31 outubro, 2006

A Deusa - O Romance da Deusa

No coração das trevas ecoou um grito, EU SOU A LUZ, e numa explosão luminosa brilhou a primeira fonte de luz do universo. Os poderes da escuridão recuaram diante daquele brilho, quem ousaria desafiar as trevas?

Mas a luz cresceu, e os espíritos da noite eterna recuaram ainda mais. Rodopiando em seu próprio eixo aquela chama luminosa transformava matéria negra em alimento para sua luz. Os poderes do caos não se conformaram, que era aquilo, que era aquele brilho rutilante que cegava, quem deles os desafiava, quem ousava destruir a ordem disforme do nada. Que loucura era aquela?

Um novo grito se ouviu, agora do coração da luz, EU SOU O PODER, e rodando ainda com maior velocidade. Formava um cone de energia luminosa que crescia como uma serpente clareando tudo que antes era escuro.
Dentro de seus escuros corações as forças das trevas, decidiram sufocar a luz, aquilo que os cegava e os machucava deveria terminar. Apenas um entre eles acreditou que a luz era boa, e acostumando sua visão, se maravilhava e se apaixonava pela novidade, todos os demais cerraram fileiras contra o escândalo. Compactaram-se formaram uma grande barreira e passaram a envolver aquilo que os feria. A dor daquele que se apaixonou pela luz, ao ver que ela poderia se extinguir, se transformou em força, e cresceu tanto dentro dele, ao ponto que sem poder se conter gritou EU AMO VOCÊ, e explodiu em luz e fogo.
Cercados os poderes negros perderam completamente a visão, para onde que olhassem a luz os cegava, perdidos e cegos eles dispersaram e se esconderam nos profundos abismos do Universo.

No centro de tudo os dois pontos luminosos transformavam matéria, cresciam, duas enormes serpentes de fogo ígneo, se maravilhavam uma com a outra, como numa dança de acasalamento se volteavam, enroscavam-se trocavam matéria, alimentavam-se uma da outra.




Quem era o Deus? Quem era a Deusa?

A força feminina da criação, o encanto da Deusa seus atrativos despertaram o espírito masculino da proteção, mas agora, se misturavam, copulavam, eram um só, dois poderes ligados pela atração, duas forças em busca de um objetivo. Ou será que só em busca do prazer? O prazer até então inexistente de estar juntos, de roçar seus espíritos transformados em matéria, se sentir o calor um do outro.
Os poderes do caos também se juntaram para apagar a luz, mas não perceberam o prazer de estar junto e por isto tiveram que fugir, se esconder, estes nunca se uniram, sempre solitários amargam suas penas com o ódio e a intransigência, e só pensam em destruir, em terminar com a ordem e voltar ao nada onde inertes deixam os milênios passarem.
Porém junto a Deusa e o Deus, ainda maravilhados um com o outro, as duas serpentes cósmicas, não param de crescer e se amar, e num dado momento, fundem as suas pontas e um circulo de fogo se forma, é tal a felicidade de sentir as ondas de energia fluírem de um para o outro num fluxo constante e ininterrupto, que eles circulam a tal velocidade, como uma roda de fogo neste orgasmo cósmico, que deles se desprendem as galáxias, os sois e os planetas, parindo o universo por força do sexo e do amor.
Deste parto cósmico da vagina flamejante foi criado o universo, e desta energia também nasceram os seus filhos, filhos do seu espírito, os Deuses.
Esgotados depois de transformar a matéria negra em tudo que existe a Mãe e o Pai repousaram sobre sua criação. E os filhos de seu espírito os deuses trabalharam febrilmente na manutenção do que eles construíram, enquanto o ódio dos poderes do caos crescia.
Levantaram-se da noite varias vezes, mas nunca unidos e eram facilmente rechaçados. Apenas uma vez o mais forte dos poderes da sombra uniu em torno de si um exercito de espíritos da escuridão e varreram partes do universo envolvendo a luz, mas a eles foi dado combate pelos filhos da deusa, que terminaram vitoriosos, mas permitiram que existissem as zonas de trevas formando o equilíbrio que sustenta tudo.
A grande Mãe, minha querida irmã de muitas vidas tem um belo raciocínio sobre o amor:
As pessoas não conhecem o Amor.
O que elas chamam de Amor, na verdade, é somente uma projeção em cima de outra pessoa.
O Amor não existe de alguém para alguém.
O Amor é.
Ele não é para alguém, simplesmente é.
O Amor é um estado vibratório que, quando alcançado, a pessoa vibra tão intensamente que se liga no Infinito.
O Amor direcionado para alguém, até mesmo para a divindade, é um aspecto projetivo da personalidade.
Daí o amor e o ódio serem irmãos gêmeos.
Ambos são aspectos projetivos.
Um projeta o aspecto de luz, outro projeta o aspecto de sombra.
Todo o universo é formado pelo corpo da Deusa e do Deus, que estão presentes até mesmo das zonas escuras.
Tudo que existe é parte do amor dos dois, galáxias, planetas, estrelas, buracos negros (que são portais para o mundo das trevas) e tudo que existe neles é parte do corpo dos dois, até mesmo os opositores são parte deles, pois nada resiste à força da atração, a força do amor.

Mesmo os olímpicos a geração mais forte dos deuses, ou A trindade Hindu, temem a força das setas de Eros ou Kama, que transforma os deuses em escravos de simples mortais.
Quem dirá então o que acontece conosco, tocados por uma simples seta do desejo, muitas vezes a simples visão de alguém nos leva a viajar o universo em busca daquilo que os olhos viram por apenas um segundo, e esta força de atração é tão grande que buscamos e trazemos para nosso lado o objeto de nossa paixão.

Ou que nossas palavras escritas se identifiquem tanto com o outro que nos transformamos em musas ou musos que inspiram versos ou imagens que circulam pela rede. E quando concretizamos uma de nossas paixões, e o amor e o sexo acontecem, um vulcão entra em erupção dentro de nós, terremotos e vendavais são pouco perto da força que geramos que num orgasmo recria o universo.
Então... Deuses e Demônios fazem parte do romance da Deusa com o Deus, são lados de luz e sombra, são muitas vezes a face da mesma moeda assim como disse a Mãe aí em cima o amor e o ódio são irmãos, assim como o dia e a noite, a claridade e a escuridão.
Tudo é fruto do amor dado ou negado, da paixão desesperada correspondida ou não, que criam zonas de luz e trevas, e despertam os deuses ou demônios em nossas mentes, nos dando prazer ou sofrimento, alegria ou tristeza, já que o bem e o mal não existem na natureza, mas sim na nossa cabeça.

Chamando pela Deusa do amor
Fase da Lua: Cheia


Objetos necessários para o ritual:


- incenso de rosas
- uma vela vermelha e uma vela rosa
- pétalas de rosa decorando seu altar
- barbante ou fita rosa do tamanho da sua cintura
- imagem da Deusa Vênus
- caneta e pedaço de papel


Acenda o incenso e decore seu altar de acordo com o ritual. No papel, escreva: "Alguém que realmente me ame". Se desejar lançar um encantamento sobre uma pessoa específica, reflita cuidadosamente sobre as implicações desta ação. Você realmente quer que determinada pessoa te ame apenas porque você fez um ritual de magia? A Deusa do amor sabe muito mais sobre isso do que você; deixe que ela escolha a pessoa certa.
Quando estiver preparada permaneça em silêncio para relaxar.
Acenda as velas, dizendo:
Meu coração está vazio
Grande Deusa do amor, envie-me alguém que o encha de amor.
Minha alma deseja assim
Conduza-me à harmonia espiritual
Minha mente está inerte
Encha-a com fertilidade
Passe o barbante pela fumaça do incenso, consagrando-o. Fique de pé em silêncio por alguns momentos, agradecendo à Deusa do amor por seu auxílio. Ouça seus conselhos. Depois, deixe o papel no altar até a manhã seguinte.
Apague as velas.


Na noite seguinte, volte ao altar.
Acenda outro incenso e as velas novamente.
Converse com Vênus usando suas próprias palavras, explicando as características que mais deseja em um parceiro.
Ateie fogo no pedaço de papel com a chama da vela rosa e deixe que queime em uma vasilha metálica.
Livre-se das cinzas quando esfriarem.
A Lenda da Descida da Deusa ao Mundo Subterrâneo
Narrador:
NOS TEMPOS ANTIGOS, NOSSO SENHOR, O CORNUDO, ERA (E AINDA É) O CONSOLADOR, O CONFORTADOR.
MAS OS HOMENS O CONHECIAM COMO O TERRÍVEL SENHOR DAS SOMBRAS, SOLITÁRIO, INFLEXÍVEL E JUSTO.
MAS NOSSA SENHORA, A DEUSA RESOLVERIA TODOS OS MISTÉRIOS, ATÉ MESMO O MISTÉRIO DA MORTE; E ASSIM ELA VIAJOU AO MUNDO SUBTERRÂNEO.
O GUARDIÃO DOS PORTAIS A DESAFIO...
O Guardião dos portais desafia a Deusa com seu Athame.
TIRA TUAS VESTES, PÕE DE LADO TUAS JÓIAS, POIS NADA TU PODES TRAZER CONTIGO AO INTERIOR DESTA NOSSA TERRA.
A Deusa retira seu véu e as jóias. Nada deve permanecer sobre seu corpo.
O Guardião então a prende com o cordel vermelho à maneira da iniciação de primeiro grau, com o centro do cordel em torno da frente do pescoço dela e as extremidades passando por seus ombros e indo atar seus pulsos por trás de sua cintura.


ASSIM ELA SE DESPOJOU DE SUAS VESTES E DE SUAS JÓIAS E FOI AMARRADA COMO TODOS OS VIVOS QUE BUSCAM INGRESSAR NOS DOMÍNIOS DA MORTE, A PODEROSA, TÊM QUE SER.


O Guardião dos portais conduz a Deusa perante o Senhor do Mundo Subterrâneo e, depois, se afasta para um lado.TAL ERA A BELEZA QUE A PRÓPRIA MORTE SE AJOELHOU E DEPOSITOU SUA ESPADA E COROA AOS SEUS PÉS.


O Senhor do Mundo Subterrâneo se ajoelha ante a Deusa, deposita sua espada e sua coroa no chão a cada lado dela, e em seguida beija os pés direito e esquerdo dela.

...E BEIJOU SEUS PÉS, DIZENDO: ABENÇOADOS SEJA TEUS PÉS QUE TE TROUXERAM POR ESTES CAMINHOS. PERMANECE COMIGO, MAS DEIXA QUE EU PONHA MINHAS MÃOS FRIAS SOBRE TEU CORAÇÃO.

O senhor do Mundo Subterrâneo ergue suas mãos, com as palmas para frente e as retém a algumas polegadas do coração da Deusa.


E ELA RESPONDE: EU NÃO TE AMO. POR QUE FAZES TODAS AS COISAS QUE AMO E NAS QUAIS ME COMPRAZO FENECEREM E MORREREM?
O senhor do mundo subterrâneo estende seus braços para baixo, com as palmas das mãos para frente.


SENHORA...
- RESPONDEU A MORTE - TRATA-SE DA IDADE E DA FATALIDADE, CONTRA OS QUAIS SOU IMPOTENTE.
A IDADE, O ENVELHECIMENTO LEVA TODAS AS COISAS A DEFINHAREM; MAS, QUANDO OS HOMENS MORREM AO DESFECHO DE SEU TEMPO, CONCEDO-LHE REPOUSO, PAZ E FORÇA PARA QUE POSSAM RETORNAR.
MAS TU, TU ÉS LINDA. NÃO RETORNES, PERMANEÇA COMIGO.
MAS ELA RESPONDE: EU NÃO TE AMO!


O senhor do Mundo subterrâneo se levanta, vai até o altar e pega o açoite. Volta-se para encarar a deusa.E ENTÃO DISSE A MORTE:
SE NÃO RECEBES MINHAS MÃOS SOBRE TEU CORAÇÃO, TENS QUE TE CURVAR AO AÇOITE DA MORTE.
É A FATALIDADE
- MELHOR ASSIM...
Ela Disse e se Ajoelhou. E a morte a açoitou brandamente.
A deusa se ajoelha encarando o altar. O senhor do mundo subterrâneo aplica-lhe de maneira muito branda três, sete, nove, vinte e um golpes do açoite.


E ELA BRADOU: EU CONHEÇO AS AFLIÇÕES DO AMOR
O Senhor do Mundo Subterrâneo recoloca o açoite no altar, ajuda à deusa a levantar-se e se ajoelha, encarando-a.


E A MORTE A ERGUEU E DISSE: SEJAS ABENÇOADA.
E LHE DOU O BEIJO QUÍNTUPLO, DIZENDO: ASSIM APENAS PODES ATINGIR A ALEGRIA E O CONHECIMENTO.
O Senhor do Mundo subterrâneo dá na Deusa o beijo quíntuplo. Em seguida, desamarra os pulsos dela, depositando o cordel no chão.


E ELE A ELA ENSINA TODOS OS SEUS MISTÉRIOS E LHE DÁ O COLAR QUE É O CÍRCULO DO RENASCIMENTO.
O senhor do Mundo Subterrâneo pega o colar no altar e o coloca em torno do pescoço da deusa. A Deusa então, toma a coroa e a recoloca na cabeça do senhor do Mundo Subterrâneo.

E ELA ENSINA A ELE O MISTÉRIO DA TAÇA SAGRADA, QUE É O CALDEIRÃO DO RENASCIMENTO.

O Senhor do Mundo Subterrâneo move-se diante do altar, no extremo leste deste, e a Deusa move-se diante do altar, no extremo oeste deste. A Deusa toma o cálice em ambas as mãos, eles se entreolham e ele coloca ambas as mãos das dela.


ELES AMARAM E SE TORNARAM UM, POIS HÁ TRÊS GRANDES MISTÉRIOS NA VIDA DO HOMEM, E A MAGIA OS CONTROLA A TODOS.
PARA REALIZAR O AMOR, TENDES QUE RETORNAR NOVAMENTE AO MESMO TEMPO E NO MESMO LUGAR DAQUELES QUE SÃO OS AMADOS; E TENDES QUE ENCONTRÁ-LOS, CONHECÊ-LOS, LEMBRÁ-LOS E AMÁ-LOS DE NOVO.
O Senhor do Mundo Subterrâneo solto as mãos da Deusa e esta recoloca o cálice no altar. Ele toma o açoite em sua mão esquerda e a espada em sua mão direita e fica na posição do Deus, antebraço cruzado sobre o peito, espada e açoite apontados para cima, com suas costas para o altar. Ela fica ao lado dele na posição de Deusa, pernas escarranchadas e braços estendidos formando o pentagrama.


MAS PARA RENASCER, TENDE QUE MORRER E SER PREPARADO PARA UM NOVO CORPO.
E PARA MORRER TENDES QUE NASCER E SEM AMOR NÃO PODES NASCER.
E NOSSA DEUSA SEMPRE SE INCLINA PARA O AMOR, E O JÚBILO, E A VENTURA; E ELA PROTEGE E ACARICIA SUAS CRIANÇAS OCULTAS NA VIDA, E NA MORTE MINISTRA O CAMINHO DA COMUNHÃO COM ELA; E MESMO NESTE MUNDO ELA LHES ENSINA O MISTÉRIO DO CÍRCULO MÁGICO, QUE É DISPOSTO ENTRE OS MUNDOS DOS HOMENS E DOS DEUSES.
O senhor do mundo subterrâneo recoloca o açoite, a espada e a coroa sobre o altar junto deste. Isto completa a Lenda e os atores se juntam de novo aos demais membros.

A Grã Sacerdotisa diz:

QUE PARTICIPEMOS AGORA, COMO A DEUSA NOS ENSINOU, DA FESTA DE AMOR DO VINHO DOS BOLOS; E À MEDIDA QUE O FAZEMOS, QUE NOS LEMBREMOS DE NOSSA IRMÃ...COM A QUAL NÓS TÃO AMIÚDE COMPARTILHAMOS TAL FESTA. E MEDIANTE ESTA COMUNHÃO, NÓS COLOCAMOS AMOROSAMENTE NOSSA IRMÃ NAS MÃOS DA DEUSA.
Todos Dizem: QUE ASSIM SEJA!


O vinho e os bolos são consagrados e passados por todos.
O mais cedo possível, após o Réquiem, os fragmentos da tigela deverão ser ritualmente arremessados num rio, com a tradicional ordem:
RETORNA AOS ELEMENTOS DOS QUAIS VIESTE

















Principio Criador


Existe um Princípio Criador, que não tem nome e está além de todas as definições. Desse princípio, surgiram as duas grandes polaridades, que deram origem ao Universo e a todas as formas de vida.
Princípio Feminino
A Grande Mãe representa a Energia Universal Geradora, o útero de Toda Criação. É associada aos mistérios da Lua, da Intuição, da Noite, da Escuridão e da Receptividade. É o inconsciente, o lado escuro da mente que deve ser desvendado. A Lua nos mostra sempre uma face nova a cada sete dias, mas nunca morre, representando os mistérios da Vida Eterna. Na Wicca, a Deusa se mostra com três faces: a Virgem, a Mãe e a Velha Sábia, sendo que esta última ficou mais relacionada à Bruxa na imaginação popular. A Deusa Tríplice mostra os mistérios mais profundos da energia feminina, o poder da menstruação na mulher, e é também a contraparte Feminina presente em todos os homens, tão reprimida pela cultura patriarcal.

O Divino Feminino
A Deusa foi à primeira divindade cultuada pelo homem pré-histórico. As suas inúmeras imagens encontradas em vários sítios históricos e arqueológicos do mundo inteiro representavam a fertilidade - da mulher e da Terra. Por ser a mulher a doadora da vida atribuiu-se à Fonte Criadora Universal a condição feminina e a Mãe Terra tornou-se o primeiro contato da raça humana com o divino.

Mas afinal, quem é essa Deusa? Só o fato de termos que fazer essa pergunta demonstra o quanto nossa sociedade ocidental formada sob a égide da mitologia judaico-cristã se afastou de nossas origens. Fomos criados condicionados por uma cosmologia desprovida de símbolos do Sagrado Feminino, a não ser Maria, Mãe Divina, que não tem os atributos divinos, que são reconhecidos apenas ao Pai e ao Filho e é substituída na Trindade pelo conceito de Espírito Santo. Maria é, quando muito, a intermediária para a atuação dos poderes do Deus... "Peça à Mãe que o Filho concede..." Mas Maria não é a Deusa, senão um de seus aspectos mais aceitos pela sociedade patriarcal, de coadjuvante do Deus, reproduzindo o fenômeno social do patriarcado em que a mulher auxilia o homem, mas sempre lhe é inferior e, por isso, deve submeter-se à sua autoridade.

Não somos feministas nem queremos partir para discursos feministas, mas tão somente constatar que a ausência de uma Deusa nas mitologias pós-cristãs se deve ao franco predomínio do patriarcado. Predomínio esse que nos trouxe, ao final do século XX, a uma sociedade norteada pelos valores da competição selvagem, da sobrevivência do mais forte, da violência ao invés da convivência, do predomínio da razão sobre a emoção. Mas a Deusa está ressurgindo. Desde a década de 60, reafirmando-se nas últimas, a descoberta da Terra como valor mais alto a preservar sob pena de não mais haver espécie humana fez decolar a consciência ecológica e o renascimento dos valores ligados à Deusa: a paz, a convivência na diversidade, a cultura, as artes, o respeito a outras formas de vida no planeta.

Cultuar a Deusa hoje significa reconsagrar os Sagrados Femininos, curando, assim, a Terra e a essência humana. Quer sejamos homens ou mulheres, sabemos que nossa psique contém aspectos masculinos e femininos. Aceitar e respeitar a Deusa como polaridade complementar do Deus é o primeiro passo para a cura de nossa fragmentação dualística interior. A Deusa é cultuada como Mãe Terra, representando a plenitude da Terra, sua sacralidade. Sobre a Terra existimos e, ao fazê-lo, estamos pisando o corpo dela, aqui e agora, muito diferente da crença em um deus Onipotente e distante, que vive nos céus. A Deusa é a Terra que pisamos, nossos irmãos animais e plantas, a água que bebemos, o ar que respiramos, o fogo do centro dos vulcões, os rios, as cores do arco-íris, o meu corpo, o seu corpo... A Deusa está em todas as coisas... Ela é Aquela que Canta na Natureza... O Deus Cornífero seu consorte, segue sua música e é Aquele que Dança a Vida... Cultuar a Deusa não significa substituir o Deus ou rejeitá-lo. Ambos, Deus e Deusa são da mesma moeda, as duas faces do Todo. A Deusa é a criadora primordial, o Deus o primeiro criado, e sua dança conjunta e eterna, em espiral, representa a eterna dança da vida.

A Deusa também é a Senhora da Lua e, mais uma vez, a explicação desse fato remonta às cavernas em que já vivemos. O homem pré-histórico desconhecia o papel do homem na reprodução, mas conhecia muito bem o papel da mulher. E ainda considerava a mulher envolta em uma aura mística, porque sangrava todo mês e não morria, ao passo que para qualquer dos homens sangrar significava morte. Portanto, a mulher devia ser muito poderosa, ainda mais que conhecia o "segredo" de ter bebês... É fácil entender porque a mulher era identificada com a Deusa, ou, melhor dizendo, porque a primeira divindade conhecida tinha que ter caracteres femininos... Ainda mais quando as pessoas descobriram que a gravidez durava 10 lunações e a colheita e o suceder das estações seguia um ciclo de 13 meses lunares. O primeiro calendário do homem pré-histórico foi mostrado nas mãos da famosa estatueta da Vênus de Laussel, que segura em sua mão um chifre em forma de crescente, com 13 talhos que representam as lunações. Por sua conexão com a Lua e a mulher, a Deusa é cultuada em 3 aspectos: a Donzela, que corresponde à Lua Crescente, a Mãe representada na Lua Cheia e a Anciã, simbolizada na Lua Decrescente, ou seja, Minguante e Nova.

Na tradição da Deusa a Donzela é representada pela cor branca e significa os inícios, tudo o que vai crescer, o apogeu da juventude, as sementes plantadas que começam a germinar, a Primavera, os animais no cio e seu acasalamento. Ela e a Virgem, não só aquela que é fisicamente virgem, mas a mulher que se basta, independente e auto-suficiente. Como Mãe a Deusa está em sua plenitude. Sua cor é o vermelho, sua época o verão. Significa abundância, proteção, procriação, nutrição, os animais parindo e amamentando, as espigas maduras, a prosperidade, a idade adulta. Ela é a Senhora da Vida, a face mais acolhedora da Deusa.
Por fim, a Deusa é a Anciã, que é a Mulher Sábia, aquela que atingiu a menopausa e não mais verte seu sangue, tornando-se assim mais poderosa por isso. Simboliza a paciência, a sabedoria, a velhice, o anoitecer, a cor preta. A Anciã também é a Deusa em sua face Negra da Ceifeira, a Senhora da Morte. Aquela que precisa agir para que o eterno ciclo dos renascimentos seja perpetuado. Esta é o aspecto com que mais dificilmente nos conectamos, porém, a Senhora da Sombra, a Guardiã das Trevas e Condutora das Almas é essencial em nossos processos vitais. Que seria de nós se não existisse a morte? Não poderíamos renascer, recomeçar... Desta forma, é fácil compreendermos porque a Religião da Deusa postula a reencarnação. Se fazemos parte de um universo em constante mutação, que sentido haveria em crermos que somos os únicos a não participar do processo interminável da vida-morte-renascimento? Essa realidade existe no microcosmo do ciclo das estações, da colheita que tem que ser feita para que se reúnam as sementes e haja novo plantio.


É justamente por isso que aqueles que seguem o Caminho da Deusa celebram a chamada Roda do Ano, constituída pelos 8 Sabbats que marcam a passagem das estações. Ao celebrar os Sabbats cremos que estamos ajudando no giro da Roda da Vida, participando assim de um processo de co-criação do mundo. Submeter-se à sua autoridade.
Por tudo o que dissemos fica fácil entender porque os caminhos, cultos e tradições centrados na Deusa são religiões naturais, fundamentadas nos ciclos da natureza e no entendimento de seus elementos e ritmos. Estas práticas de magia natural usam a conexão e correlação dos elementos da natureza - Água, Terra, Fogo e Ar, as correspondências astrológicas (signos zodiacais, influências planetárias, dias e horários propícios, pedras minerais, plantas, essências, cores, sons) e a sintonia com os seres elementais (Devas Guardiões dos lugares, Gnomos, Silfos, Ondinas, Salamandras, Duendes e Fadas).
Da mesma forma que toda luz nasce da escuridão, o Deus, símbolo solar da energia masculina, nasceu da Deusa, sendo seu complemento, e trazendo em si os atributos da coragem, pensamento lógico, fertilidade, saúde e alegria. Da mesma forma que o sol nasce e se põe, todo o dia, o Deus nos mostra os mistérios de Morte e do Renascimento. Na Wicca, o Deus nasce da Grande Mãe, cresce, se torna adulto, apaixona-se pela Deusa Virgem, eles fazem amor, a Deusa fica grávida, o Deus morre no inverno e renasce novamente, fechando o ciclo do renascimento, que coincide com os ciclos da Natureza, e mostra os ciclos da nossa própria vida. Para alguns, pode parecer incestuoso que o Deus seja filho e amante da Deusa, mas é preciso perceber o verdadeiro simbolismo do mito, pois do útero da Deusa todas as coisas vieram, e, para ele, tudo retornará. E, se pensarmos bem, as mulheres sempre foram mães de todos os homens, pelo seu poder de promover o renascimento espiritual do ser amado e de toda a Humanidade. O sentido profundo do simbolismo na Bruxaria só pode ser verdadeiramente entendido através da meditação e do contato intuitivo com a energia dos Deuses.


AS FACES DO DEUS CORNÍFERO
Mavesper Cerridwen


O Deus realmente é deixado de lado muitas vezes nos cultos pagãos, como se a energia da Deusa pedisse essa dedicação exclusiva. Isto é verdade em parte, porque não é possível cultuar o Deus adequadamente enquanto não mergulharmos na Deusa e nos despirmos do Deus do patriarcado.
Quando no curso de nosso caminho - e demora meu anjo - está na hora do Deus voltar, a própria Deusa nos mostra seu Filho, Consorte, Defensor, Ancião.

Falando rapidamente: o Deus Jovem é, antes de tudo, a Criança da promessa, a semente do sol no meio da escuridão. Depois, é o Garoto do Pólen, o fertilizador em sua face mais juvenil, e trás a energia da alegria de viver, o poder de se maravilhar ante as descobertas da vida, é o experimentador, a face mais sorridente do sol matinal.

Dai surge o Deus Azul do Amor, o rapaz que cresceu e chegou na adolescência e desabrocha em beleza e masculinidade, é o Jovem Deus da Primavera, percorre as Florestas e acorda a natureza.

Ele é o Apaixonado, aquele que primeiro busca a Deusa como a Donzela e propicia o encontro... Ele é o Deus da sedução ainda inocente, que não conhece os mistérios da Senhora ainda... Ele é toda possibilidade.

Depois ele é o Galhudo e o Green Man... O Deus é o macho na sua plenitude, O Senhor dos Chifres que desbancou o gamo rei anterior, ele é força e poder, músculos e vitalidade, ele cheira a sexo e promessas. Ele é o Grande Amante, atraído irresistivelmente pela Senhora ele é o Provedor, o Sustentador, o Senhor Defensor.

Ele é o Senhor das Coisas Selvagens, o Deus da Dança da Vida, O Falo Ereto, O Fertilizador.

Como Green Man ele também é o Senhor da Terra e sua abundância, o parceiro da Senhora dos Grãos. O Senhor dos Brotos, aquele que cuida dos frutos e os distribui pela terra.

Mas o Deus é também O Trapaceiro, o Senhor da Embriaguez, o Desafiador e o Ancião da Justiça. Ele nos faz seguir um caminho e nos perdemos pra conhecer o pânico de Pan... Ele nos deixa loucos como Dioniso ou perdidos nos devaneios de Netuno... Ele é o Desafiador, seja nos duelos, seja na guerra, na luta pela sobrevivência...Ele é caprichoso e insidioso, ele nos engana, nos deixa desesperados e sorri - porque esse é seu papel; estimular o novo, mostrar que nosso desespero é inútil e só nos escraviza...

Como a Deusa, Ele está na fome e no fim da fome, na vida e na doença terminal, na luz e na sombra, no que é bom para você e no que é mau... A Deusa nunca está só, ela tem sua contraparte masculina e, no entanto, Ele só existe por amor a Ela... Alias, todos nós somos fruto dessa dança de amor.

O Deus é o Ancião sábio, o distribuidor da Justiça, seja a que se impõe com sabedoria ou raios... Ele conhece os segredos dos oráculos, mas sabe que são Dela... Ele é o repositório do conhecimento, mas a sabedoria é Dela... Ele lê os sinais da natureza, mas sabe que quem os escreve é Ela.

E o velho sábio vai murchando e se transforma no Senhor da Morte... Ele que é o Senhor de Dois Mundos, pois no ventre dela, de volta, ele vive sua morte e a própria ressurreição. Mistério e segredo, morte e retorno, Ele é o que atravessa os portais dos quais Ela é a Senhora.

Ele, o Caçador, que também faz o papel de Ceifador... Ele que ronda o leito dos moribundos e dança a dança da morte. O Senhor dos esqueletos.

Ele que na dança da morte retoma o brilho do sol e sua face negra se ilumina, em uma explosão impossível de conter, e Lugh nasce outra vez...

Ele que é pai, filho, bebê iluminado, amante selvagem, sábio educador... Ele, o Deus que se revela apenas pela Deusa.


A Deusa e o Deus

“Todas as Deusas são uma só Deusa, todos os Deuses são um só Deus”.


Conquanto a Deusa presida a pulsação vital constante do Universo, é imprescindível que entendamos o papel do Deus. Ela é a Senhora da Vida, mas Ele é o Portador da Luz; Ela é o ventre, Ele o falo ereto; Ela gera a vida, Ele é a faísca que inicia o processo, em plena harmonia, sem predomínios nem competições, mas pela completa união... Ambos parceiros no desenrolar da música e dança que criam e recriam o universo ainda hoje... Na Primavera Ela é a Donzela, Ele o Deus Azul do Amor... No verão ela é a Mãe, grávida, ele o Galhudo, o Deus da Vegetação e dos Animais, Cernunos... No outono ele desce para o Mundo Subterrâneo, como o Deus Negro do Mundo Inferior, do sacrifício e da Morte e Ela a Anciã que abre os portais e o acolhe durante sua transmutação. No inverno ele renasce do próprio ventre escuro da Deusa, que quase torna, assim, a um só tempo, sua consorte e sua mãe...

28 outubro, 2006

Espiral do Renascimento


A Bruxaria ensina que a reencarnação é o instrumento pela qual nossas almas são aperfeiçoadas. Uma vida não basta para atingir tal objetivo; a consciência (além) renasce inúmeras vezes, cada dia englobando um grupo diferente de ligações, até que a perfeição seja atingida.
A cobiça, a ira, os ciúmes, a obsessão e todos as nossas emoções negativas inibem nosso crescimento.
A alma não tem idade, sexo ou físico, possuindo a centelha divina do Deus e da Deusa.
Nós é que decidimos o desenrolar de nossas vidas. Não há deus maldição, força misteriosa ou destino sobre o qual possamos atirar a responsabilidade pelos fatos de nossas vidas. Nunca jogue a culpa no carma.

O carma não é um sistema de recompensas e punições, mas sim um sistema de orientar a alma em direção a ações evolutivas. Se uma pessoa prática ações negativas, receberá ações negativas em troca. O bem atrai o bem. Não há como "apagar o carma, assim como nem todos os eventos aparentemente terríveis de nossas vidas são um subproduto do carma.
A regressão a vidas passadas pode ser perigosa, pois envolve uma grande carga de autodesilusão. Se não deseja conhecer sua vida passada, ou não tem como fazê-lo, observe esta existência. Pode descobrir qualquer dado relevante sobre suas vidas passadas ao observar esta vida. Se sofrer, seus problemas em vidas passadas, estes não lhe dizem respeito. Caso contrário, os mesmo problemas ressurgirão, por isso concentre-se nessa vida.
Dizem que a alma quando morremos viaja para um reino conhecido como Terra do Verão (nomenclatura teosófica). Este reino não é nem paraíso nem submundo. Simplesmente é uma realidade não-física, muito menos densa do que a nossa.

O que ocorre após a ultima encarnação?



Dizem que após subir a espiral da vida, morte e renascimento, as almas que atingem a perfeição liberam-se para sempre desse ciclo e coabitam a Deusa e o Deus.
A morte é vista como a porta para o nascimento. Ela não é o fim; é um estágio do ciclo que conduz ao renascimento. Após a morte, é dito que a alma descansa na "Terra do Verão", onde ela é revigorada rejuvenesce e é preparada para renascer. O renascimento não é considerado eterna condenação, sombrio ciclo de sofrimento, como em algumas religiões orientais. Pelo contrário, é visto como uma dádiva da Deusa, que está presente no mundo físico. A vida e o universo não se encontram separados da deidade, eles são a divindade imanente.


As Luas do Ano

Janeiro / A Lua dos Antepassados
O contato com os antepassados é parte essencial na vida de uma bruxa. Amorosos e sempre prontos a nos ajudar, nossos ancestrais mortos se dispõe a atender a nossos pedidos e nos dão força nos momentos difíceis. O primeiro passo para você assegurar a comunicação com seus antepassados que habitam outros planos é lembra-se deles - mesmo daqueles que nunca conheceu. Assim, dedique o mês de janeiro às recordações. Pense nas crianças que morreram antes de se tornar adultas ou menos antes de nascer. Folheie antigos álbuns de família, olhe os retratos dos parentes que já fizeram a viagem para os planos espirituais. Relembre também os amigos que se perderam nessa caminhada. Para homenagear esses mortos queridos, coloque lugares extras à mesa, como se eles fossem seus convidados. Prepare e coma deliciosos doces e chocolates em memória das crianças e faça alguns dos pratos favoritos dessas pessoas falecidas. E nunca pense nos seus mortos com tristeza, pois se eles perceberem que você está triste também ficarão infelizes. Numa noite de Lua Cheia desse mês, encha uma vasilha de vidro com água e jogue uma pequena pedra dentro dela. Observe atentamente a água e concentre-se. Depois de algum tempo de meditação, você receberá uma mensagem, que poderá vir na forma de um pensamento ou mesmo pelo som de uma voz distante. Não tenha medo: é um antepassado se comunicando com você.

Fevereiro / A Lua da Busca do Conhecimento
Em sua grande maioria, as bruxas do passado foram mulheres do povo, que não tiveram acesso a uma educação formal, mas contaram com os benefícios de uma sabedoria ancestral e uma intuição aguçadíssima. Hoje, que podemos nos aventurar pelas sendas dos conhecimentos antes reservados aos homens, temos o dever de aproveitar essa oportunidade para aprimorar nossa cultura. Em fevereiro, a Lua da Busca do Conhecimento favorece o estudo. É o momento de você ler e adquirir novas informações, ampliando seus horizontes. É assim que você vai cumprir um dever para com suas antepassadas bruxas, que sofreram por não poderem penetrar num mundo praticamente exclusivo dos homens. Em todas as noites de fevereiro, prepare um chá com folhas frescas de Artemísia (de preferência, plantadas e colhidas por você mesma), erva que estimula o intelecto e favorece o aprendizado. Enquanto saboreia o chá, dedique-se à leitura ou ao estudo. Dê preferência às obras de filosofia, aos poemas e aos clássicos da literatura. Mesmo que, no começo, o desafio pareça grande demais, insista. Invoque a poderosa deusa Atena, senhora do conhecimento, para que ela ajude você nesse aprendizado. Aos poucos, sua mente se tornará mais ágil e você começará a aprender com muito mais facilidade. Se você necessita de um estudo mais específico, orientado para um objetivo determinado - algo ligado ao seu trabalho, por exemplo, aproveite o mês de fevereiro para colocar esse projeto em prática e mergulhar nos livros.

Março / A Lua do Olho Interior
O dom de enxergar além das aparências é inerente a todas as bruxas. Em março, na Lua do Olho Interior, você poderá trabalhar sua capacidade de enxergar as verdades que estão ocultas. Para que essa sensibilidade se manifeste, porém, você precisará aperfeiçoar sua relação com o mundo. Diariamente, exercite esse dom de "observar" o universo:
1. Ao acordar, dirija-se à janela e olhe o dia. Perceba como está o tempo. Chove? Faz Sol? Olhe bem para o céu.
2. Ao tomar o café da manhã, "sinta" o sabor dos alimentos. Comente com os outros o que você está sentindo.
3. Ao sair de casa, observe atentamente o caminho, parando sempre que alguma coisa chamar sua atenção.
4. Cumprimente gentilmente todas as pessoas que passarem por você, mesmo aquelas a quem não conhece.
5. Ao encontrar um amigo, converse com ele e diga o quanto está feliz por vê-lo.
6. Dê atenção a todos animais que encontrar.
7. Ao entardecer, suspenda suas atividades e observe o dia que termina. Perceba as cores, os sons, os cheiros, os movimentos da natureza.
8. Ao jantar, converse com os outros sobre os acontecimentos do dia e agradeça pelo alimento que agora você come.
9. Antes de dormir, "converse" com a noite e diga-lhe que você deseja ampliar sua visão interior.

Abril / A Lua das Vozes do Mundo
Agora que você já começou a desenvolver a sua sensibilidade e o dom de enxergar além das aparências, chegou o momento de aprender a lidar com as informações recebidas por meio da intuição. É a hora de ouvir as "vozes do mundo". Esse processo pode ser um pouco doloroso, pois nem sempre ouvimos aquilo que nos agrada. Mas a verdadeira sabedoria está em lidar serenamente com as adversidades que se apresentam, com plena consciência de que elas vão ser superadas no momento certo. Para entrar em sintonia com essa Lua, trabalhe sua tranqüilidade interior. Ao longo de todo mês consuma chás, verduras e temperos calmantes, à base de melissa, erva-cidreira, camomila, manjericão, alface ou folhas de maracujá. E abra seu coração para este momento, sem qualquer temor: aprendemos com as dificuldades, quando se manifestam coisas boas, sentimos uma deliciosa felicidade.

Maio / Lua de Contar Histórias
O conhecimento das bruxas é transmitido oralmente. Uma bruxa passa para a outra aquilo que ela sabe, sem necessidade de "aulas" ou qualquer sistema formal de ensino. A arte de contar histórias é um dom que deve ser exercitado durante a Lua de maio.
Nessa época, escolha uma pessoa de quem você gosta para ensinar a ela tudo o que você sabe. Mesmo que ainda esteja dando seus primeiros passos na feitiçaria, você perceberá que tem muito conhecimento valioso. Não se trata de ensinar simpatias ou encantamentos. Vale passar as receitas dos pratos que você sabe preparar melhor, ensinar a fazer um bordado, dar uma explicação sobre matemática. Mas o mais importante, nessa Lua, é passar adiante as histórias de família. Sabe aquelas coisas que ouvimos sobre nossos ancestrais, os casos de avós e tios? Tudo isso tem um poder muito grande. Conte essas histórias para as crianças da sua família, para que elas também conheçam o passado que pertence a todos. Ler as histórias de bruxas antigas e contá-las aos outros é uma boa opção, pois a tradição diz que, enquanto as bruxas forem lembradas, elas serão imortais. Durante esse mês, peça para a Mãe Lua brindar você com o dom da palavra e da sabedoria. E não esqueça de ouvir as valiosas lições que as pessoas mais velhas têm para ensinar.

Junho / A Lua dos Labirintos
Chegou o momento de você lidar com tosas as suas facetas. Em vez de ficar cobrando de si mesma "coerência" ou "lógica", aceite que você é um ser humano de múltiplos aspectos, alguns contraditórios. Dentro de você moram todas as deusas. Procure harmonizar-se com a vaidosa Afrodite, a maternal Deméter e a ousada Ártemis. Experimente com o máximo de intensidade cada uma dessas qualidades que habitam seu ser.
Para se integrar com Afrodite, aguarde a fase cheia da Lua e prepare uma infusão com pétalas de rosa cor-de-rosa. Tome esse banho mágico ao anoitecer e mire-se nua no espelho. Admire cada curva do seu corpo e faça uma automassagem, sentindo a suavidade da sua pele. Passe seu perfume favorito e se vista com uma roupa bem bonita, acompanhada de adornos delicados. A maternal Deméter pode ser invocada por meio de fazeres domésticos. Prepare um bolo de chocolate bem gostoso e bonito, enquanto "conversa" com a deusa, que lhe trará harmonia familiar e paz doméstica. A ousadia de Ártemis pode se obtida por meio da integração com a natureza. Busque um contato maior com as plantas e os animais. Afinal, ela é a deusa da caça, e sabe que a natureza só dá aquilo que merecemos - se você respeitá-la, a deusa certamente saberá retribuir.

Julho / A Lua das SereiasA Lua de julho nos convida a despertar para a beleza e a sensualidade. Ouça o canto da sereia que a convida a penetrar nos mistérios de Afrodite, a deusa da arte, do amor e da manifestação da beleza em todas as suas formas. Para entrar em contato com a deusa, recolha na praia um punhado de conchas do mar e água de rosas. Consiga um espelho de tamanho regular, oval e com cabo. Lave-o co água de rosas e deixe-o secar naturalmente. Quando o espelho estiver seco, comece a colar as conchas em volta dele, até preencher todo o seu contorno. À noite, coloque-o para tomar o sereno da Lua e só o retire ao amanhecer. Sempre que quiser entrar em contato com a deusa, recite o seguinte encantamento: Carne, mármore, flor, Vênus, em ti eu creio. Essas palavras mágicas foram retiradas de um dos poemas do francês Arthur Rimbauld. Ao recitá-las, você estará brindando a deusa com aquilo de que ela mais gosta - beleza e arte.
 Agosto / A Lua da Loba
A mulher que é bruxa tem que saber lidar com o amadurecimento e com a velhice. Mesmo você que seja uma adolescente, pensar na maturidade é um desafio importante, que precisa ser encarado na Lua da Loba, você vai aprender a reconhecer a força da mulher madura. Procure passar mais tempo na companhia de mulheres que você admira. Pode ser na companhia de sua mãe, uma amiga, uma professora, uma tia ou de sua avó. Não importa. Basta que seja uma mulher forte, de personalidade marcante, mas ao mesmo tempo bondosa, e que tenha mais de 50 anos. Olhe bem para essa mulher e reconheça nela as qualidades da Lua. A intuição, o amor, a inteligência que reluz nos olhos de todas as filhas da Deusa. Pense em Diana, a senhora da caça que supera todos os obstáculos com firmeza. Banhar-se com uma infusão de alfazema e mil-folhas, ervas que trazem força, vai ajudá-la a entrar em sintonia com a energia sutil da Lua da Loba.

Setembro / A Lua da Risada de Afrodite
A poderosa Afrodite vem nos cobrar quando fazemos mal uso do nosso corpo. Temperamental, ela afasta das mulheres que se prendem a relacionamentos insatisfatórios, baseados na hipocrisia e na falsidade, ou que se tornam escravas dos padrões convencionais de beleza e amor exigidos pela sociedade.
Para fazer as pazes com Afrodite, realize um feitiço de amor. No primeiro dia de Lua nova de setembro, despeje seu perfume favorito num caldeirão e coloque-o para ferver em fogo baixo. Quando o perfume estiver bem aquecido, apague o fogo e adicione 1/2 colher de chá de pólen de lírio, 1/2 colher de chá de canela em pó, 3 gotas de orvalho colhido de uma roseira, 1 gota de seu próprio sangue e 1 pêlo de uma gata negra (não arranque do animal: pegue um pêlo que tenha caído naturalmente). Então recite o encantamento: Afrodite, senhora das seduções, aquela que ao homem dá o ardor, me traz o calor das paixões e faz de mim um templo de amor! Guarde tudo num vidro e deixe-o ao ar livre. Recolha o vidro na manhã seguinte, antes do nascer do Sol. Use essa poção quando você quiser seduzir alguém que mereça o seu amor. Se usar esse feitiço de maneira leviana, poderá cair no desagrado da deusa.

Outubro / A Lua da Cura
Curar-se não é apenas se livrar de uma doença. É também entrar em harmonia com seu corpo, com seus órgãos, com seu ritmo, e conservar seu organismo em equilíbrio.
O primeiro passo é o controle da respiração. Inspire e expire consciente dos seus movimentos, da entrada e saída de ar dos pulmões. Todas as noites, antes de dormir, procure visualizar seus órgãos internos. Imagine seu coração batendo, o estômago em movimentos suaves para realizar a digestão, o fígado filtrando o que é bom para seu organismo. Evite comer coisas que fazem mal, abstenha-se das bebidas alcoólicas e modere quaisquer tendências a exageros. Com o tempo você vai perceber que é possível "ouvir” seu organismo, e dificilmente será vítima de uma doença inesperada. Comer uma folha fresca de sálvia todos os dias também vai ajudá-la a manter a saúde em ordem. E, para se prevenir contra contágios, faça um amuleto com um dente de alho, uma folha seca de sálvia, uma pedrinha de cânfora e nove cravos-da-índia. Carregue-o preso à roupa com um alfinete, para tê-lo sempre junto com o corpo.

Novembro / A Lua dos Sonhos
Sonhar é receber mensagens. Sonhar é encontrar respostas. Sonhar é conversar com amigos de outros planos. Assim é o sonhar da bruxa: não um desligamento da realidade. Mas uma entrada num plano superior. A verdadeira bruxa aprende a controlar seus sonhos e a realizar viagens astrais, sendo capaz de visitar, em espírito, lugares distantes e desconhecidos.
Para despertar esse dom de sonhar, durma com um caroço de ameixa na mão esquerda. Assim, você ativará sua intuição e se tornará mais consciente do real significado dos seus sonhos. Procure, ainda, ao acordar, anotar o que você sonhou na noite anterior. Desse modo, você vai aprender a dar atenção aos seus sonhos e será capaz de interpretá-los Corretamente.
E a Lua dos Sonhos também ensina a não temer o contato com outras dimensões. É natural que você fique insegura e sinta-se impelida a fugir do desconhecido. Reaja e assuma a plenitude de seu poder!

Dezembro / A Lua de Contar as BênçãosAo chegar na décima-segunda Lua. Você vai enumerar todas as coisas boas que lhe aconteceram no decorrer do ano. Examine sua vida e verifique os efeitos de todos os rituais realizados. Veja se você alcançou seu objetivo de se tornar uma mulher mais completa. Lembre-se de que uma mulher-lua está integrada à natureza, ama as plantas e os animais, respeita seus semelhantes e convive em harmonia com todos que a cercam. Se você estiver assim, feliz, bonita e satisfeita, é sinal de que seu trabalho foi bem-sucedido. Se ainda não chegou ao ponto desejado, insista, pois a magia requer paciência. E, no último dia do ano, agradeça à Mãe Lua, olhando para ela e recitando palavras de gratidão e amor. Agora, você e a Lua são únicas: mãe e filha, irmãs, namoradas, companheiras, cúmplices de feitiços e momentos de magia. Sinta essa força e nunca desista da sua caminhada!

27 outubro, 2006

Esbats



Além dos oitos Sabás, os povos celtas celebravam também os Esbats, ou seja, as treze luas cheias ao longo do ano solar.
A lua cheia foi venerada durante milênios por grupos de homens e mulheres, reunidos nos bosques, nas montanhas ou na beira da água, como a manifestação visível do princípio cósmico feminino, na forma das deusas lunares ou da Vovó Lua.
Com o advento das religiões patriarcais, houve uma divisão na vida religiosa familiar.
Os homens passaram a reverenciar os deuses – solares e guerreiros -, enquanto que as mulheres continuavam se reunindo para celebrar a lua cheia e honrar a Grande Mãe.
A cristianização forçada e, principalmente, as perseguições dos “caçadores de bruxas” durante os oito séculos de Inquisição, procuraram erradicar a “adoração pagã da Lua” e os Esbats foram considerados orgias de bruxas e manifestações do demônio.
A palavra Esbat deriva do verbo esbattre, em francês arcaico, significando “alegrar-se”, pois essas celebrações não eram tão solenes como os Sabás, proporcionando, além dos trabalhos mágicos, uma atmosfera jovial.

Há também uma semelhança com a palavra “estrus” – o ciclo lunar de fertilidade -, reforçando a idéia da repetição mensal dessas comemorações.
Durante os Esbats, reverencia-se as forças vitais criativa, geradoras e sustentadoras do universo, manifestada como a Grande Mãe.

À noite de lua cheia ou o plenilúnio, é o auge do poder da Deusa, sendo o momento adequado para rituais de cura e trabalhos mágicos.
Usam-se altares – simples ou elaborados – com os símbolos da Deusa e acrescentam-se os elementos específicos da lunação.
Alem dos rituais, há cantos, danças, contam-se histórias e fazem-se meditações.
No final, comemora-se repartindo pão ou bolo e bebendo-se vinho, suco ou chá, brindando à Lua e ofertando um pouco à natureza em sinal de gratidão à Mãe Terra.
O pão sempre simbolizou o alimento tirado da terra, enquanto que o vinho favorecia a atmosfera de alegria e descontração.
Atualmente, os plenilúnios são comemorados não somente pelos grupos estruturados da tradição Wicca (os “covens”), neopagã ou xamânica, mas também por grupos de mulheres ou pelos “solitários”. A Deusa está cada vez mais presente na vida e na alma das mulheres, os raios prateados da Lua realçando suas múltiplas faces.
Na Antiga Tradição, nas reuniões praticadas por “covens” ou individualmente, o ponto máximo do Esbat é o ritual de “Puxar a Lua”, ou seja, imantar uma sacerdotisa ou mulher com a energia da Deusa.

O objetivo desse ritual é triplo: primeiro, procura-se a união com a Deusa para compreender melhor seu mistério; segundo busca-se imantar o espaço sagrado com a energia mágica da Deusa e, em terceiro lugar, objetiva-se o equilíbrio dos ritmos lunares das mulheres e o aumento da fertilidade, física e mental.
Para atrair a energia da Lua, usa-se o punhal ritualístico (“athame”) ou um bastão consagrado, direcionando-o para um cálice com água. Invoca-se a Deusa e expõe-se seu pedido ou, simplesmente, entra-se em contato com sua essência, deixando-a penetrar em todo seu ser.
Fundir-se com a energia da Deusa é um ato de realização espiritual e jamais deve ser usado com fins egoístas, forjando mensagens ou avisos “recebidos” durante o ritual.
Quando o propósito é sincero e o coração puro, a experiência é sublime e comovente. Após um tempo de interiorização e contemplação, tornam-se alguns goles da água “lunarizada” e despeja-se o resto sobre a terra, para “fertilizá-la”.
Como em outros rituais, os Esbats devem ser feitos após invocarem-se os Guardiões das direções e os elementos correspondentes, criando-se o círculo mágico.
Além desse ritual tradicional e formal, pode-se celebrar o plenilúnio de forma mais complexa e criativa, usando-se os conhecimentos astrológicos da polaridade Sol-Lua.

Durante a lua cheia, a Lua se encontra no signo oposto ao do Sol, estabelecendo-se, assim, um eixo de complementação.
Em certos grupos mistos, trabalha-se a polaridade Sol-Lua reverenciando-se os casais divinos, representados por deuses solares e deusas lunares, escolhidos conforme as características astrológicas e espirituais do mês.

Sabás



O calendário possui 13 celebrações da Lua Cheia e 8 Sabás (que quer dizer o sétimo dia).
Quatro dos Sabás são associado a agricultura e ao ciclo reprodutor dos animais. 
São eles o Lughnasadh, Samhaim, Imbolc e Beltane. 
Os Sabás são rituais solares, assinalando pontos do ciclo anual do Sol, e constituem, apenas metade do ano ritual. 
Os Esbath são as celebrações da Lua Cheia.
Os Sabás são baseados no Sol são mais normalmente celebrados ao meio-dia ou na aurora, mais hoje isso é raro, muitos celebram a noite.
Apaixonado, o Deus mudando de forma e mudando de rosto, busca sempre a Deusa. Neste mundo, a procura e a busca surgem na Roda do Ano.
Ela é a Grande Mãe que dá luz a ele como a Divina criança do Sol, no solstício de inverno. 
Na primavera ele é semeador e a semente que germina com a luz crescente, verde como os novos brotos. 
Ela é a iniciadora que ensina a ele os mistérios. 
Ele é o jovem touro; ela é a ninfa sedutora. 
No verão, quando a luz é mais dourada, unem-se e a força da sua paixão sustenta o mundo. 
Mas a face do Deus escurece á medida que o Sol enfraquece, até que, finalmente, quando o grão é colhido ele também se sacrifica a fim de que todos possam ser nutridos. 
Ela é ceifeira, o túmulo da terra ao quais todos devem retornar. 
Durante as longas noites e dias que escurecem, ele dorme em seu ventre; em seus sonhos, ele é o senhor da morte que rege a Terra da Juventude, além dos portais da noite e do dia. 
Sua sepultura escura torna-se o útero do renascimento, pois no meio do inverno ela dá, novamente à luz a ele. 
O ciclo termina e começa outra vez e a Roda do Ano gira, ininterruptamente.
Muitos fazem confusão por causa dos Sabás, porque existem 2 calendários: o do norte e o do sul. Muita gente fica sem saber por qual seguir, eu sigo o calendário sul pois acho que não tem sentindo comemorar por exemplo o yule se aqui no Brasil não é inverno. Aí fica a disposição de cada um como acha que deve ser comemorado.

26 outubro, 2006

A Roda do Ano no Hemisfério Sul (Brasil)

As estações do ano aqui no hemisfério sul são invertidas, com relação ao hemisfério norte. Assim, quando lá é inverno, aqui é verão e vice-versa.
A Roda do Ano, em seu conceito original, foi criada por bruxas e bruxos que viviam no hemisfério norte. Dessa forma, é comum encontrarmos em livros e sites as datas correspondentes a esses países.
Muitos pagãos preferem não alterar o sentido original da Roda e celebrá-la de acordo com as estações no hemisfério norte, de acordo com o original. Alguns outros celebram os sabbats menores de acordo com o hemisfério sul e os maiores de acordo com o hemisfério norte. Outros, como eu, celebram a Roda pelo hemisfério sul mesmo, pois é onde estamos.
Há diversos motivos positivos e negativos para todas essas opções. Se você quiser celebrar pelo sul, então você terá a chance de acompanhar na pele o frio do inverno durante a celebração, ou o sol em seu auge no verão, a chegada da primavera, as folhas caindo no outono. No entanto, ao celebrar pelo norte, você aproveitará a época de Halloween no final de outubro mesmo, dará ovos de Páscoa para seus amigos em Ostara e por aí vai.

Trata-se de uma escolha pessoal, na verdade. Cada um escolhe a maneira de celebração de acordo com o que pede o seu coração.
Não há uma "dica" ou "fórmula" para escolher como celebrar. O mais adequado mesmo seria tentar celebrar dos dois jeitos, para ver como você se sente. De fato você sentirá no primeiro ritual que fizer, se não for à maneira com a qual você se sente melhor.
O que é muito importante é não se esquecer de que há outras pessoas celebrando também. Lembre-se da rede; da grande teia que nos envolve.

Por mais que celebremos Beltane em novembro, não podemos nos esquecer que naquela mesma época nossos amigos do hemisfério norte estão celebrando Samhaim.
E esse é um dos grandes baratos da Roda: ela não tem começo, nem meio, nem fim. Não há demarcação. Você pode entrar em qualquer ponto e já estará dançando junto com todos.
Certa vez iniciou-se uma discussão sobre esse assunto em alguma das listas de discussão que eu participo, e surgiu a pergunta:

"E as pessoas que moram na linha do Equador? Como celebram, já que as estações quase não são marcadas?".
A resposta pode ser a seguinte: de alguma maneira, você descobrirá, à medida que celebra muitas Rodas, algumas particularidades em diferentes épocas do ano. Não é sempre tudo igual. Até no sertão do Nordeste, onde temos aquela idéia constante de seca, há períodos de chuva e inundações. O ideal é você observar tais mudanças no seu ambiente e adaptá-las para a Roda do Ano.
- "Como podemos celebrar um festival de colheitas se não temos colheitas?".
De fato, não somos camponeses como eram nossos antepassados pagãos, mas quem disse que a colheita tem que ser necessariamente física e visível aos nossos olhos?
Obviamente é interessante você descobrir quais são os alimentos típicos de sua região para poder usá-los nos rituais para honrar a Terra e realizar o banquete.

Há muito que se descobrir!
E as bruxas devem ser criativas!
O sentido de colheita pode nos ser muito mais simbólico que, de fato, real.

No equinócio de outono, por exemplo, procure meditar a respeito das sementes que você plantou no outro ano, e o que você está colhendo agora.
Foi compensador? O que poderia ter sido diferente? Qual sua relação nisso tudo?
A verdade é que a Roda do Ano é sem dúvida real, mas também é riquíssima em simbolismo. Quanto mais você vai lendo sobre, observa a Natureza em todas as épocas, realiza os rituais, mais você descobre uma coisinha aqui e outra ali.

E é muito importante você anotar tudo o que está sendo desenvolvido dentro da sua mente e coração.
Celebrar pelo hemisfério sul pode ser complicado, especialmente para quem ainda é dependente financeiramente.

Tem coisas que são assim mesmo: enquanto você não tiver a sua própria casa ou o seu próprio espaço, tudo pode ser bastante difícil.
Imagine celebrar o solstício de inverno em junho. O Natal é celebrado no dia 25 de dezembro, e tem basicamente o mesmo conceito das práticas pagãs sobre o solstício de inverno (mesmo porque o Cristianismo disfarçou muitas práticas pagãs chamando-as de cristãs).

A própria árvore de Natal, com uma estrela no topo, é uma imagem clara de como as práticas pagãs sobreviveram há tantos séculos. Enfim, celebrar em junho pode ser bastante decepcionante, se você procura reunir a sua família, porque eles não vão entender muito bem o que está acontecendo (e não são todos aqueles que querem ouvir a sua explicação, infelizmente).
O mesmo ocorre com o equinócio de primavera e a tradição de pintar ovos. Se você decorar ovos em setembro e der para seus amigos, possivelmente vão tentar lhe fazer lembrar que a Páscoa é em abril.

Ossos do ofício.
Quem celebra pelo hemisfério sul deve estar preparado para esse tipo de situação. Mas, por mais que existam todos esses "probleminhas", nada disso é maior do que a sensação de acordar cedo no dia de solstício de verão e sentir o calor do sol, honrando a Natureza como uma bruxa sabe fazer. Ou ficar em silêncio no fim da madrugada de Yule, esperando a criança da promessa nascer. São sensações indescritíveis e estão ao alcance de todos nós, pois independe de situação financeira, amorosa ou psicológica para sentirmos.

A Natureza é o que é, sempre, e está aí para todos.