29 novembro, 2009

Aonde está a Deusa Brasileira?

O Brasil é o país que concentra um grande número de pessoas que cultuam uma das manifestações da Grande Mãe, como Iemanjá, a Deusa das Águas, Senhora do Mar. Só perde para a Índia, onde inúmeras deusas são cultuadas até hoje.
Anualmente, às vésperas do Ano Novo e no dia dois de fevereiro, milhões de pessoas levam suas oferendas e orações para as praias brasileiras, ou saem em procissões marítimas ou fluviais, similares às antigas cerimônias egípcias e romanas.
Apesar da devoção brasileira a Iemanjá, seu culto não é nativo, ele foi trazido ao Brasil no século XIII pelos escravos da nação ioruba.
Yemojá ou YéYé Omo Ejá, a “Mãe cujos filhos são peixes”, era o orixá dos Egbá, a nação ioruba estabelecida outrora perto do rio Yemojá, no antigo reino de Benin. Devido a guerras, os Egbá migraram e se instalaram às margens do rio Ogun, de onde o culto a Iemanjá foi trazido pelos escravos para o Brasil, Cuba e Haiti.
Nesses países, Iemanjá passou a ser venerada como a “Rainha do Mar”, orixá das águas salgadas, apesar de sua origem ter sido “o rio que corre para o mar”, sua saudação sendo Odo-Yiá, que significa “Mãe do Rio”.
Analisando os nomes Ya / man / Ya e Ye / Omo / Ejá conforme a “Lei de Pemba” – a grafia dos orixás, postulada pela Umbanda, encontram-se os mesmos vocábulos sagrados que significam “Mãe das águas, Mãe dos filhos da água (peixes) e Mãe Natureza”.
Iemanjá é considerada o princípio gerador receptivo, a matriz dos poderes da água, a representação do eterno e Sagrado Feminino. Portanto, Iemanjá personifica os atributos da Grande Mãe, de padroeira da fecundidade e da gestação, inspiradora dos sonhos e das visões, protetora e nutridora, mãe que sustenta, acalenta e mitiga o sofrimento dos seus filhos de fé.
No entanto, por mais que Iemanjá seja reconhecida e venerada no Brasil, ela não representa a Mãe Ancestral nativa, que tenha sido cultuada pelas tribos indígenas antes da colonização e da chegada dos escravos.
Infelizmente, pouco se sabe a respeito das divindades e dos mitos tupi-guarani. A cristianização forçada e a proibição pelos jesuítas de qualquer manifestação pagã, destruiu ou deturpou os vestígios de Tuyabaé-cuáa, a antiga tradição indígena, a sabedoria dos velhos pajés.
Segundo o escritor umbandista W.W. da Matt, a raça vermelha original tinha alcançado, em uma determinada época distante, um altíssimo patamar evolutivo, expresso em um elaborado sistema religioso e filosófico, preservado na língua-raiz chamada Abanheengá, da qual surgiu Nheengatu, origem dos vocábulos sagrados dos dialetos indígenas.
Com o passar do tempo, a raça vermelha entrou em decadência e, após várias cisões, seus remanescentes se dispersaram em diversas direções. Deles se originaram os tupi-nambá e os tupi-guarani, que se estabeleceram em vários locais na América do Sul.
As concepções do tronco tupi eram monoteístas, postulando a existência de uma divindade suprema, um divino poder criador (Tupã) que se manifestava por intermédio de Guaracy (Sol) e Yacy (Lua) que, juntos, geraram Rudá (Amor) e, por extensão, a humanidade. O culto a Guaracy era reservado aos homens, que usavam os tembetá, amuletos labiais em forma de T, enquanto as mulheres veneravam Yacy e Muyrakitã, uma deusa das águas, e usavam os amuletos em forma de batráquios e felinos, pendurados no pescoço ou nas orelhas.
Guaracy era a manifestação visível e física do poder criador representado pelo Sol. Apesar deste astro ser considerado o princípio masculino na visão dualista atual, a análise dos vocábulos nheengatu do seu nome revela sentido diferente. Guará significa “vivente”, e cy é “mãe”, o que formaria a “Mãe dos seres viventes”, a força vital que anima todas as criaturas da natureza, a luz que cria a vida animal e vegetal. Também em outras tradições e culturas (japonesa, nórdica, eslava, báltica, australiana e norte americana), o Sol era considerado uma Deusa, o que nos faz deduzir que, para os tupi, a vida e a luz solar provinham de uma Mãe - Cy - que só mais tarde foi transformada em Pai.
Yacy era a própria Mãe Natureza, seu nome sendo composto de Ya (senhora) e Cy (mãe), a senhora Mãe, fonte de tudo, manifestada nos atributos da Lua, da água, da natureza, das mulheres e das fêmeas.
Cy - ou Ci - representa, portanto, a origem de todas as criaturas, animadas ou não, pois tudo o que existe foi gerado por uma mãe que cuida da sua preservação, do nascimento até a morte. Sem Cy (mãe), não há nem perdura a vida, pois ela é a Mãe Natureza, o principio gerador e nutridor da vida.
Na língua tupi existem váris nomes que especificam as qualidades maternas: Yacy, a Mãe Lua; Amanacy, a mãe da chuva; Aracy, a mãe do dia, a origem dos pássaros; Iracy, a mãe do mel; Yara, a mãe da água; Yacyara, a mãe do luar; Yaucacy, a mãe do céu; Acima Ci, a mãe dos peixes; Ceiuci, a mãe das estrelas; Amanayara, a senhora da chuva; Itaycy, mãe do rio da pedra, e tantas outras mães – do frio e do calor, do fogo e do ouro, do mato, do mangue e da praia, das canções e do silêncio. As tribos indígenas conheciam e honravam todas as mães e acreditavam que elas geravam seus filhos sozinhas, sem a necessidade do elemento masculino, atribuindo-lhes a virgindade - o que também em outras culturas simbolizava sua independência e auto-suficiência. Em alguns mitos e lendas, as virgens eram fecundadas por energias luminosas em forma de animais (serpente, pássaro, boto), forças da natureza (chuva, vento, raios), seres ancestrais ou divindades.
A explicação da omissão, na mitologia indígena, do elemento masculino na criação era o desconhecimento do papel do homem na geração da criança, além do profundo respeito e reverência pelo sangue menstrual que, ao cessar “milagrosamente”, se transformava em um filho. Somente pela interferência dos colonizadores europeus e pela maciça catequese jesuíta que, na criação do homem, o pai assumiu um papel preponderante, o filho tornou-se o segundo na hierarquia, salvador da humanidade - como Jurupary, e à Mãe coube apenas a condição de virgem. Porém, apesar do zelo dos missionários para erradicar os vestígios dos cultos nativos da cultura indígena e dos escravos, muitas de suas tradições sobrevivem nas lendas, nos costumes folclóricos, nas práticas da pajelança e encantaria que estão ressurgindo, cada vez mais atuantes, saindo do seu ostracismo secular.
Um outro arquétipo da Mãe Ancestral é descrito no mito amazônico da Boiúna, a Cobra Grande, dona das águas dos rios e dos mistérios da noite. Apresentada como um monstro terrível que vive escondido nas águas escuras do fundo do rio e ataca as embarcações e pescadores, a Boiúna ou Cobra Maria é, na verdade, a Face Escura da Deusa, a Mãe Terrível, a Ceifadora, que tanto gera a vida no lodo como traz a morte, no eterno ciclo da criação, destruição, decomposição e transformação.
Outro aspecto da Mãe Escura é Caamanha, a “Mãe do Mato”, que protege as florestas e os animais silvestres, e pune, portanto, os desmatamentos, as queimadas e a violência contra a Natureza. Pouco conhecida, ela foi transformada em dois personagens lendários: Curupira e Caapora.

Descritos como seres fantasmagóricos, peludos, com os pés voltados para trás, às vezes com um aspecto feminino, são os guardiões das florestas, que levavam os caçadores e invasores do seu habitat a se perderem nas matas, punindo-os com chicotadas, pesadelos ou até mesmo a morte.
Nas lendas guarani relata-se a aparição da “Mãe do Ouro”, que surge como uma bola de fogo ou manifesta-se nos trovões, raios e ventos, mostrando a direção da mudança do tempo.
Em sua representação antropomórfica, ela torna-se uma linda mulher que reside em uma gruta no rio, rodeada pelos peixes e de onde se estende nos ares como raios luminosos, ou então surge na forma de uma serpente de fogo, punindo os destruidores das pradarias. Em sua versão original, ela era considerada a guardiã das minas de ouro, que seduzia os homens com seu brilho luminoso, afastando-os das jazidas. Seu mito confunde-se com o do Boitatá, uma serpente de contornos fluídicos, plasmada em luz com dois imensos olhos, guardando tesouros escondidos, reminiscência dos aspectos punitivos da Mãe Natureza, defendendo e protegendo suas riquezas.
A deturpação cristã do mito punitivo pode ser vista na figura da “Mula sem Cabeça”, metamorfose da concubina de padre, que assombra os viajantes nas noites de sexta-feira (dia dedicado, nas culturas pagãs, às deusas do amor, como Astarte, Afrodite, Vênus, Freyja) e do Teiniágua, lagarto encantado que se transforma em uma linda moça para seduzir os homens, desviando-os dos seus objetivos.




Quanto ao significado de Muyrakitã, devemos decompor seu nome em vocábulos para compreender sua simbologia feminina: Mura - mar, água; Yara - senhora, deusa; Kitã - flor. Podemos então interpretá-lo como “A deusa que floriu das águas” ou “A Senhora que nasceu do mar”. Esta divindade aquática, considerada a filha de Yacy, era reverenciada pelas mulheres que usavam amuletos mágicos chamados ita-obymbaé, confeccionados com argila verde, colhida nas noites de Lua Cheia no fundo do lago sagrado Yacy-Uaruá (“Espelho da Lua”), morada de Muyrakitã.
Esses preciosos amuletos só podiam ser preparados pelas ikanyabas ou cunhãtay, moças virgens escolhidas desde a infância como sacerdotisas do culto de Muyrakitã - vetado aos homens. Nas noites de Lua Cheia, as cunhãtay, devidamente preparadas, esperavam que Yacy espalhasse sua luz sobre a superfície do lago e, então, mergulhavam à procura da argila verde. A preparação das virgens incluía jejum, cânticos e sons especiais, além da mastigação de folhas de jurema, uma árvore sagrada que contém um tipo de narcótico que facilitava as visões. Enquanto as cunhãs mergulhavam, as outras mulheres ficavam nas margens do lago entoando cânticos rítmicos ao som dos mbaracás. Depois de “recebida” a argila das mãos da própria Muyrakitã, ela era modelada em discos com formato de animais, sendo deixado um pequeno orifício no centro. Em seguida, todas as mulheres realizavam encantamentos mágicos, invocando as bênçãos de Muyrakitã e Yacy sobre os amuletos, até que Guaracy, o Sol, nascia, solidificando a argila com seus raios.
Esses amuletos, que ficaram conhecidos com o nome de muiraquitã, tinham cor verde, azul ou cor de azeitona e eram usados no pescoço ou na orelha esquerda das mulheres. Acreditava-se que eles conferiam proteção material e espiritual e que podiam ser utilizados para prever o futuro, nas noites de Lua Cheia, depois de submersos na água do mesmo lago e colocados na testa das cunhãs, invocando-se as bênçãos de Yacy e Muyrakitã.
O muiraquitã é conhecido como um talismã zoomorfo, geralmente em forma de sapo, peixe, serpente, tartaruga ou de felinos, talhado em pedra, bem polido, ao qual se atribuíam poderes mágicos e curativos. Foram encontrados vários deles na área do baixo Amazonas, entre as bacias dos rios Trombetas e Tapajós, sendo chamados de “pedras verdes das Amazonas”.
Poderia ser uma confirmação do mito das Amazonas ou Ycamiabas, as “mulheres sem homens”, como foram chamadas pelo padre Carvajal, da expedição de Francisco de Orellana, em 1542. Os relatos as descrevem como mulheres altas, belas, fortes e destemidas, longos cabelos negros, trançados, tez clara, que andavam despidas e utilizavam com maestria o arco e a flecha para guerrear e caçar. Diz a lenda que elas escolhiam anualmente homens para serem os pais de seus filhos, presenteando-os com muiraquitãs. Outras fontes afirmam que elas usavam ornamentos de pedras verdes esculpidos em forma de animais como objetos de troca com visitantes ou tribos vizinhas.
Os missionários atribuíam aos índios tapajós a origem dos muiraquitãs, mas eles eram apenas seus portadores, não os fabricantes, exibindo-os como símbolos de poder ou riqueza, ou ainda como compensação na realização de ritos fúnebres, nas cerimônias de casamento ou para selar alianças e acordos de paz entre as tribos.
Ocultos em mitos, lendas e crenças, existem ainda muitos resquícios das antigas tradições e cultos indígenas. Descartando as sobreposições e distorções cristãs e literárias, poderemos resgatar a riqueza original das diversas e variadas apresentações da criadora ancestral brasileira, Mãe da natureza e de tudo o que existe, que existiu e sempre existirá. Cabe aos estudiosos e pesquisadores atuais desvendar os tesouros históricos do passado indígena brasileiro, com isenção de ânimo e sem distorções, em uma sincera dedicação e lealdade à verdade original, para oferecer às nossas mentes as provas daquilo que os nossos corações femininos sempre souberam, ou seja, "que a Terra é a nossa Mãe, que nos tempos antigos os seres humanos veneravam e oravam para uma Criadora, que abria os portais da vida e da morte, cujos templos eram a própria Natureza, que somos todos irmãos por sermos seus filhos, interligados por fazermos parte da teia da Sua Criação”.

31 outubro, 2009

Eu Sou



"Eu sou a Deusa de dez mil nomes e infinitas possibilidades...
Eu danço e com meu corpo traço a magia de Ser e Existir...
Minha cabeça se movimenta como a SERPENTE que é o meu símbolo...
Sou SERPENTE...
sinuosa, escorregadia, misteriosa...
vivo na mente dos homens e nem por isso sou conhecida...
sou temida, pois desconhecem minha força...
troco de pele e com isso renasço...
Tenho asas...

os meus BRAÇOS se estendem em todas as direções,
expandindo minha energia,
me levando para todos os lugares...
sou pássaro que voa sem destino,
sou serpente que chega aonde quer...
Tenho em mim o segredo dos elementos,
minhas MÃOS dão e recebem de acordo com minha vontade...
doar...
reter...
receber...
ações determinadas por mim,
de acordo com o momento...
mas sempre...
sempre...
interagir...
ser uma em tudo...
Os meus SEIOS despertam o desejo e saciam a vontade dos homens,
sou o leite que dá a vida,
e em mim todos encontram o ritmo perfeito de Morgana das fadas...
mesmo em um leve movimentar de OMBROS...
O meu VENTRE...
ele é o caldeirão do conhecimento,
chave dos tesouros, dos mistérios,
dos prazeres escondidos...
mas para chegar até ele,
não tente ir em linha reta...
não sou racional...
me procure na SINUOSIDADE dos movimentos da terra,
o meu corpo é a própria terra...
Em movimentos eu me entrego e me faço querer...
Se estiver pronta, me siga...
deixo através de meus PÉS cada pegada marcada,
ensinando a você como chegar até mim...
e quando me encontrar,
esteja preparada para olhar em meus OLHOS...
pois são eles o portal para o meu mundo...
Lá, encontrará o CORRER DAS ÁGUAS...
o DESPERTAR DO FOGO...
e então,
você poderá dizer se conhece ou não a FORÇA DA MÃE TERRA".

por Allys Madron

20 outubro, 2009

Índia: Aldeões obrigam cinco mulheres a passear nuas, acusadas de praticar magia negra

Índia: Aldeões obrigam cinco mulheres a passear nuas, acusadas de praticar magia negra - Nova Deli, 19 Out (Lusa)



Uma multidão de aldeões despiu e obrigou a desfilar nuas cinco mulheres acusadas de práticas de magia negra na região de Jharkhand, no Nordeste da Índia, informou hoje a polícia.

O episódio ocorreu no domingo na aldeia de Patharghatia, no distrito de Deoghar. As mulheres, além de terem sido despidas, foram obrigadas a comer excrementos, indicou a agência indiana IANS.

"Elas foram torturadas para que admitissem a sua condição de bruxas e de praticantes de magia negra", assegurou um agente da polícia. "O caso ocorreu após decisão de um 'doutor' em bruxaria, que disse que as mulheres estavam a causar problemas à aldeia."

Um grupo de políciais e de funcionários do governo deslocou-se ao local para resgatar as mulheres, três delas viúvas, mas os autores do ataque conseguiram escapar, mesmo havendo centenas de testemunhas oculares.

"Registrámos uma denúncia contra 11 pessoas, seis delas mulheres e iremos deter de imediato dos suspeitos", disse o chefe da polícia.



19 outubro, 2009

O Ovo



O ovo é um símbolo que praticamente explica-se por si mesmo. Ele contém o germe, o fruto da vida, que representa o nascimento, o renascimento, a renovação e a criação cíclica. De um modo simples, podemos dizer que é o símbolo da vida.

Na cosmologia da Deusa o ovo é um símbolo universal da criação do mundo pela Grande Mãe, manifestada como uma Deusa Pássaro.
Os antigos egípcios consideravam o Sol como o ovo dourado posto pela deusa Hathor, na sua manifestação como A Gansa do Nilo. Nos rituais egípcios o próprio universo era visto como o ovo cósmico criado no início dos tempos.
Os mitos gregos associavam diversas deusas com o ovo cósmico, por exemplo, Leto, que chocou um ovo misterioso do qual nasceram Apollo, representando o Sol, e Ártemis simbolizando a Lua.
O historiador Hesíodo relata como a Mãe da Noite, que antecedeu à criação e gerou todos os deuses, criou o Ovo do Mundo e de suas metades surgiram o céu e a Terra.
Em outra versão, deste ovo surgiu Eros, que colocou o universo em movimento e contribuiu para a proliferação da vida.
Para os hindus o ovo cósmico é posto por um enorme pássaro dourado, enquanto no mito de criação finlandês, a deusa Ilmatar, a Criadora que flutuava sobre as águas primordiais, abrigou sobre seu ventre um ovo posto por um grande pássaro e que, ao quebrar, formou o céu e a Terra.
Os ovos são símbolos da Lua, da Terra, da criação, do nascimento e da renovação. A iniciação nos Mistérios Femininos é vista como um renascimento, análogo ao ato de sair da casca. O círculo, a elipse, o ovo, o ventre grávido são símbolos da plenitude misteriosa da gestação e da criação. O centro de um círculo é um espaço protegido e seguro, semelhante à escuridão do ventre e do ovo.
Inúmeras estatuetas representam as deusas neolíticas associadas com a Lua ou o ovo. No folclore de vários povos europeus existem crenças ligadas ao ovo, considerados símbolos de fertilidade, humana ou animal. Até o século 17 na França, a noiva devia quebrar um ovo na soleira da sua casa para assegurar sua fecundidade. Os antigos eslavos e alemães untavam seus arados antes da Páscoa com uma mistura de ovos, farinha, vinho e pão, para atrair assim abundância para as colheitas. Usavam-se ovos também nas oferendas para os mortos, colocados juntos deles no caixão ou sobre os túmulos. Os judeus da Galícia consumiam ovos cozidos ao retornarem dos enterros pra retirar as energias negativas. Na Noite de Walpurgis, nas montanhas Harz da Alemanha, consideradas local de reunião das bruxas, os casais enfeitados com guirlandas de flores dançavam ao redor de árvores decoradas com folhagens, fitas e ovos tingidos de vermelho e amarelos.
Na Romênia, Rússia e Grécia ovos cozidos ou esvaziados do seu conteúdo são até hoje decorados com motivos tradicionais, dados de presente ou usados em competições no domingo da Páscoa. Ganhava aquele que conseguia quebrar os ovos dos concorrentes batendo de leve neles, mas sem rachar o seu. Os romanos destruíam as cascas dos ovos que eles tinham comido para evitar que fossem feitos feitiços com eles.
A presença de ovos nos sonhos deu margem a variadas interpretações, os que apareciam inteiros prenunciavam boa sorte, casamento, gravidez ou herança; se fossem quebrados anunciavam brigas, perdas e separações. A divinação com ovo, chamada de ovomancia, era praticada pelas mulheres européias nos Sabbats Samhain, Yule ou Litha, deixando cair em um copo com água a clara e fazendo vaticínios pelas formas criadas.
Resquícios do mito da deusa celta Ostara, padroeira da fertilidade e renovação da Natureza celebrada no Equinócio da primavera, permaneceram nas crenças populares e persistem até os dias de hoje, apesar das pessoas desconhecerem sua origem. Os símbolos de Ostara eram o ovo e a lebre, sem relação entre si, mas ambos significadores de criação e proliferação. Com o passar do tempo, surgiram os contos do Coelho da Páscoa e a sua inexplicável associação para os leigos com a festa cristã e os ovos de chocolate.

14 outubro, 2009

Nosso poder diário

O ressurgimento do Sagrado Feminino nos traz uma nova visão espiritual. A espiritualidade centrada no culto à Deusa implica no respeito à natureza e à vida em todos as suas manifestações, no cultivo da compaixão e aceitação nossa e dos outros, no reconhecimento da intuição e sabedoria existentes em todas nós.
Para sentir o poder da Deusa, comece a perceber o sagrado em tudo que a cerca, em cada dia, em cada lugar. Talvez precise de algum tempo para notar e experimentar conscientemente momentos, vivências, encontros, que antes passavam de forma fugaz sem que você percebesse o seu valor. Adquirindo uma nova consciência a sua vida torna-se mais rica, um acontecimento ou encontro não mais é algo ao acaso, as “coincidências” passam a ser facetas da sincronicidade cósmica.
A mulher tem um enorme poder dentro de si. Não é o poder sobre alguém ou contra alguém, é o seu poder inato e ancestral, a sua intuição, percepção, compreensão, compaixão, criatividade, amor e conexão consigo mesma, com os outros, com o Divino.
Nas antigas tradições e culturas o poder criativo e renovador da Deusa eram o símbolo da própria vida, a Terra e a mulher eram consideradas sagradas sendo suas representações. Nos cultos e mistérios femininos honravam-se os ciclos eternos que marcavam a vida do renascimento à morte, e desta para um novo início através do renascimento. Vida e morte eram interligadas de forma misteriosa e divina, competindo às mulheres as tarefas de recepcionar e cuidar da vida (parteiras, mães, curandeiras), assistir e auxiliar as transições (xamãs e sacerdotisas) e servir como intermediarias entre o humano e o divino (profetizas, oráculos).
O poder da Deusa possibilita a expansão do potencial emocional, mental, criativo e espiritual inatos em cada mulher. O poder da mulher está na sua sabedoria, a compreensão intuitiva, imparcial e sábia dos processos e das surpresas da vida. Nem toda mulher pode ser jovem, bonita, culta, rica, mas todas as mulheres podem se tornar sábias, permanecendo serenas no meio do tumulto.
As mulheres que almejam o poder da Deusa cultivam uma forma diferente de espiritualidade, buscando expandir sua consciência, honrando a vida em tudo ao seu redor e transformando o mundano em sagrado. A chave para a transformação espiritual é o enriquecimento e o aprofundamento de sua vida interior, podendo assim acessar e confiar no seu Eu.

Para nutrir e embelezar nossas vidas podemos usar inúmeros recursos, simples ou elaborados, como alguns dos seguintes:

1. Crie um espaço sagrado no seu lar, não somente através de um altar, mas usando sua inspiração, imaginação e amorosidade para que todos se sintam bem, protegidos, nutridos e amados;

2. Crie momentos sagrados para si mesma ou compartilhando-os com amigos e familiares, caminhando na natureza, ouvindo música suave, jantando a luz de velas, lendo textos que nutram a alma, enriqueça a sua mente e elevem o espírito;

3. Entre em comunhão com a natureza, honrando a Deusa em todos os seus aspectos e manifestações. Não basta encher sua casa de plantas se você não entrar em contato real e profundo com a terra, a chuva, o vento, as nuvens, o Sol, a Lua, os animais, seus irmãos de criação;

4. Respire e consagre seu corpo como a morada da sua alma durante esta encarnação. Procure viver de forma saudável, fazendo suas opções com consciência, sem se agredir e sem culpar ou aos outros pelos seus problemas ou compulsões. Coma bem para viver melhor. Observe suas fugas e compensações, cuide da sua “criança” carente ou ferida ajudando-a a crescer, curando-a com amor e dando-lhe os meios adequados para se tornar forte e auto-suficiente;

5. Manifeste sua criatividade, escreva, borde, pinte, desenhe, faça colagens, modele argila, cante, recite, dance, aprenda algo novo, componha um poema ou canção, faça pão, comece um diário de sonhos. A mulher que não dá vazão construtiva à sua imensa capacidade criativa pode torná-la em energia destrutiva contra si ou contra os outros;

6. Coloque em prática os ensinamentos espirituais. Não se contente em ler inúmeros livros ou participar de cursos se você não pratica aquilo que aprendeu. Para mudar, precisa viver de forma consciente, reconhecer e transmutar seus pensamentos negativos e ser sincera nas avaliações suas e dos outros. Todas as experiências dolorosas da vida são aprendizados cujas lições podem contribuir para sua transformação. Algumas mensagens levam momentos para serem assimilados, outras, meses ou anos. Quando começar a compreender o significado dos acontecimentos da sua vida, você começou a crescer de fato e assim poderá abrir novas portas na sua vida, se usar a chave certa;

7. Encontre o equilíbrio entre o falar e o silenciar, se movimentar ou se aquietar. Procure se relacionar com pessoas que compartilham das mesmas buscas e que têm o mesmo nível vibratório. Participe de círculos de mulheres em que possa encontrar apoio para a sua jornada espiritual, em que possa confiar para expressar suas dores ou suas conquistas. Celebre a Deusa sozinha ou em grupo, encontrando assim a verdadeira fonte de seu poder, da sua cura e transformação. Cultive a Deusa dentro de você reconhecendo a sacralidade do seu corpo, da sua mente, das suas emoções, da sua vida. E ao reconhecer a Deusa dentro de si, você se tornará uma com Ela.

12 outubro, 2009

Face Ceifadora

Face Ceifadora


O aspecto menos compreendido da Grande Mãe - e, por isso, o mais temido - é a Deusa Negra, a Face Ceifadora.
Assim como a Donzela, a Mãe e a Anciã regem etapas do eterno ciclo da vida - do nascimento, amadurecimento e do declínio, a Deusa Negra encerra o ciclo e representa a decomposição e a morte.

Como Ceifadora, ela é a destruidora de tudo que esgotou seu tempo, de tudo que cumpriu sua finalidade e não serve mais. É ela quem limpa a terra após a colheita para o repouso necessário à germinação de novas sementes. Seu poder é da Lua Negra, dos mistérios ocultos na escuridão, do vazio e do silêncio que antecedem o surgimento da luz, o inicio do dia e o começo de um novo ciclo. Ela ensina que sem morte não há renascimento, sem fim não pode haver um novo começo, sem dissolução do velho não há a renovação.

Como mestra da escuridão, ela orienta e conduz ao encontro da sombra, o aspecto perturbador e renegado do próprio ser. Se você pedir sua ajuda e tiver a coragem de mergulhar nas profundezas de seu mundo interior para descobrir, encarar, reconhecer e aceitar sua sombra, você encontrará sua autêntica identidade, livre das máscaras da personalidade.

Confrontar, contemplar e assimilar o poder da sombra representam a verdadeira iniciação nos mistérios da Deusa Escura e da Lua Negra, iniciação que exige, como preço, mudanças, transformações e novos rumos.


Abraçar a sombra significa aceitar-se assim como você realmente é, mescla de dor e alegria, medo e coragem, conquistas e perdas, sucessos e fracassos, acertos e erros, luz e sombra. Somente assim encontrará seu verdadeiro e completo poder de mulher e a integração de sua totalidade.

São manifestações da Deusa Negra: Hécate, Kali, Baba Yaga, Lilith, Cailleach, Morrighan, Hel, Ran, Sekhmet, Ereshkigal, Coatlicue.
Outro aspecto que foge da costumeira manifestação da Deusa Tríplice, relacionada à lua crescente, cheia e minguante, é a Rainha, conhecida como a Imperatriz e as rainhas dos naipes do tarô.

Esta face da Deusa corresponde à fase da lua balsâmica, entre a lua minguante e a negra. Ela rege a maturidade, entre os 45 e os 55 ou mais anos, da mulher que ultrapassou ou negou a fase da maternidade, que está no auge e plenitude de sua expressão, afirmação e realização, mas que ainda não atingiu a sabedoria da Anciã.
Nesta fase, chamada de pré-climatério, ocorrem mudanças no corpo físico, a mente torna-se inquieta, os pensamentos são voláteis e tumultuados, a percepção é aguçada, a sensibilidade exacerbada, as emoções em conflito.

É um período de inquietação e aparentes contradições, de mudanças de gostos e atitudes, de busca do algo vago ou indefinido no campo espiritual, profissional ou afetivo. Surgem temores em relação ao futuro, o medo do desconhecido, a preocupação com o envelhecimento, ainda mais em uma sociedade que enaltece o valor e o viço da juventude.

Dependerá da mulher passar por esta fase com dor ou com a alegria de quem já venceu batalhas, cumpriu deveres, plantou e colheu e está se aproximando de um tempo de paz e realização interior, com a segurança da experiência e as promessas de futura sabedoria.

Abençoar esta fase, rever o passado e transmutar os resíduos com o auxílio da Deusa Negra, agradecer à Donzela e à Mãe pelo plantio e a colheita, são medidas recomendáveis que abrem as portas para a grande mudança, quando seu sangue não mais será vertido, mas retido em seu ventre, e quando o tempo assinalará sua coroação - não mais como Rainha, mas como uma Sábia Mulher Coroada, herdeira das Matriarcais e das Mães de Clã do passado ancestral.