de feitiçaria.
"A expectativa sobre mulheres é de submissão, então, quando elas começam a dar muitas opiniões ou mesmo ser bem-sucedidas em seu ramo, começam as acusações de serem possuídas", afirma o acadêmico.
O campo de Kukuo é um dos seis campos de bruxas que atualmente funcionam em Gana
Uma das irmãs mais novas de Abdulai, Safia, de 52 anos, também mora no campo para ajudar a própria mãe e a avó, ambas expulsas do vilarejo.
"Elas não são bruxas, isso é ódio, inveja e uma forma de se livrar de você", afirma.
O governo de Gana sabe que a existência dos campos macula a reputação dessa que é uma das democracias mais progressivas e economicamente vibrantes na África. Por isso, no ano passado, afirmou que tomaria medidas para acabar com eles, provavelmente, em 2012.
O problema é que não se pode simplesmente mandar as mulheres de volta a seus vilarejos.
"Temos que trabalhar muito com as comunidades para que possam voltar sem serem linchadas ou novamente acusadas, se, por exemplo, uma vaca pula uma cerca e derruba alguma coisa", afirmou Adwoa Kwateng-Kluvitse, diretora da ActionAid em Gana.
Na opinião da ativista, isso pode levar entre 10 e 20 anos. 
Fonte: BBC

02 agosto, 2012

Idosa de casta inferior é linchada na Índia por bruxaria


Mulher de 65 anos pertencia à casta dos dalit - a mais baixa do sistema social hindu - e morreu após agressões na região de Bihar
Pessoas se banham no Rio Ganges, Índia: idosa de casta mais baixa do sistema social hindu é linchada após ser acusada de bruxaria
Nova Délhi - Uma mulher de 65 anos pertencente à casta dos dalit ("intocáveis" ou "impuros"), a mais baixa do sistema social hindu, morreu linchada nesta quarta-feira após ser acusada de bruxaria.

O crime ocorreu no povoado de Shevenan, situado na nortista região de Bihar, que é uma das mais pobres e atrasadas da Índia, segundo informou uma fonte policial à agência indiana "Ians". 
A vítima, Payari Devi, morreu nas mãos de uma multidão que a atacou após acusá-la de provocar a morte de um homem de povoado, Ashok Manjhi, por meio de técnicas de magia negra.

Até o momento, a polícia já deteve quatro pessoas envolvidas no crime. 
Em zonas rurais de Bihar continuam sendo frequentes estes tipos de ataques contra mulheres acusadas de bruxaria. No mês passado, outra idosa acusada de bruxaria foi obrigada a comer excrementos humanos no distrito de Sitamarhi.

Vários governos regionais empreenderam nos últimos meses campanhas para erradicar tanto os linchamentos de supostos bruxos e bruxas como os sacrifícios humanos, embora esta última prática seja cada vez menos comum.

Fonte: Exame, Terra

20 junho, 2012

Acusados de seqüestro, estupro e bruxaria são decapitados na Arábia Saudita




Riad, 19 jun - As autoridades sauditas decapitaram nesta terça-feira um homem e uma mulher egípcios condenados por seqüestro, tortura e estupro de uma menor de idade; e um saudita acusado de bruxaria, informou o Ministério do Interior em comunicado.

A nota detalhou que no primeiro caso os egípcios, que eram irmãos, foram condenados à morte por manter em cativeiro durante três anos e meio uma menina de nove anos na cidade de Medina, no oeste da Arábia Saudita.

Segundo o texto, durante esse período de tempo o homem estuprou a menor de forma contínua.

As autoridades também executaram um cidadão saudita depois que o consideraram culpado de exercer magia e bruxaria e de cometer adultério com duas mulheres. O comunicado destaca que no momento de sua detenção na cidade de Nayran, no sul, as forças de segurança apreenderam livros de magia negra.

O ultraconservador reino da Arábia Saudita é regido por uma interpretação rigorosa da lei islâmica, que estipula castigos como a decapitação por sabre, o apedrejamento e a amputação de membros, aos quais habitualmente recorrem os juízes sauditas.

07 junho, 2012

Vênus, a Deusa



Nascimento de Vênus

Da espuma do mar, fecundada pelo sangue de Urano nasceu uma jovem levada em primeiro lugar para a ilha de Cítera e em seguida a Chipre. Deusa encantadora, não tardou percorrer a costa, e as flores nasciam sob os seus pés delicados. Chama-se Afrodite (Vênus), ou Citeréia, do nome da ilha a que aportou, ou ainda Cipris, do nome da ilha em que é honrada. Pelo menos, é essa a tradição mais difundida, pois algumas lendas diferentes vieram confundir-se em Vênus que, às vezes, surge como filha de Júpiter e de Dionéia. É também a que devemos adotar, pois os artistas que representaram o nascimento de Vênus mostram sempre a deusa no momento em que sai das vagas.

Nas pinturas antigas, Vênus é freqüentemente representada deitada sobre uma simples concha; nas moedas, vemo-la num carro puxado pelos Tritões e pelas Tritônidas. Finalmente, numerosos baixos-relevos no-la apresentam seguida de hipocampos ou centauros marinhos. No século dezoito, os pintores franceses, e notadamente Boucher, viram no nascimento de Vênus um tema infinitamente gracioso e útil à decoração. Uma multidão de pequenos cupidos paira nos ares ou escolta a deusa. Aliás, os pintores franceses seguiram, nesse ponto, as tradições bebidas da Itália.

Conformando-se à narração dos poetas, Albane colocou a deusa num carro puxado por cavalos marinhos. Assim é que ela vai ter a Cítera, onde a aguarda Peitho (a Persuasão), que, na margem, estende os braços à jovem viajante. Cupido está sentado perto do mar; as Nereidas e os Amores montados em delfins formam o cortejo da deusa. Alegres Amores festejam a chegada de Vênus, e outros esvoaçam no ar semeando flores na passagem.

Num quadro dotado de grande frescor e brilho, que faz parte do museu de Viena, Rubens pintou a festa de Vênus em Cítera. Ninfas, sátiros e faunos dançam em torno da sua estátua, enquanto os Amores entrelaçam guirlandas de flores e enchem os ares de alegres cadências. Ao fundo, mostrou o pintor o templo da deusa.

O atavio de Vênus é um tema que a arte e a poesia fixaram bem. Enquanto as Horas estavam incumbidas da educação da deusa, as Graças presidiam aos cuidados do seu atavio. Uma multidão de quadros reproduziu tão encantadora cena, e os pintores não deixaram de acrescentar todos os pormenores que lhes sugeriu a imaginação. Quando Boucher faleceu, tinha sobre o cavalete um quadro representando o atavio de Vênus. Prudhon pintou Vênus estendida num leito antigo e servida pelos Amores que lhe perfumam os cabelos, lhe estendem um espelho, queimam perfumes em torno da deusa, trazem-lhe jóias e lhe entrelaçam guirlandas de flores. Rubens também faz intervir Cupido que segura um espelho no qual a mãe se fita; infelizmente, é uma velha que lhe arranja os cabelos. A velhice lenta e enrugada jamais deve aproximar-se de Vênus.

Albane, que está longe de ser artista de primeira ordem, é, no entanto, o que mais lembra, pela natureza de suas composições, as graciosas ficções da antigüidade sobre Vênus. O Atavio de Vênus, quadro que infelizmente escureceu, é talvez, a sua obra-prima como concepção mitológica. Num terraço, à beira-mar, Vênus contempla-se num espelho que o Cupido lhe apresenta, enquanto as Graças lhe perfumam a linda cabeleira, e lhe arranjam os atavios. Diante dela está uma fonte onde o Amor faz que matem a sede duas pombas. Um palácio aéreo, como convém a Vênus, aparece no fundo de um tanque, ao passo que, nas nuvens, Amores alados atrelam cisnes brancos ao carro de ouro que vai conduzir o passeio a deusa, e enchem os ares dos seus melodiosos concertos.
Tipo e Atributos de Vênus

"O culto sírio de Astarte, diz Ottfried Mueller, parece, encontrando na Grécia alguns inícios indígenas, ter dado nascimento ao culto célebre e difundido por toda parte de Vênus Afrodite. A idéia fundamental da grande deusa Natureza, sobre a qual ela repousava, nunca se perdeu inteiramente; o elemento úmido que formava no Oriente o império reservado a essa divindade continuou a ser submetido ao poder de Vênus Afrodite nas costas e nos portos em que era venerada; sobretudo o mar, o mar tranqüilo e calmo, refletindo o céu no espelho úmido das suas ondas, parecia, aos olhos dos gregos, uma expressão de sua divinal natureza. Quando a arte, no ciclo de Afrodite, deixou para trás as pedras grosseiras e os ídolos informes do culto primitivo, a idéia de uma deusa cujo poder se estende por toda parte e à qual ninguém pode resistir, animou as suas criações; gostava-se de representá-la sentada num trono, segurando nas mãos os sinais simbólicos de uma natureza repleta de mocidade e esplendor, de uma luxuriante abundância; a deusa estava inteiramente envolta nas dobras das suas vestes (a túnica mal lhe deixava à mostra uma parte do seio esquerdo) que se distinguiam pela elegância, pois precisamente nas imagens de Vênus, a graça rebuscada das vestes e dos movimentos parecia pertencer ao caráter da deusa. Nas obras saídas da escola de Fídias, ou produzidas sob a influência dessa escola, a arte representa em Afrodite o princípio feminino e a união dos sexos em toda a sua santidade e grandeza. Vê-se ali, antes, uma união durável formada com o fito do bem geral, e não uma aproximação efêmera que deve terminar com os prazeres sensuais que ele proporciona. A nova arte ática foi a primeira que tratou do tema de Afrodite com um entusiasmo puramente sensual, e que divinizou, nas representações figuradas da deusa, já não mais apenas um poder ao qual o mundo inteiro obedecia, mas antes a individualidade da beleza feminina."

Vênus dá leis ao céu, à terra, às ondas e a todas as criaturas vivas. "Foi ela que deu o germe das plantas e das árvores, foi ela que reuniu nos laços da sociedade os primeiros homens, espíritos ferozes e bárbaros, foi ela que ensinou a cada ser a unir-se a uma companheira. Foi ela que nos proporcionou as inúmeras espécies de aves e a multiplicação dos rebanhos. O carneiro furioso luta, às chifradas, com o carneiro. Mas teme ferir a ovelha. O touro cujos longos mugidos faziam ecoar os vales e os bosques abandona a ferocidade, quando vê a novilha. O mesmo poder sustenta tudo quanto vive sob os amplos mares e povoa as águas de peixes sem conta. Vênus foi a primeira em despojar os homens do aspecto feroz que lhes era peculiar. Dela foi que nos vieram o atavio e o cuidado do próprio corpo." (Ovídio).
Vênus Celeste e Vênus Vulgar

Pausânias, na sua descrição de Tebas, assinala várias estátuas de Vênus, da mais alta antigüidade, pois haviam sido feitas com o lenho dos navios de Cadmo e consagradas pela própria Harmonia. "A primeira, diz ele, é Vênus celeste, a segunda Vênus vulgar, e a terceira é chamada preservadora. Foi a própria Harmonia que lhes impôs tais nomes para distinguir essas três espécies de Amores: um celeste, ou seja, casto, outro vulgar, ou seja, preso ao corpo, o terceiro desordenado, que leva os homens às uniões incestuosas e detestáveis. Era à Vênus preservadora que se dirigiam as preces para a preservação dos desejos culposos." (Pausânias).

Temos interessante exemplo desse último aspecto de Vênus, numa decisão do senado romano, o qual, segundo os livros sibilinos consultados pelos decênviros, ordenara a dedicação de uma estátua de Vênus vesticordia (convertedora), como meio de reconduzir as moças devassas ao pudor do sexo. (Valério Máximo).

A tartaruga, emblema da castidade das mulheres, era consagrada a Vênus celeste, e o bode, símbolo contrário, consagrado à Vênus vulgar. As imagens da deusa, que se encontravam em todas as casas, eram, além de tudo, acompanhadas de inscrições que indicavam o seu caráter. Eis aqui uma que chegou até nós: "Esta Vênus não é a Vênus popular, é a Vênus urânia. A casta Crisógona colocou-a na casa de Amphicles, a quem deu vários filhos, comoventes penhores da sua ternura e fidelidade. Todos os anos, o primeiro cuidado desses felizes esposos é de vos invocar, poderosa deusa, e em prêmio da sua piedade, todos os anos lhes aumentais a ventura. Prosperam sempre os mortais que honram os deuses." (Teócrito).

Vênus celeste está caracterizada pela veste estrelada. Vemo-la figurada numa pintura de Pompéia onde está representada de pé com um diadema na cabeça e um cetro na mão. O famoso escultor Scopas fizera para a cidade de Élis uma Vênus vulgar que pusera sentada sobre um bode; figura análoga se encontra em outra pedra gravada antiga. No século XIX, o pintor Gleyre compôs um belíssimo quadro sobre o mesmo tema. Essa Vênus era sobretudo honrada em Corinto, cidade marítima que sempre se celebrizou pelas cortesãs. Ali é que vivia a famosa Laís, em torno da qual se lê a seguinte epigrama na Antologia: "Eu, altiva Laís, de quem a Grécia era joguete, eu que tinha à porta um enxame de jovens amantes, consagro a Vênus este espelho, pois não desejo ver-me tal qual sou, e já não posso ver-me tal qual era."

Encontra-se na mesma coletânea outro trecho ainda mais interessante: "Minarete, que há pouco estendia os fios da trama e sem cessar fazia ressoar a lançadeira de Minerva, acaba de consagrar a Vênus o seu cesto de trabalho, as suas lãs e os seus fusos, todos os instrumentos seus de labor, queimando-os no altar: "Desaparecerei, exclamou, instrumentos que deixais morrer de fome as pobres mulheres e murchais a beleza das jovens!”Depois, pegou coroas, um alaúde e pôs-se a levar vida alegre nas festas e nos banquetes. "Ó Vênus, diz ela à deusa, hei de trazer-te o dízimo dos meus benefícios; proporciona-me trabalho no teu interesse e no meu." (Antologia).

Pigmaleão e a sua Estátua

A ilha de Chipre era particularmente renomada pelas cortesãs. O escultor Pigmaleão que ali vivia sentiu-se de tal modo impressionado com a desfaçatez das mulheres do país, que resolver viver no celibato. Mas como a sua imaginação sonhasse constantemente com uma formosura de caráter diferente, esculpiu uma estátua de marfim, representando uma mulher que à castidade de expressão unia a pureza das formas. A imagem lhe agradou tanto, que por ela se apaixonou; infelizmente faltava a vida àquela pudica beleza, e quando Pigmaleão contemplava as mulheres vivas via nelas a beleza mas nunca o pudor. Ao chegar o dia da festa de Vênus, dia que com tamanha magnificência se celebra na ilha de Chipre, Pigmaleão dirigiu-se ao templo da deusa, que encontrou perfumado com incenso, e rodeado de novilhas brancas, cujas pontas haviam sido douradas e que seriam imoladas. "Grande deusa, exclamou abraçando o altar, faze com que me torne marido de mulher perfeita como a estátua que esculpi!"

Parece que não estava em poder da deusa descobrir em Chipre mulher provida da casta beleza sonhada pelo artista, pois Vênus, para lhe ser agradável, preferiu recorrer ao milagre. Com efeito, quando o escultor voltou, foi abraçar a estátua, e viu-lhe as faces corar: o marfim amoleceu-se e a estátua animou-se. Pigmaleão, encantado, agradeceu à deusa, que desejou pessoalmente assistir ao himeneu.

A história de Pigmaleão constitui o tema do último quadro pintado por Girondet, e que figurou no salão de 1819. Não se imagina a quantidade de brochuras aparecidas desde então para louvar ou criticar o pintor. O mais interessante foi que os médicos houveram por bem mesclar-se à discussão, e examinar, com ridícula seriedade, a questão de saber se o artista tivera razão em animar, primeiramente, a cabeça da estátua, cujas pernas continuam ainda de marfim, e se teria sido mais conveniente fazer recomeçar a vida pelo peito, que encerra o coração e os pulmões.

A estátua animada por Pigmaleão deu-lhe um filho que foi fundador de Pafos, cidade de Chipre, célebre pelo culto ali prestado a Vênus.
Vênus de Cnido

Na origem, não se tinha o hábito de representar Vênus, no instante em que sai da espuma do mar, ou seja, inteiramente nua. Assim, foi a obra de Praxíteles considerada novidade, e a própria deusa testemunha, pela boca de um antigo autor, o espanto por se ver assim desprovida de vestes. "Mostrei-me a Páris, Anquises e Adônis é verdade; mas onde foi que Praxíteles me viu?" (Antologia).

Narra Plínio que Praxíteles, a quem os habitantes de Cos haviam encomendado uma Vênus, lhes deu a escolher entre duas estátuas, uma das quais estava vestida, ao passo que a outra estava nua. Preferiram-nos a primeira, e Praxíteles vendeu a segunda aos habitantes de Cnido que se congratularam com a compra, pois ela granjeou reputação e fortuna ao país. A Vênus de Cnido parece ter sido o tipo da maioria das estátuas da deusa, quando se representava no momento do nascimento. O Júpiter de Fídias e a Vênus de Cnido por Praxíteles eram considerados, nos diferentes gêneros, dois produtos dos mais perfeitos da escultura. Dizia Plínio: "De todas as partes da terra, navega-se em direção a Cnido, para contemplar a estátua de Vênus." O rei Nicomedes ofereceu aos cnidianos, em troca da estátua, a totalidade das dívidas deles, que eram importantes. Recusaram a oferta, e com razão, acrescenta Plínio, pois a obra-prima constitui o esplendor da cidade. Uma multidão de escritores da antigüidade nos legou sinais da admiração que lhes inspirava a obra-prima para a qual se fizera a seguinte inscrição: "Ao verem a Vênus de Cnido, Minerva e Juno disseram uma à outra: Não acusemos mais Páris."

Entre as numerosíssimas estátuas que podem prender-se à mesma série, a mais famosa é a Vênus de Médicis, situada na tribuna da Galeria de Florença. Eis a descrição que dela fazia o catálogo do Louvre, onde figurou durante quinze anos: "A deusa dos Amores acaba de sair da espuma do mar, onde nasceu; a beleza virginal aparece, na margem encantada de Cítera, sem outro véu que a atitude de pudor. Se a cabeleira lhe não flutua sobre os divinos ombros, é por que as Horas, com as suas mãos celestiais, acabam de lha arranjar (Hino homérico). Um delfim e uma concha estão aos seus pés: são os símbolos do mar, elemento natal de Vênus. Os dois Amores que o encimam não são os filhos da deusa. Um deles é o Amor primitivo (Eros) que desemaranhou o Caos; o outro é o Desejo (Himeros) que aparecera no mundo ao mesmo tempo em que o primeiro ser sensível. Ambos a viram nascer e jamais se lhe afastaram dos passos (teogonia de Hesíodo). A Vênus de Médicis tem as orelhas furadas, como já se observou em outras estátuas da mesma deusa; sem dúvida pendiam delas esplêndidos brincos. O braço esquerdo conserva no alto o sinal evidente do bracelete chamado spinther, representado em escultura em várias das suas imagens. Uma inscrição colocada sobre o plinto nos diz que o autor da Vênus de Médicis é Cleômenes, ateniense, filho de Apolodoro."

Vênus nem sempre está de pé quando sai das águas, e uma numerosa série de estátuas, ordinariamente designadas com o nome de Vênus agachadas, apresenta-nos a deusa apoiando um dos joelhos ao chão para tornar a erguer-se. O nome da Vênus no banho também lhe é atribuído. Quando a deusa aperta a cabeleira úmida, chamam-lhe de Vênus anadiomene. Apeles fizera uma Vênus anadiomene da qual os antigos elogiavam bastante a beleza. Os habitantes de Cos exigiram outra Vênus semelhante, do mesmo artista, mas ele morreu deixando a obra incompleta.

A Vênus de Apeles foi celebrada várias vezes na Antologia: "Esta Vênus, que sai do seio materno das águas, é obra do pincel de Apeles. Vê como, pegando com a mão a cabeleira molhada, espreme a água! Agora as próprias Juno e Minerva dirão: "Não queremos mais disputar-lhe o prêmio da beleza." (Antologia).

Vênus Genitrix

Considerada como geradora do gênero humano, Vênus está sempre vestida. Nas estátuas, as dobras da sua veste indicam freqüentemente que está molhada, e às vezes traz um dos seios descobertos, por ser a nutris universal. As medalhas a mostram vestida e com os dois seios cobertos, mas ela está freqüentemente acompanhada de um menino: a deusa, nesse caso, recebe o nome de Vênus genitrix. Temos no Louvre uma bela estátua de Vênus genitrix com um seio descoberto; de resto, o mesmo tipo se encontra quase idêntico em vários museus.
Vênus Vitoriosa

Dá-se este nome a Vênus quando ela usa as armas de Marte. Com efeito, vemos, em várias pedras gravadas, uma figura de Vênus segurando na mão um capacete. Às vezes está ainda acompanhada de um escudo ou de troféus de armas. Outras, segura numa das mãos o capacete, e na outra uma palma. Essas figuras nos mostram sempre Vênus triunfante contra Marte, como conseqüência da mesma idéia que deu nascimento à lenda de Hércules fiando aos pés de Onfales. É sempre a beleza a dominar a força.

A associação de Marte e Vênus está igualmente fixada em duas pinturas de Herculanum, onde se nos deparam Amores preparando o trono das duas divindades. Um capacete está representado no trono de Marte e uma pomba no de Vênus. A pomba é, com efeito, o atributo especial de Vênus, como o capacete é o atributo de Marte.

Colocam-se, igualmente, entre as Vênus vitoriosas uma série de estátuas que só têm vestes para cobrir os membros inferiores, e que têm por caráter determinante a colocação de um dos pés sobre uma pequena elevação. Tal postura implica a idéia da dominação sobre Marte, quando é um capacete que suporta o pé, e sobre o mundo, quando ele se apóia simplesmente num rochedo. Neste caráter, não tem a deusa a graça que se lhe dá como Vênus nascente; pelo contrário, assume as atitudes de heroína. As formas do corpo estão repletas de vigor e força, e as feições possuem uma expressão de brutalidade desdenhosa muito distante do sorriso. A Vênus de Milo é considerada o tipo mais completo dessa classe de estátuas. A beleza grave e sem afetação de tal figura nada tem do agradável coquetismo que a maioria dos artistas dos últimos séculos considera apanágio essencial da mulher. Foi no mês de fevereiro de 1820 que um pobre camponês grego a descobriu, remexendo as terras do seu jardim. A estátua, feita de mármore de Paros, está constituída por dois blocos cuja união se oculta mediante as dobras da túnica



Vênus atravessa o disco solar pela última vez neste século

Desde que o telescópio foi inventado, há mais de 400 anos, apenas sete trânsitos de Vênus foram testemunhados pelo Homem. Esta foi a última vez nesse século que Vênus passou na frente do Sol, então sinta-se realmente privilegiado!
Apesar de ser um evento raro, o trânsito de Vênus pode ser visto em diversas partes do mundo e muitos sites da internet transmitiram o fenômeno astronômico em tempo real. Aqui no Brasil a passagem do planeta só pode ser vista no extremo oeste do país, mesmo assim apenas em sua fase inicial, já que a maior parte do trânsito ocorreu após o pôr-do-Sol no país.
Com imagens geradas pela Nasa-TV a partir de um telescópio solar localizado no topo do monte Mauna Kea, no Havaí, o Apolo11 também transmitiu o trânsito venusiano e colocou a disposição dos internautas um chat para que os interessados pudessem conversar sobre o evento.
Exatamente como o previsto, Vênus tocou o limbo solar as 19h09 BRT, mas poucas pessoas se deram conta disso. A maioria achou que neste momento Vênus surgiria instantaneamente plotado no disco solar. Aos poucos, entretanto, uma pequena mancha negra começou a despontar no extremo esquerdo inferior da imagem e às 19h27 BRT todo o círculo planetário já havia penetrado no disco estelar.
Durante a transmissão, os organizadores utilizaram diversos filtros coloridos para destacar o planeta e outras feições solares. Foram empregados filtros H-alfa, amarelo, azul, violeta e branco e cada um deles permitiu ver o trânsito em comprimentos de ondas diferentes. Nos filtro branco (daylight filter) o planeta apareceu bem destacado e mostrou uma série de manchas quase imperceptíveis em outros filtros.

Às 22h29 BRT o trânsito chegou ao seu momento máximo, quando o planeta completou metade do caminho percorrido. Às 04h31 o disco planetário tocou a borda oposta do Sol, anunciando o fim do evento e às 04h49 o planeta sumiu definitivamente do disco iluminado, deixando uma espécie de saudade, um gostinho de quero mais que só vai se repetir daqui a 105 anos.
Fonte: APOLO11

25 maio, 2012

Imagens espetaculares do eclipse solar 2012


Milhares de filipinos saíram às ruas nesta segunda-feira (21) para ver o eclipse solar, que também pôde ser visto em outros países como China, Japão, Rússia e, ao longo do dia de hoje, será avistável na costa oeste dos Estados Unidos e do Canadá.
O eclipse, conhecido como anular, atinge seu ápice quando forma um "anel de fogo" visível no céu, momento em que a Lua fica entre a Terra e o Sol.
Os chineses foram os primeiros a presenciar o primeiro eclipse solar de 2012, que teve início no domingo. A sombra da Lua sobre o Sol pode ser de até 96% e, dependendo da região onde é visto, sua duração pode variar. Em alguns locais, durou até cinco minutos.
No Japão, um eclipse como esse não era visto desde 1839. Por conta do "intervalo", as emissoras de TVs transmitiram o evento ao vivo e uma delas enviou uma equipe ao topo do monte Fuji.
Como olhar diretamente para o eclipse causa problemas médicos, a população foi orientada previamente, inclusive o ministro da Educação japonês, Hirofumi Hirano, foi à TV mostrar como usar óculos especiais.
Uma outra reportagem aguardou registrar, em um zoológico no sul de Tóquio, a reação dos chimpanzés, mas os animais não tiveram nenhuma mudança no comportamento, para decepção da equipe.
No Centro de Macacos do Japão, um grupo de 20 lêmures pulou o café da manhã e escalou e pulou entre as árvores, um comportamento noturno típico. Finalizado o eclipse, os animais voltaram às atividades diurnas normais. "Eles devem ter reagido ao eclipse", comentou o diretor do local, Akira Kato, à rede de TV NHK.
Índios navajos, que vivem na América do Norte, seguiram a tradição de seus antepassados, permanecendo em casa. Segundo um deles, eles evitarão comer, beber ou dormir enquanto durar o eclipse.








O eclipse anular do Sol ocorrido em 20 de maio não foi visto apenas por observadores aqui na Terra. Do espaço, o telescópio solar HINODE registrou imagens espetaculares, captadas de um ponto de vista único e se da Terra o eclipse foi do tipo anular, visto do Hinode o eclipse foi do tipo parcial.
Diferente dos telescópios solares que ficam estacionados em locais de equilíbrio gravitacional, conhecidos como Pontos de Lagrange, Hinode orbita a Terra a 630 km de altitude, em um tipo de órbita conhecida como helio-síncrona. Isso permite que o satélite observe o Sol 24 horas por dias a partir de uma perspectiva praticamente igual a dos observadores terrestres.
No entanto, o ângulo de observação do satélite com relação à Lua é ligeiramente diferente daquele visto da Terra, o que aumenta consideravelmente a paralaxe.
Em astronomia, paralaxe é a diferença na posição aparente de um objeto visto por observadores em locais distintos. Se aqui da Terra a Lua pareceu encaixada exatamente no centro Sol dando a ilusão de um eclipse anular, do ponto de vista do Hinode essa precisão não aconteceu e o evento teve a aparência de um eclipse parcial, com a Lua transitando parte o disco solar.

Devido ao tipo de órbita, o satélite Hinode registrou o eclipse durante quatro orbitas seguidas e produziu a bela sequência de imagens mostradas no vídeo.

09 maio, 2012

Praticante de bruxaria ganha processo por “assédio religioso”


O druidismo, uma forma de paganismo, é reconhecido como religião no Reino Unido e já está, inclusive, sendo ensinado em sala de aula. Para a maioria dos ingleses, de tradição cristã, esse é apenas outro nome para as antigas práticas de bruxaria que sempre fizeram parte da cultura em algumas regiões do país.
Um estudante de 16 anos de idade, que não pode ser identificado por razões legais, foi ouvido por um tribunal inglês em um caso inédito na Inglaterra. O jovem foi acusado de praticar “assédio religioso” contra uma funcionária da rede Mcdonalds que se declarou “pagã praticante”.
O réu descobriu através de amigos em comum que a jovem dizia ser pagã e por isso, negava os ensinamentos da Igreja oficial da Inglaterra, que é Anglicana, um ramo dos evangélicos. Durante mais de seis semanas enquanto ela estava no trabalho na lanchonete ele a criticou e zombou publicamente dela por causa de sua opção religiosa.
Simon Newell, representante do Ministério Público, disse: “O réu estava ciente dos efeitos que estava causando na vítima e nos outros funcionários. Ele sabia que isso era inaceitável e, mesmo assim, continuou. Ele admitiu que fez isso apenas para irritá-la”. O adolescente declarou-se culpado de “assédio religioso agravado”, uma forma de ofensa pouco comum, mas que gera pena ao acusado.
O tribunal da juventude de Colchester ouviu o adolescente que vive em Lawford e assediou a empregada do Mcdonalds entre 24 de dezembro de 2011 e 18 de fevereiro deste ano.
Ele repetidamente entrava no prédio onde funciona lanchonete na High Street para “provocar” a sua vítima, deixando a funcionária “muito chateada com isso”.
Nos termos do artigo 32, da Lei de Crime e Desordem, uma pessoa é culpada do delito, se cometer assédio “racial ou religioso agravado”. Após o julgamento na corte juvenil, os magistrados decidiram que o adolescente deverá cumprir pena em meio aberto durante três meses. Ele será obrigado a fazer trabalho não remunerado na comunidade e está proibido de ter contato com sua vítima até novembro deste ano.
A Federação Pagã da Grã-Bretanha comemorou, afirmando que os pagãos praticantes são livres para “buscar sua própria visão do Divino, como uma experiência direta e pessoal”. Ela define o paganismo como uma “religião que adora a natureza”. Também explica que eles incorporam uma “rica diversidade de tradições”, incluindo druidas e xamãs, enquanto se dedicam à bruxaria ou ecologia.
Laura Austin, que julgou o caso, disse ao tribunal que não sabia que o paganismo era uma religião reconhecida. Após a audiência, acrescentou: “Até onde sei, este é o primeiro caso desse tipo. Eu tive que fazer uma série de perguntas para me convencer de que era uma religião reconhecida e que se encaixava na legislação atual”.
Cas Morehan, dono da franquia da loja do Mcdonald, disse que: “Infelizmente existem casos onde os funcionários são submetidos a assédio e abuso por parte dos clientes… reconhecemos nosso dever de cuidar de nossos funcionários e tomar as medidas necessárias para proteger nossa equipe. Neste caso particular, precisamos chamar a polícia”.

08 maio, 2012

A história da inquisição no Brasil


Entre os séculos 16 e 18, a Inquisição investigou a Colônia. Prendeu mais de mil pessoas e mandou 29 para a fogueira. Seu maior alvo foram os cristãos-novos

"Arrependo-me e peço perdão porque pequei." Pela primeira vez em dois anos de martírio, Guiomar Nunes disse o que os inquisidores queriam ouvir. A multidão reunida na praça do Comércio, em Lisboa, na tarde de 17 de junho de 1731, gritava contra os hereges, enfileirados diante de um palanque, onde se encontravam autoridades políticas e religiosas. Diante de 3 mil pessoas eufóricas, um a um, os sete réus foram chamados à contrição uma última vez. Acusada de judaísmo, a pernambucana entre eles resistiu muito antes de confessar. Enfrentara interrogatórios duríssimos na prisão. Suas palavras derradeiras, porém, não bastaram para o Tribunal do Santo Ofício. O inquisidor se ajoelhou no tablado montado para a ocasião e, enquanto os auxiliares retiravam-lhe a capa e o barrete, os condenados eram aspergidos com água benta. Em seguida, receberam suas sentenças. Aos 47 anos, Guiomar foi garroteada - estrangulada com uma espécie de torniquete -, e seu corpo, consumido no meio da praça por chamas de até 6 m de altura. Ao pedir perdão, conseguiu evitar que fosse queimada viva. Do outro lado do Atlântico, no Engenho de Santo André (na atual Paraíba), o vendedor de latas Luís Nunes de Fonseca acabara de se tornar viúvo, com oito filhos do casal para criar.

Guiomar morreu em Portugal porque o Brasil não torturou ou fez arder seus hereges em fogueiras. Mas ela foi delatada e presa em um processo iniciado por aqui. E não foi a única. Por mais de 200 anos, a Inquisição católica atuou nas terras da América portuguesa. Estimulou delações e criou um clima de terror nas principais cidades por meio dos temidos visitadores e de auxiliares locais, integrantes do clero. Prendeu e enviou para a Europa pessoas que dificilmente voltavam à terra natal. Quem não foi condenado ao degredo e perdeu todos os bens acabou, como se dizia na época, purificado pelo fogo. A exemplo de Guiomar e dos outros condenados queimados com ela, que nem sequer puderam ser enterrados, suas cinzas foram espalhadas ao vento.
A capital baiana e outras cidades receberam os visitadores com procissões (ilustração: Kléber Sales) 
Cristãos-novos

À frente da União Ibérica, o rei Filipe IV bem que tentou instalar um tribunal do Santo Ofício no Brasil, em 1623, mas não teve autorização da Igreja e desistiu diante das invasões holandesas no Nordeste. Entre os séculos 15 e 16, com a ocupação de colônias na Ásia e nas Américas, Portugal e Espanha empenharam-se em retomar as perseguições que marcaram a Idade Média. O objetivo era garantir que as novas terras se tornassem obedientes à fé europeia e controlar com rédea curta a crescente população de cristãos-novos (descendentes de judeus convertidos).

A chamada Inquisição medieval teve características distintas. Começou no século 13 (com precedentes no século anterior), agiu principalmente na França e na Itália e perseguiu quem discordava dos dogmas do catolicismo ou desrespeitava suas estritas normas de conduta. No século 15, porém, no auge do Renascimento, a atuação dos inquisidores era decadente. Após pressionar muito o papa, a Espanha conseguiu recriar o tribunal, em 1478, e Portugal, em 1536. Estava inaugurada a Inquisição moderna. Os espanhóis instalaram tribunais em cidades centrais de suas colônias: Cartagena, Lima e Cidade do México. Os portugueses conseguiram fazer isso apenas na mais distante: Goa (na atual Índia).

"Os judeus, em princípio, não podiam ser perseguidos pela Inquisição, que investigava apenas as pessoas batizadas. Mas, depois de forçados à conversão, seus descendentes eram investigados até mesmo dez gerações depois. Era racismo mesmo", diz o historiador Bruno Feitler, autor de Nas Malhas da Consciência - Igreja e Inquisição no Brasil. Os cristão-novos eram estigmatizados e perseguidos havia pelo menos três séculos. Com o surgimento de colônias afastadas dos centros de poder, muitos deles preferiram se mudar (ou foram expulsos), o que causou preocupação nas autoridades locais, que temiam a retomada de práticas judaicas. Considerada a primeira professora do Brasil, Branca Dias foi vítima desse cenário. Denunciada pela mãe e pela irmã (possivelmente sob tortura) ainda em Portugal, ela respondeu às acusações de judaísmo, cumpriu pena de dois anos de prisão e depois imigrou com o marido para Pernambuco, onde foi investigada mais uma vez - mesmo vários anos depois de morta, em 1558. Acabou condenada, assim como suas filhas e netas (elas, sim, estavam bem vivas...).

Com a atuação nas metrópoles e no além-mar, esse segundo momento da Inquisição foi marcado por um controle muito maior do Estado, que sustentava os tribunais e se responsabilizava por organizar os autos de fé, as grandes simulações do Juízo Final. Invariavelmente, as fogueiras eram acesas, os hereges, queimados (vivos, mortos ou na forma de bonecos, as efígies), e o povo festejava madrugada adentro. No Brasil, os representantes do Tribunal do Santo Ofício eram as autoridades eclesiásticas locais, que tinham autonomia para identificar casos de desobediência à fé, realizar investigações preliminares e prender os suspeitos, remetidos para Lisboa, onde o processo era concluído. Essa estrutura funcionou entre os séculos 16 e 18. A sede podia estar distante, mas a Inquisição mostrou sua força bem de perto, especialmente quando enviou funcionários para visitas pessoais a algumas áreas cruciais da Colônia.

Visitações

Era um grande acontecimento. O desembarque do emissário mobilizava a população e fazia multiplicar as procissões. Acompanhado de um séquito de dezenas de pessoas, o visitador era instalado em algum casarão central, onde o governador-geral, funcionários de alto escalão, juízes, bispos, vigários e missionários passavam para o beija-mão. Em 1591, a recepção ao primeiro dos quatro enviados parou Salvador: "Heitor Furtado (de Mendonça) veio debaixo de um pálio de tela de ouro e, adentrando a Sé, ouviu renovados votos de louvor à sua pessoa e ao Santo Ofício. Dirigiu-se então à capela-mor, após a leitura da constituição de Pio V em favor da Inquisição, onde estava posto um altar ricamente adornado com uma cruz de prata arvorada, e quatro castiçais grandes, também de prata, com velas acesas, além de dois missais abertos em cima de almofadas de damasco, nos quais jaziam duas cruzes de prata. Em meio a todo esse luxo, o visitador rumou para o topo do altar, sentou-se numa cadeira de veludo trazida pelo capelão e recebeu o juramento do governador, juízes, vereadores e mais funcionários, todos ajoelhados perante o Santo Ofício", descreve o historiador Ronaldo Vainfas. Sabe-se que Mendonça chegou preocupado - tinha lido um texto em que o padre Antônio Vieira dizia que, no Brasil, "não se guarda um só mandamento de Deus e muito menos os da Igreja".

O início das visitas marcava o Tempo da Graça, período de até 60 dias em que todas as pessoas eram "convidadas" a se manifestar. Nas ruas eram afixadas cópias do monitório, documento que listava os "crimes" sujeitos a investigação, incluindo blasfêmias, sacrilégios e, claro, transgressões sexuais e judaísmo. "Quanto mais rápido a pessoa se apresentava, menos suspeitas levantava contra si", diz Fernando Vieira, professor da Universidade Católica de Brasília. A essa altura, a festa dava lugar à tensão. Como as denúncias eram anônimas, aquele era o momento ideal para vinganças. Uma mulher trocada pelo marido, por exemplo, poderia denunciá-lo por bigamia (também há casos de denúncias de homens abandonados pela mulher). Um comerciante passado para trás nos negócios era capaz de sugerir que o concorrente praticava o judaísmo. Escravos denunciavam os seus senhores por sodomia. Na medida em que as acusações se acumulavam, os suspeitos eram levados para diante do visitador. Nem sempre sabiam qual o suposto crime. "No século 17, um homem acusado de homossexualismo confessou judaísmo porque achou que esse era o motivo da denúncia. Acabou julgado pelos dois", afirma Feitler.

Muitas vezes, amigos entregavam uns aos outros e familiares eram forçados a voltar-se contra um parente. Foi o que ocorreu com Ana Rodrigues, a primeira moradora do Brasil condenada à fogueira (leia essa e outras histórias a partir da pág. 30). "A chegada do visitador causava um descontrole nas relações sociais", diz o historiador Angelo Assis, professor da Universidade de Viçosa. O barbeiro Salvador Rodrigues foi acusado de sodomia pelos próprios irmãos na Belém de 1661. O inquérito levantou uma vasta rede de contatos homossexuais e acabou punindo outras pessoas na cidade.

Tradicionalmente, são citadas três visitações ao Brasil. A primeira, entre 1591 e 1595, passou por Bahia, Pernambuco, Itamaracá e Paraíba, num momento em que a União Ibérica enviava vários inquisidores às suas colônias. A segunda, de 1618 a 1621, a cargo de dom Marcos Teixeira, voltou à Bahia, dessa vez com maior foco na busca por cristãos-novos. A terceira, de 1763 a 1769, visitou a província do Grão-Pará e Maranhão e ficou sediada em Belém. As motivações dessa última não estão muito claras, mas a explicação mais comum é a de que ela funcionou para prover suporte ao novo governo local e para mudar a direção da Igreja na região - o visitador, Giraldo José de Abranches, chegou com o novo governador-geral, Fernando da Costa de Ataíde Teive, e acumulou o posto de novo bispo da província. De toda forma, em nenhum outro lugar foram investigados tantos curandeiros e feiticeiros quanto naquelas paragens.

Dúvidas

Os arquivos dessas investigações ainda não são totalmente conhecidos. Localizados na Torre do Tombo, em Portugal, eles citam 40 mil nomes de pessoas perseguidas, mas sem classificação por local de nascimento. Tampouco está claro se essas foram as únicas visitações. Recentemente descobriu-se outra, entre 1627 e 1628, que passou por Rio de Janeiro (onde o visitador Luís Pires da Veiga foi ameaçado de apedrejamento pela população), São Paulo e São Vicente. "Com certeza, há visitações das quais ainda não se encontraram os livros, fora aqueles que se perderam em naufrágios", afirma Assis.

O certo mesmo é que a Inquisição teve grande impacto na vida da Colônia. "A ação inquisitorial se fez sentir em todo o Brasil desde o início da colonização até o século 18, mesmo em capitanias que nunca receberam visitações, como Minas Gerais e Ceará", afirma a historiadora Marcia Eliane Souza e Mello, professora da Universidade Federal do Amazonas. Tanto isso é verdade que há registros de processos antes da primeira visitação. Já em 1546, o donatário da capitania de Porto Seguro, Pero do Campo Tourinho, foi denunciado por ter afirmado que, em suas terras, ele era o "papa" e que trabalhador nenhum tiraria folga nos domingos e dias santos. Ao longo da década de 1550, em Salvador, o bispo dom Pedro Fernandes Sardinha, o primeiro do Brasil, exerceu funções inquisitoriais.

Bispos, padres, missionários, todos os membros da Igreja eram orientados a observar os costumes de seus fiéis e encaminhar os casos suspeitos para instâncias superiores. Mas a rede do Tribunal do Santo Ofício era mais vasta: havia representantes locais escolhidos no clero, os "comissários", que tinham a obrigação de circular pela região com os olhos (e ouvidos) bem abertos. E contavam com a ajuda de informantes, os "familiares", homens influentes que conseguiam da Igreja um certificado de que tinham boa conduta e "sangue puro", intocado por antepassados judeus (o poeta Cláudio Manoel da Costa, por exemplo, foi recusado por "suspeita de sangue"). Os "familiares" acompanhavam as prisões e o confisco de bens determinado pelos comissários, às vezes antes mesmo da conclusão dos processos. A Quaresma era estratégica: todos os habitantes tinham o dever de confessar os pecados - e de entregar os alheios, sob pena de responder como cúmplices.

As grandes cidades foram as mais visadas. Minas Gerais, no auge da mineração, foi alvo preferencial. Assim como o Rio de Janeiro, na medida em que crescia em importância. No fim das contas (ao menos das disponíveis), veio de lá a maior parte dos acusados. "Rio e Minas, principalmente no século 17, tinham um importante número de representantes inquisitoriais. Mas há vítimas espalhadas por boa parte do país, como no Espírito Santo, no Piauí e em Goiás", diz a historiadora Anita Novinsky, da USP. Só na Paraíba, no século 18, 50 pessoas do mesmo círculo familiar foram presas, acusadas de manter as esnogas (sinagogas secretas). No Mato Grosso, foram cinco viagens de comissários em busca de casos de feitiçaria. O "mandingueiro" Manoel Francisco Davida não escapou.

Técnicas de investigação

Sobretudo nos inquéritos por judaísmo, era comum os acusados se comprometerem por manter tradições como enterrar os mortos em terra virgem e certos hábitos à mesa. O capelão do inquisidor geral em Portugal, Andrés Bernardez, recomendava: "Existe uma forma judaica de cozinhar e comer, a que todos devemos estar atentos. Eles preparam seus pratos, principalmente a carne, com muito alho e cebola, fritando-os ao invés de assá-los ou utilizar a banha de porco". Na Bahia de 1560, a mucama de Joana Fenade a denunciou por "fritar cebolas em óleo e jogá-las numa panela com carne para todos comerem".

É verdade que a Inquisição foi muito mais mortal em outras praças (veja à dir.), mas isso não diminui o rastro de medo deixado no Brasil. De toda forma, ela legou aos historiadores relatos preciosos sobre o cotidiano da Colônia até cerca de 1768, quando o Tribunal do Santo Ofício português foi transformado em tribunal régio (no contexto das reformas do marques de Pombal), o que esvaziou sua atuação. A extinção formal ocorreu em 1821. Os processos reproduzem hábitos religiosos, alimentares, sexuais... As toneladas de papel arquivadas no Tombo apresentam da genealogia detalhada das famílias envolvidas às traições nos casamentos. "É um acervo riquíssimo e ainda não totalmente investigado", diz Novinsky.

Infelizes condenados

Algumas das vítimas dos visitadores e dos representantes da inquisição

Ana Rodrigues

A cristã-nova era uma octagenária quando foi presa, na Bahia, em 1593, acusada de judaísmo. Morreu na cadeia, em Lisboa, e ainda assim foi punida: seus ossos foram incinerados após dez anos. Era a primeira prisioneira da colônia levada à fogueira.

Bento Teixeira

Um dos primeiros poetas do Brasil, o português fugiu para Pernambuco após matar a esposa. Sua biografia é nebulosa, mas, em 1594, foi intimado pelo visitador Heitor de Mendonça, acusado de judaísmo. Foi condenado em Lisboa, mas acabou libertado.

João Fernandes

Foi delatado por amigos na cidade de Olinda, com 20 anos de idade, em 1594. Admitiu ter tido "ajuntamento carnal nefando e sodomítico" em uma rede com Bartolomeu Pires, filho do ferreiro da região. Foi denunciado em praça pública, mas seu destino é desconhecido.

Antonio de Gouveia

Ordenado sacerdote, o açoriano virou jesuíta. Foi desligado da ordem ao ser acusado de praticar necromancia. Preso, acabou desterrado para Pernambuco, onde foi detido de novo, em 1571, por manter as "atividades mágicas" com mortos.

Feliciana de lira Barros

Nascida no Pará, era costureira e cristã-velha. Viúva aos 36 anos, foi processada por sodomia, denunciada por vários parentes, em 1763. Foi levada a Portugal para julgamento, mas não se sabe exatamente o que aconteceu com ela depois disso.

Manuel lopes de Carvalho

Foi um dos poucos brasileiros queimados vivos. Nasceu na Bahia e ordenou-se padre. Defendia a união entre o cristianismo e o judaísmo. Na prisão, chegou a dizer que seria ele o messias. Morreu em 1726.

Antonio José da Silva

Conhecido como "o Judeu", nasceu no Rio de Janeiro, em 1705. Estudou direito em Coimbra e escreveu peças que ironizavam a sociedade portuguesa. Foi preso com a mãe e a esposa em 1737. Condenado, pediu perdão e, por isso, foi morto antes de ser queimado, em 1739.

Saiba mais

LIVROS


O mais completo levantamento sobre o assunto, com estudos de caso e estatísticas.

Inquisição em Xeque: Temas, Controvérsias, Estudos de Caso, Ronaldo Vainfas, Bruno Feitler e Lana Lage da Gama (orgs.), Ed. Uerj, 2006.

Somatória de artigos que analisam a Inquisição no Brasil em vários aspectos.


Até hoje uma relevante obra de referência sobre os hábitos dos habitantes da colônia que foram perseguidos.

A inquisição...

- Investigou 1076 pessoas no brasil e condenou 29 à fogueira (vivas, depois de mortas ou queimadas em efígie).

- Foram 778 homens e 298 mulheres processados, sendo que... 46,13% dos homens e 89,92% das mulheres foram acusados de judaísmo

- 38% dos homens e 8% das mulheres foram denunciados por realizar feitiçaria ou pactos com o demônio

- O restante foi enquadrado nas outras heresias, em especial bigamia e sodomia

- Do total de investigados, 27,76% eram mercadores e agricultores, contra 12,86% de artesãos

Outros Tribunais

Em Portugal, foram...

- 29 590 investigados

- 2 441 condenados à fogueira

Em Goa, foram...

- 3 800 investigados

- 42 condenados à fogueira

Fonte: Anita Novinsky, dados localizados nos arquivos da Torre do Tombo. período de 1536 a 1821
Por: Tiago Cordeiro, Controvérsia